Há muito músculo debaixo do capot do Série 8
O Série 8 da década de 90 deslumbrava quando passava na estrada. O novo não lhe fica atrás. Não há faróis escondidos que se levantam quando se acendem, mas há muitos outros detalhes que brilham.
Há automóveis que nos ficam na memória pelo encanto que nos causaram da primeira vez que os vimos. Lembro-me quase como se fosse hoje quando em pequeno vi passar por mim um 850i. Comprido. Baixinho, num preto reluzente. Simplesmente brilhante.
Era novinho à data, acabado de sair do stand. E dava nas vistas como qualquer grande máquina. Aqueles faróis levantados a rasgar, o capot comprido e a traseira larga, equipada com um duplo escape de cada lado. Produzia uma sinfonia que só um valente V12 conseguia.
Fez-me sonhar com a sensação que seria conduzir aquele “bicho”. Há sonhos que não se tornam realidade… Nunca pus as mãos no volante de um Série 8 da década de 90. Acabei por só o conseguir fazer agora, depois de a BMW ter tido a brilhante ideia de relançar 8 como um grande desportivo que funciona como uma cereja no topo de toda uma gama.
O deslumbramento do original mantém-se com o novo. A lógica é a mesma: metros e metros de carro, um tejadilho que nos dá pouco acima da cintura e uma largura que abraça as faixas de um lado ao outro. Tem todas as medidas que qualquer desportivo deve ter. E aquele look agressivo também está lá.
Não há faróis escondidos que se levantam quando se acendem, mas há um par de óticas esguias que nos levam olhar para o enorme capot cujo comprimento só é interrompido pela ligeira bossa que alberga o habitáculo. Daí para trás, a linha de perfil mergulha até à traseira musculada. Quase nem se percebe bem onde acaba o tejadilho e começa o óculo traseiro.
Banda sonora (mesmo a diesel)
Todo o desenho do 8 nos diz que vamos dar um mergulho para entrar. E não engana. Os bancos em pele ao estilo backet amparam a descida até ao rés-do-chão do grande coupé — que agora ganhou um irmão sem teto, ideal para aqueles dias de sol. Dois cabem perfeitamente, mas quatro já é um desafio já que os lugares atrás não dão para dois adultos. E mesmo que se esforcem, não será um passeio simpático. Os pequenos vidros na traseira não ajudam a acalmar a sensação algo claustrofóbica.
E não ajuda aos aventureiros do banco traseiro toda a potencia que quem está ao volante consegue colocar no asfalto com um simples premir do pedal direito. Depois de carregar no Start faz o 8 respirar fundo pelos possantes escapes, há vários modos de condução à disposição. Mas com o Pack M na lista de extras incluídos, é impossível não usar o Sport Plus. Muda tudo. A resposta do acelerador, o ronco que sai da traseira, a rapidez da caixa automática, mas também a afinação da suspensão e da direção.
O 850i será, certamente, a máquina que maior sensação de potência transmitirá, mas é impressionante ver como um diesel também pode garantir uma boa dose de adrenalina. O 840d, com 320 cv, tem alma. É verdade que não nos leva as 7, quase 8 mil, rotações, mas mesmo assim mostra-se capaz de encostar todos os ocupantes ao banco. Isto ao mesmo tempo que deixa muitos dos outros condutores na estrada a ver apenas a traseira do 8.
Vitalidade a mais paga-se
O monstro diesel debaixo do capot é mesmo um… Monstro, no bom sentido da palavra. Estamos, no fim de contas, a falar de um desportivo, mas que pode e deve ser utilizado no dia-a-dia. Numa utilização mais vigorosa acaba por não ser apenas o ponteiro do velocímetro que impressiona. O computador de bordo, no ecrã gigante atrás do volante (aquele que agora também se vê no Série 3) mostra-nos números pouco agradáveis à carteira. Há consumos de dois dígitos.
No dia-a-dia, sem as loucuras do Sport Plus, o monstro mostra a outra face. Sem comprometer totalmente o espírito desportivo de um modelo que o é, conseguimos médias bem mais comedidas, embora consoantes com um motor de 3 litros. Permitem evitar tantas visitas ao posto de abastecimento, ainda que seja sempre uma boa desculpa para um passeio solitário daqueles em que as todas traseiras insistem em deslizar com mais vigor, deixando-nos sentir aquela força G lateral que tantos pelos da nuca é capaz de levantar.
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