“Não me recordo. Não conheci o processo. Não acompanhei o dossiê”. Assim foi a audição a mais um ex-administrador da Caixa
Rodolfo Lavrador foi administrador da Caixa Geral de Depósitos entre 2008 e 2013. Foi ouvido esta quinta-feira na comissão parlamentar de inquérito, mas pouco adiantou.
Durou cerca de três horas a audição de Rodolfo Lavrador na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e das respostas dadas pelo antigo administrador do banco público pouco ou nada sobrará para a história. E um exemplo que ilustra a “inutilidade” da audição surgiu já na parte final numa troca de argumentos entre o inquirido e deputado do PCP Paulo Sá, já cansado das respostas inconclusivas que ouviu nas horas anteriores:
– “Vou colocar questões genéricas já que não se lembra de operações concretas. Qual era a apreciação que fazia dos financiamentos de ações?“, questionou o deputado comunista.
– “Nenhuma das operações, no que diz respeito à concessão inicial, foram do meu tempo. Em abstrato é muito difícil dar opiniões sobre operações concretas. O que posso dizer é que não foi uma prática que tenha sido seguida nas administrações de que fiz parte”, respondeu Rodolfo Lavrador.
– “É muito hábil a responder. Mas se fosse ao banco pedir um empréstimo para comprar raspadinha, ficava de pé atrás?“, insistiu Paulo Sá, soltando alguns risos dos outros deputados.
– “Seguramente que não emprestaria dinheiro para fins especulativos dessa natureza“, retorquiu o antigo administrador da CGD.
Perante as perguntas dos deputados sobre os créditos dados a Joe Berardo, Manuel Fino, ou os financiamentos à La Seda e à Artlant, as respostas de Rodolfo Lavrador, que teve o pelouro jurídico entre 2008 e 2013, não variavam muito entre: “Não acompanhava o dossiê”, “Não estou em condições de responder, não conheci o processo”, “Nunca tive qualquer responsabilidade na gestão deste assunto” ou “Não me recordo desse assunto”.
“Já percebi que fez um acompanhamento da Caixa normal”, ironizou Mariana Mortágua, depois de uma nova bateria que perguntas às quais não obteve resposta suficiente. Com o microfone fechado, uma deputada do PSD atirava: “Para que serve afinal um administrador?”
Reestruturação da dívida de Berardo foi “boa decisão”
Rodolfo Lavrador não estava na administração do banco quando se decidiu concessão inicial às sociedades de Berardo (Fundação Berardo e Metalgest) para comprar ações do BCP. Mas já fazia parte da gestão quando se decidiu reestruturar a dívida. Porque não se executaram logo os títulos do banco?
“Não sou um especialista da matéria, mas foi-nos explicado que era um grande volume de ações. E a venda de um bloco de ações ia ter um significativo desconto”, respondeu o antigo administrador. Neste tema, Rodolfo Lavrador foi mais expansivo. Logo depois de ter explicado as razões para a não execução das ações, expôs os motivos que levaram a CGD a aceitar como garantia os títulos da Associação Coleção Berardo. Classificou esta decisão como “boa”, num acordo onde participaram outros dois bancos credores de Berardo: o BES e o BCP.
“Em 2011 os títulos do BCP já não tinham uma boa valorização” e que “o que se conseguiu foi um passo em frente”, disse. “Era importante haver uma posição concertada com os bancos envolvidos. Acordo quadro fortalece todos os credores. (…) Penso que a Caixa saiu numa melhor posição do que antes na perspetiva da recuperação”, considerou Rodolfo Lavrador.
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