Desde o Lehman que alarmes da recessão não soavam tão alto. Dos EUA à Zona Euro, juros das dívidas derrapam
Inversão da curva de rendimentos nos EUA relançou os receios de recessão que estão a ser espelhados no mercado de dívida. Nem a perspetiva de estabilidade em Itália afastou os investidores das Bunds.
O apetite por dívida voltou a aumentar esta quarta-feira com o aumento dos receios da recessão. Em linha com o que acontece nos EUA, os juros das dívidas caem de forma generalizada na Zona Euro, incluindo em Portugal, que está cada vez mais próximo da barreira de 0%. Em Itália, as perspetivas de acordo para a formação de um novo governo também ajudaram.
O juro da dívida italiana a dez anos caiu, esta quarta-feira pela primeira vez, abaixo de 1% graças às renovadas expectativas de que seja alcançado um acordo para a formação de um novo governo, que evite a realização de eleições antecipadas no país.
O Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático estarão próximos do consenso e, segundo a Reuters, o presidente Sergio Mattarella estará prestes a aprovar uma nova coligação. O governo que for formado deverá adotar políticas orçamentais mais restritivas já que uma das principais críticas ao anterior governo, de Matteo Salvini, prendia-se com o conflito com a União Europeia no que respeita a metas orçamentais.
O otimismo sobre Itália não causou, no entanto, a venda de ativos refúgio como as Bunds alemãs. A razão para os investidores continuarem a procurar dívida do país é o receio sobre a desaceleração económica e o impacto da guerra comercial na economia global.
Por toda a Zona Euro, o mercado de obrigações segue a valorizar após a inversão da curva de rendimentos nos Estados Unidos. Os juros a pagar pela dívida a dois anos em níveis superiores à da dívida a dez anos está a agravar-se e a aumentar os receios dos investidores que uma recessão poderá estar próxima.
Nos últimos 50 anos, sempre que houve uma recessão esta inversão na curva aconteceu. Após o cenário se ter colocado na terça-feira, o diferencial entre títulos a dois e 10 anos situa-se em 6,2 pontos. O spread não estava nestes níveis desde 2007, ano que antecedeu a queda do Lehman Brothers e a recessão que se viria a sentir no mundo desenvolvido e em algumas economias emergentes.
"O rally nas obrigações dos EUA e da Europa está a continuar porque as expectativas de um acordo comercial [entre EUA e China] estão cada vez mais longe. A imprevisibilidade do conflito comercial poderá levar os investidores a incorporar no preço o pior resultado possível, até que tenham segurança que será evitado.”
A dívida a 30 anos dos EUA já tem um juro em mínimos históricos de 1,906%. E a tendência é replicada por todo o mundo: o juro dos títulos do Japão a 30 e 40 anos tocaram o valor mais baixo em três anos. Na Zona Euro, as obrigações benchmark — as Bunds alemãs a dez anos — negociam com uma yield de -0,728%, num novo recorde mínimo. A dívida da Finlândia a 30 anos entrou em terreno negativo, o que significa que toda a curva está nesta categoria.
“O rally nas obrigações dos EUA e da Europa está a continuar porque as expectativas de um acordo comercial [entre EUA e China] estão cada vez mais longe”, disse Antoine Bouvet, estratega sénior de obrigações do ING em Londres, à Reuters. “A imprevisibilidade do conflito comercial poderá levar os investidores a incorporar no preço o pior resultado possível, até que tenham segurança que será evitado”.
Além da recessão, também o Brexit sem acordo está a preocupar esta quarta-feira os investidores. Neste cenário de incerteza, não só os ativos refúgio estão a beneficiar. Com mais de 15 biliões de euros em obrigações a nível global com juros negativos, a dívida portuguesa até aos oito anos está com yields abaixo de 0% e os títulos a dez anos negoceiam em 0,087%, muito próximos do mínimo histórico de 0,08% ou dos 0,05% pedidos a Espanha.
Portugal cada vez mais perto do juro zero
Fonte: Reuters
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