Digitalização nos recursos humanos “é tudo menos tecnologia”
A transformação digital invadiu as empresas há já algum tempo e o tema dos recursos humanos não ficou de fora. Mas, aqui, continua a falar-se, sobretudo, de gestão de pessoas.
A transformação digital — considerada a quarta revolução industrial — está já a ter um grande impacto em várias áreas e a gestão de recursos humanos não é exceção. Mas, nestas funções, a revolução que se está a fazer sentir “é tudo menos tecnologia”. “Tem tudo a ver com pessoas, é a transformação de pessoas e de competências”, afirma Gonçalo Vilhena, chief information officer (CIO) da Randstad, acrescentado que a tecnologia “compra-se”, ao contrário das pessoas.
Gonçalo Vilhena falava durante o segundo encontro do Ciclo de Conversas, promovido pela Vieira de Almeida Sociedade de Advogados (VdA) em parceria com o ECO, “Business powered by Technology”, sob o tema “A gestão de recursos humanos na era digital”. Ao seu lado, debatiam, também, o tema Paula Carneiro, corporate HR director da EDP, Susana Almeida Lopes, diretora de desenvolvimento organizacional da VdA, e Pedro Ramos, diretor de recursos humanos da TAP.
Dando o exemplo da Randstad, Gonçalo Vilhena admitiu que, neste momento, um dos maiores desafios da empresa de recrutamento e seleção é garantir que não há discriminação. “Os algoritmos devem olhar para o resultados das características e criar um padrão de igualdade (seja no género ou na etnia, por exemplo) e garantir que não existir discriminação”, refere o CTO.
Para Pedro Ramos, diretor de recursos humanos da TAP, “os humanos discriminam naturalmente” e, hoje, a tecnologia pode abrir portas para “aumentar a transparência”. “Eu andei sempre à procura de pessoas que fossem iguais a mim. Estava completamente errado”, conta, acrescentando que isto é já altamente discriminatório.
"Eu andei sempre à procura de pessoas que fossem iguais a mim. Estava completamente errado.”
O diretor de recursos humanos da TAP considera que, tal como ele, “já todos percebemos que o que é preciso é diversidade cognitiva”. “É essencial ter equipas mistas e plurais”, até porque só com pessoas diferentes é que, no final de um dia de trabalho, se conseguem soluções para diferentes problemas e que potenciam a otimização do negócio, defende.
“Na EDP, estamos a fazer um processo de renovação geracional”, afirma a corporate HR director da elétrica. Atualmente, 42% da força de trabalho na elétrica são millennials, cerca de 20% os chamamos baby boomers. Paula Carneiro conta que quando entrou na empresa, os baby bommers representavam mais de 40% da força de trabalho. “Prevejo que, num ano, tenhamos 50% de millennials na força de trabalho”, acrescenta.
Mais do que a diversidade, “o verdadeiro desafio é a inclusão”
A força de trabalho na EDP é composta por diferentes gerações e nacionalidades mas, para Paula Carneiro, o verdadeiro desafio passa, agora, pela inclusão dessa diversidade. “Não chega trazer diversidade, é importante apostar na formação de enviesamento inconsciente”. Este processo traz, contudo, novos desafios. “Como contratamos muitas pessoas estrangeiras, temos os desafios do SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras], das línguas, dos vistos…”, diz Paula Carneiro.
Fernando Resina da Silva, sócio da VdA, considera, que a digitalização é um tema que tem, de facto, um impacto profundo na gestão dos recursos humanos. “Muda muito tudo aquilo que conhecemos na área da gestão de capital humano”, explica. Requalificar trabalhadores, reter talento, gerir o gap geracional e regular as novas profissões são apenas alguns dos desafios legais.
Mas a diversidade passa, também, por juntar humanos e robôs nas mesmas empresas, nas mesmas salas, a trabalhar em conjunto e esse é, talvez, um dos maiores desafios de inclusão. Susana Almeida Lopes, diretora de desenvolvimento organizacional da VdA, conta que na sociedade de advogados o que se está a tentar fazer é “ligar a psicologia à tecnologia e à engenharia”. O que está aqui em causa é uma harmonia, até porque “ninguém quer ser avaliado por uma máquina”, por exemplo.
"Ninguém quer ser avaliado por uma máquina.”
Para Pedro Ramos, é preciso perceber que “a tecnologia ajuda fortemente a que os resultados possam ser mais ágeis e mais fáceis”. E, ao mesmo tempo, não há que ter medos dos robôs, defende. Se, por um lado, o gestor de recursos humanos da TAP diz que o seu sonho era “ter um chefe robô”, por outro lado, afirma que “cada vez mais as soft skills são importantes e as pessoas são fundamentais”.
“Finalmente os filósofos vão ter emprego”
Pelo meio desta transformação digital, há postos de trabalho que vão desaparecer, nomeadamente os que têm tarefas mais rotineiras, diz Fernando Resina da Silva, “que passa a ter funções mais relevantes”. Mas, por outro lado, também há novas profissões que surgem, como os data scientists.
“Há quatro ou cinco anos não pensaríamos em contratar um data scientist, hoje temos dois”, conta o sócio da VdA. Mas mesmo profissões menos tech podem sair, agora, potenciadas. “Com os temas da ética e do compliance, finalmente, os filósofos podem vir a ter emprego”.
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