Diretor de consumo da Huawei Portugal reconhece que a ameaça de restrição da Google teve impacto no mercado português. Ainda assim, vendas cresceram 25% no primeiro semestre.
O diretor do segmento de consumo da Huawei Portugal garante que as acusações de que aos produtos da empresa não são seguros “é uma questão mais falada em notícia” do que nas relações que a companhia mantém com os parceiros. Tiago Flores vê ainda como uma vantagem o facto de a tecnologia chinesa da Huawei estar em todo o lado, desde a infraestrutura das redes até aos telemóveis usados pelos consumidores: “Dá-nos um capital de credibilidade a nível tecnológico e mundial que nenhuma outra marca consegue fazer”, reforça.
As declarações foram feitas numa entrevista ao ECO, já depois dos desenvolvimentos do G20, no qual o Presidente Trump aceitou levantar as restrições impostas contra a empresa chinesa como sinal de boa vontade para a retoma das negociações com a China. O caso gerou confusão, não tendo ficado claro se as empresas norte-americanas vão mesmo ficar impedidas de negociar com a Huawei. Sabe-se, apenas, que serão dadas algumas licenças a várias empresas para que continuem a fornecer a tecnológica chinesa, não se sabendo, para já, quais.
Sobre este assunto, Tiago Flores fecha-se em copas: “Tipicamente não comentamos temas políticos entre as maiores potências mundiais”, atira o responsável, falando apenas em termos globais. “Obviamente que aquele tipo de notícia [sobre o retomar das negociações comerciais sino-americanas] é positiva no sentido da conjuntura internacional”, refere.
Apanhada no meio de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, a Huawei Portugal ainda levou algum tempo a reagir às restrições impostas pelas autoridades norte-americanas, que, entrando em vigor, impedirão que a Huawei continue a usar o sistema operativo Android nos telemóveis que vier a desenvolver no futuro (um autêntico murro no estômago para o negócio da companhia na Europa). Sobre a demora na reação, Tiago Flores explica que a “preocupação” da empresa era, “primeiro”, informar os consumidores “nas lojas”, porque “continuamos a ser um mercado tipicamente offline“. Só depois é que a empresa pôde “estabelecer uma informação sólida e segura” sobre a situação.
“Houve muitas dúvidas”, confessa Tiago Flores, quando questionado sobre a reação dos clientes da Huawei Portugal logo após a decisão de Trump de pôr a marca na lista negra das exportações. “A principal preocupação” foi se os telemóveis da marca iriam continuar a funcionar. “Portanto, nós claramente percebemos que havia de facto estas dúvidas, legítimas, por parte do consumidor, dado as notícias que estavam a ser passadas”, reconhece o diretor comercial da empresa em Portugal. Da parte das empresas, “a preocupação era a mesma”. Clientes empresariais que estavam a meio de um negócio de compra de equipamentos à Huawei colocaram as mesmas questões à empresa, pelo que “a mesma explicação foi usada para ambos os canais”.
Para já, a empresa mantém a intenção de continuar a usar o Android nos seus smartphones e tablets, salvo proibição dos EUA: “A nossa prioridade será sempre manter [a parceria] com a Google. Nós somos dos maiores contribuidores para o próprio desenvolvimento do Android”, sublinha. E reforça: “O nosso compromisso é manter sempre a tecnologia Android”. Caso não seja possível, é sabido que a empresa está a preparar um sistema operativo próprio. “A empresa vai com certeza continuar a querer entregar a melhor tecnologia aos consumidores. E se tiver de ser com um plano B, será com um plano B. Mas essa não é a prioridade”, aponta Tiago Flores.
Dobrável da Huawei chega este ano. E Tiago Flores também o quer em Portugal
A Huawei prepara-se para lançar o Mate X, o primeiro smartphone dobrável da marca, para concorrer com o Galaxy Fold da Samsung. Mas está difícil trazer estas novidades para o mercado: tanto a Samsung como a Huawei adiaram o lançamento dos aparelhos e, no caso da concorrente da Huawei, devido a problemas de durabilidade identificados nas unidades de teste entregues a jornalistas. Sobre isto, Tiago Flores tem muito a dizer.
“Em toda a história das indústrias, a inovação também é um risco. Nós estamos conscientes e estamos com muita confiança de que o nosso [smartphone dobrável] vai ser lançado ainda este ano”, aponta o responsável da marca chinesa em Portugal. Só não está garantido que o telemóvel fique disponível nas lojas portuguesas. “Não temos informação [sobre se chega a Portugal] porque é um telemóvel 5G. Mas tudo faremos para que seja lançado também em Portugal”, promete Tiago Flores.
Estes novos telemóveis que dobram ao meio foram apresentados no início deste ano. Caracterizam-se por terem um ecrã maior, flexível, que pode ser dobrado ao meio, como se fosse um livro. Mas os preços são bem mais elevados do que o mercado está habituado: por exemplo, o dobrável da Huawei (na foto) começa nos 2.299 euros. Sobre se há mercado para esta novidade, Tiago Flores diz: “Claro que sim”. “O mercado e o consumidor têm sido cada vez mais exigentes, não só do ponto de vista de equipamentos mais robustos no que diz respeito a hardware e software, mas também de novas formas de utilização e de consumo de conteúdos”, justifica.
“Julgamos que este ano foram apresentados os primeiros passos do que será o futuro no que diz respeito à utilização da flexibilidade de um ecrã”, frisa o responsável, que não esconde que esta tecnologia é um “breakthrough tecnológico e a nível de ecrã que é dificílimo [de produzir] e tem custos muitíssimo elevados de desenvolvimento” em comparação com os ecrãs mais comuns.
Restrições travaram o negócio. Mas a empresa diz que cresceu mesmo assim
Tiago Flores não esconde que a crise comercial teve um impacto negativo no negócio da companhia. Mas garante que, mesmo assim, as vendas da Huawei no mercado nacional tiveram um desempenho acima da média do setor: “Vamos acabar este primeiro semestre com um crescimento de cerca de 25% nas unidades vendidas em Portugal, o que representa um crescimento muito significativo face ao mercado. O mercado em Portugal é um mercado que está flat, apresentou uma tendência de estagnação”, indica.
No primeiro trimestre, a Huawei foi líder de mercado em Portugal. Dados que já tinham sido avançados pela IDC ao ECO mostravam que a empresa registou uma quota de vendas unitárias de 35%, número que representa cerca de 220.000 smartphones vendidos nos primeiros três meses do ano. Os números auditados do segundo trimestre, que permitirão avaliar o impacto da crise comercial na Huawei de uma forma mais concreta, só vão ser conhecidos a 9 de agosto.
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Compromisso “é manter Android”, mas há um plano B, diz Tiago Flores, diretor de consumo da Huawei Portugal
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