Bruxelas rejeita que UE esteja a ficar para trás na corrida ao 5G
O vice-presidente da Comissão Europeia, Andrus Ansip, garante que a União Europeia (UE) não está a perder a corrida ao 5G. Quanto à Huawei, há riscos, mas rejeita estar sob influência dos EUA.
A União Europeia (UE) rejeitou estar atrás na corrida tecnológica das redes de quinta geração móvel (5G), sublinhando ter “um ambiente propício ao investimento” nestas infraestruturas, apesar dos avanços da Coreia do Sul e dos Estados Unidos. Em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o vice-presidente da Comissão Europeia Andrus Ansip, responsável pela área do Mercado Único Digital, vincou que “a UE não está, de forma alguma, atrás” dos outros participantes nesta corrida, apesar de o 5G já ser uma realidade na Coreia do Sul e nos Estados Unidos desde quarta-feira.
“Há vários projetos-piloto em curso, lançámos o nosso novo código de telecomunicações [para permitir esta tecnologia] e acho que está criado um ambiente propício ao investimento para, muito em breve, a UE também disponibilizar as suas redes 5G”, referiu o responsável do executivo comunitário.
A Coreia do Sul antecipou-se e lançou as redes de 5G horas antes do previsto, garantindo que é o primeiro país do mundo a disponibilizá-las, antes dos EUA. Inicialmente previsto para sexta-feira, o lançamento das redes 5G na Coreia do Sul – através das operadoras de telecomunicações nacionais KT Corporation, a SK Telecom e a LG Uplus – acabou por acontecer na quarta-feira à noite, horas antes de a companhia norte-americana Verizon ligar a sua infraestrutura, ainda limitada, nas cidades de Minneapolis e Chicago.
Porém, as redes sul-coreanas apenas estiveram disponíveis, nestes dias, a algumas personalidades do país, sendo que os restantes clientes residentes na capital da Coreia do Sul, Seul, ou noutras grandes cidades se podem registar a partir desta sexta-feira. O objetivo das empresas KT Corporation, SK Telecom e LG Uplus é disponibilizar 5G em 85 cidades do país até ao final do ano.
Nos Estados Unidos, a operadora Verizon anunciou na quarta-feira que iria ligar a sua rede 5G em áreas selecionadas de Mineápolis e Chicago, uma semana antes do previsto, mas estas infraestruturas estão, para já, apenas acessíveis com o ‘smartphone’ Moto Z3 da norte-americana Motorola, cujo sistema operativo é compatível com a nova infraestrutura.
Além dos países asiáticos, como a China, nesta corrida está também a UE, com os Estados-membros a darem passos para que o 5G seja disponibilizado, de forma comercial, em pelo menos uma grande cidade por país até 2020 e para que haja uma cobertura mais abrangente até 2025. Para monitorizar o que está a ser feito em cada país, o executivo comunitário criou o Observatório Europeu para o 5G, organismo segundo o qual, em janeiro deste ano, existiam 138 projetos-piloto em curso na UE, número que está de acordo com os objetivos de Bruxelas.
Ao todo, estas iniciativas abrangem 23 Estados-membros, numa média de seis testes por país. No que toca ao espetro, os números ficam mais aquém, já que, em dezembro de 2018, apenas 6,7% tinha sido atribuído às operadoras.
“O 5G já está aí. Hoje, em todo o mundo, há notícias sobre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, com a Verizon. Eles já têm redes 5G, ainda que limitadas, e estão a disponibilizar serviços comerciais”, observou Andrus Ansip à Lusa.
Risco na Huawei? “Não estamos a ser influenciados pelos EUA”
A Comissão Europeia pediu aos Estados-membros cautela sobre dispositivos de quinta geração móvel (5G) da Huawei, pelas suspeitas de espionagem, mas recusou tomar partido dos Estados Unidos contra a China, afirmando nunca ter recebido “chamadas de Washington”.
“Nunca dissemos que temos de banir alguns fabricantes [dos mercados europeus]. O que dizemos é que temos de fazer uma avaliação dos riscos e depois, com base nessa informação, podemos dizer se a Huawei pode avançar, se banimos ou não alguns fabricantes e se temos de investir para proteger as nossas linhas de produção, a privacidade dos nossos cidadãos”, afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia Andrus Ansip à Lusa, na mesma entrevista.
Falando a propósito da polémica com a fabricante chinesa Huawei, sobre a qual recaem suspeitas de espionagem nos dispositivos 5G, o responsável do executivo comunitário pela área do Mercado Único Digital, admitiu que Bruxelas “está preocupada com as empresas chinesas” e que os Estados-membros também “devem estar”. “Gostaríamos de cooperar com aqueles que respeitem as leis nacionais e não estamos prontos para colaborar com aqueles que estão dispostos a violar as suas próprias regras”, notou Andrus Ansip.
Na semana passada, Bruxelas apresentou medidas para os países da UE adotarem na implementação do 5G, permitindo-lhes excluir empresas “por razões de segurança nacional”. Nessa recomendação, a Comissão Europeia pediu, também, que os Estados-membros façam até junho uma avaliação nacional das infraestruturas da rede 5G, analisando, desde logo, “riscos técnicos e os riscos associados ao comportamento de fornecedores ou operadores, incluindo os provenientes de países terceiros”, isto é, fora da UE. Depois, deverá ser feita uma avaliação geral dos riscos na União, até outubro, de forma a encontrar uma “abordagem comum” às ameaças.
Até ao final do ano, os Estados-membros devem chegar a acordo sobre medidas de mitigação, que podem passar por questões como requisitos de certificação, testes, monitorização, assim como a identificação de produtos ou fornecedores considerados potencialmente não seguros. Apesar desta atuação, Andrus Ansip rejeitou que a UE esteja a tomar partido dos Estados Unidos, que acusam a Huawei de espionagem industrial e outros 12 crimes e que, por isso, proibiram a utilização de produtos da marca em agências governamentais, estando ainda a pressionar outros países, como Portugal, a excluírem a empresa no desenvolvimento das redes 5G.
“Muitos chineses dizem que a UE decidiu apoiar os Estados Unidos nesta guerra comercial. Desculpem, [mas] na Europa temos os nossos interesses e as nossas preocupações e temos de proteger a segurança da nossa população e das nossas empresas”, salientou o responsável. E reforçou: “Não estamos a ser influenciados pelos Estados Unidos. E não, não recebi chamadas de Washington”.
“Temos de proteger a nossa população e as nossas empresas e não é para apoiar um em vez do outro no seu conflito”, insistiu Andrus Ansip.
O responsável indicou à Lusa que tem estado em contacto com a Huawei, tendo-se reunido em março, em Bruxelas, com o atual presidente executivo da companhia (cargo rotativo), Ken Hu, para discutir a cibersegurança e o 5G a pedido deste empresário chinês.
“A Huawei já tem outra postura agora. Nós reunimo-nos aqui, neste escritório, e disseram que entendiam totalmente as preocupações dos cidadãos europeus. Isto já é uma mudança porque no início diziam que não havia fundamentação para qualquer preocupação e agora perceberam que há grandes preocupações e comprometeram-se a ser abertos, transparentes, respeitadores dos padrões europeus”, destacou Andrus Ansip.
Segundo o responsável, este é já “um bom caminho para chegar a um consenso”.
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