Luís e Pedro Castro e Almeida. São irmãos e lideram bancos espanhóis em Portugal

A atividade do BBVA e do Santander em Portugal está nas mãos de dois irmão portugueses. Luís e Pedro Castro e Almeida têm uma longa ligação às instituições que lideram.

O Santander e o BBVA são grandes rivais, mas em Portugal estão ligados por laços de sangue. Pedro e Luís partilham o apelido Castro e Almeida, são irmãos, e estão ambos à frente dos destinos dos dois bancos espanhóis no mercado. No início do ano, Pedro Castro e Almeida assumiu funções como CEO do Santander Portugal, quase quatro anos depois de o irmão mais velho, Luís Castro e Almeida ser nomeado administrador-delegado do BBVA Portugal.

Coincidência? Sim, mas não necessariamente um puro acaso. Os dois CEO, para além dos laços de sangue e da mesma data de nascimento, com um ano de diferença, partilham ainda uma ligação histórica familiar à banca. “Castro e Almeida é um apelido muito forte na banca”, diz João Pedro Tavares ao ECO. O presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), organização de que foi um dos fundadores ao lado de Pedro Castro e Almeida, lembra que o pai dos dois CEO foi diretor do banco Totta e “uma pessoa de relevância entre os quadros mais antigos do Santander”. “Os filhos de alguma maneira transportam o código genético que já vem de trás”, e “têm como herança um conjunto de princípios e valores”, acrescenta.

José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), também acredita na força da herança familiar no percurso escolhido pelos dois irmãos. “Nem sempre acontece, mas nas famílias, cria-se uma dinâmica em que os filhos tendem a ficar mais familiarizados com uma determinada temática e mais tarde acabam, tendencialmente, por trabalhar no mesmo ramo. Os médicos vêm muitas vezes de famílias de médicos, acontece o mesmo com os advogados, e neste caso acredito que também tenha sido assim”, explica o representante das seguradoras que também pertence à ACEGE. Entre quatro irmão — três rapazes e uma rapariga — Luís e Pedro Castro e Almeida acabaram por ser os únicos que se deixaram prender pelo “bichinho” do setor financeiro.

Certo é que ambos contam com uma experiência de largos anos na banca, isto depois de terem feito a formação académica na área da gestão, mas em escolas diferentes. Luís estudou Gestão de Empresas no Instituto Superior de Gestão. Já Pedro escolheu o ISEG para tirar a licenciatura em Gestão.

"Nem sempre acontece, mas nas famílias, cria-se uma dinâmica em que os filhos tendem a ficar mais familiarizados com uma determinada temática e mais tarde acabam, tendencialmente, por trabalhar no mesmo ramo.”

José Galamba de Oliveira

Apenas um ano de intervalo dista entre o arranque das respetivas carreiras. Luís Castro e Almeida iniciou a atividade profissional em 1989 como analista financeiro da Société Française d’Accession à la Propriété, em Paris, onde esteve dois anos. O mesmo número de anos passou Pedro Castro e Almeida no departamento financeiro da Arthur Anderson, onde entrou em 1990.

Santander também liga os dois CEO

O nome Santander também é um elo de ligação no percurso profissional dos dois irmãos. Entre 1994 e 1997, Luís Castro e Almeida foi diretor do Banco Santander de Negócios, antes de a instituição ser incorporada pelo Santander Totta em 2010, e antes de este ir para o Mello Valores e entrar finalmente no BBVA em 2003. Começou como diretor da banca comercial, passou pela direção de promoção de negócio, e assumiu finalmente o cargo de administrador-delegado do banco espanhol em 2015, onde se encontra até à data. Ou seja, conta com uma ligação ao BBVA que já vai em cerca de 16 anos.

Uma ligação que é ainda mais percetível no percurso de Pedro Castro e Almeida, mas neste caso no Santander, para onde entrou em 1993, e se manteve ao longo de 25 anos até assumir o cargo de CEO no início deste ano.

“É uma pessoa com um coração enorme, muito responsável, com uma tranquilidade imensa — consegue gerir o stress de uma forma fenomenal –, que sabe ouvir e que nos momentos mais difíceis tem a presença de espírito para parar, pensar e tomar as decisões corretas”, diz José Galamba de Oliveira sobre Pedro Castro e Almeida, lembrando ainda que este “tem sempre uma preocupação muito grande com as pessoas, com o impacto que as decisões têm sobre elas”, mas isto sem ignorar que “está a gerir um negócio, pelo que também tem objetivos de rentabilidade”.

Características de personalidade que serão aliás partilhadas pelos dois irmãos CEO. João Pedro Tavares diz que estes “têm um conjunto de valores comum, como seja a honestidade, a criação de valor, o ser justo, a atenção ao outro, o enfoque: pessoas que promovem sempre a criação de um bem maior que vai para lá do bem financeiro“.

Valores iguais, mas estratégias diferentes na banca

À parte as semelhanças de valores e as várias coincidências no percurso académico profissional dos dois irmãos Castro e Almeida, “os seus estilos são completamente diferentes” no que respeita à gestão dos bancos que lideram, refere uma pessoa próxima de ambos.

As próprias instituições financeiras que cada um lidera em Portugal têm perfis de atuação bastantes distintos. “Podem ser bancos rivais, mas que apostaram em estratégias diferentes no mercado português”, diz precisamente João Pedro Tavares.

O BBVA foi constituído no mercado português em 1991, depois de ter integrado as operações do britânico Lloyds Bank e do espanhol Bilbao Vizacaya. Posteriormente, entre 2000 e 2002, integrou várias operações: Argentaria, Credit Lyonnais, Midas e a divisão de consumo do Banco Efisa. E quer “crescer de forma orgânica”, apesar de ter feito no passado “tentativas de aquisição de outros bancos”, refere o presidente da ACEGE, lembrando que, em termos relativos, acaba por ter uma presença mais pequena do que o Santander.

"Os dois bancos não estão a competir pelo mesmo espaço. Estão a competir em espaços diferentes e não são competidores que se cruzam permanentemente no mercado.”

João Pedro Tavares

Já no que diz respeito ao Grupo Santander, a estratégia tem como enfoque o crescimento por aquisições. Em Portugal, comprou inicialmente o grupo Totta que tinha vários bancos, mais tarde ficou com o Banif. Mais recentemente, comprou o Banco Popular, por um euro. “É um grupo de muita relevância que tem uma quota de mercado muito significativa“, salienta João Pedro Tavares. Já há algum tempo que o Santander e o BCP disputam o estatuto do maior banco privado em Portugal.

As estratégias diferenciadas do BBVA e do Santander podem eventualmente jogar a favor dos irmãos Castro e Almeida. “Os dois bancos não estão a competir pelo mesmo espaço. Estão a competir em espaços diferentes e não são competidores que se cruzam permanentemente no mercado”, diz João Pedro Tavares.

“São quadros históricos que foram crescendo dentro de cada um dos bancos e que hoje representam os valores, a história e o passado do próprio banco”, considera o presidente da ACEGE, lembrado que ambos “cresceram internamente e que, com mérito comprovado, foram assumindo responsabilidades crescentes“. “Se trocassem os dois de banco, ficariam ambos a perder“, remata.

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