Vendas de ativos por empresas chinesas além-fronteiras superam compras pela primeira vez
As empresas chinesas tornaram-se este ano, pela primeira vez, vendedoras líquidas de ativos globais. A mudança ocorre numa altura que a China cresce ao ritmo mais baixo dos últimos 30 anos.
As empresas chinesas tornaram-se este ano, pela primeira vez, vendedoras líquidas de ativos globais, depois de, na última década, terem sido das principais protagonistas em fusões e aquisições internacionais, incluindo em Portugal.
A mudança de estatuto ocorre numa altura em que o crescimento económico da China cresce ao ritmo mais baixo dos últimos trinta anos e Pequim tenta combater um ‘boom’ do endividamento corporativo, que ameaça a estabilidade financeira do país, enquanto trava uma guerra comercial com Washington.
Desde 2017, o Governo chinês aumentou também o escrutínio sobre investimentos além-fronteiras, apontando a “irracionalidade” de algumas das aquisições.
Segundo a consultora financeira Dealogic, desde o início do ano, as empresas chinesas puseram à venda cerca de 40 mil milhões de dólares (mais de 36 mil milhões de euros) em ativos no exterior.
Durante o mesmo período, os grupos chineses compraram 35 mil milhões de dólares (31,6 mil milhões de euros) em ativos além-fronteiras, tornando o país um vendedor líquido global.
Em Portugal, por exemplo, o conglomerado chinês HNA anunciou, em março passado, a venda da participação de 9% que detinha na TAP, através da Atlantic Gateway, por 55 milhões de dólares (49,6 milhões de euros).
A HNA, que detém ainda importantes participações em firmas como Hilton Hotels, Swissport ou Deutsche Bank, enfrenta uma grave crise de liquidez e está sob supervisão de um grupo de credores.
Desde o final de 2017, o grupo vendeu 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros) em ativos fora do país.
Também o grupo chinês Anbang, que foi apontado como candidato à compra do Novo Banco, deparou-se nos últimos anos com várias dificuldades. O fundador, Wu Xiaohui, foi condenado à prisão, no ano passado, e o Estado chinês acabou por assumir a gestão do grupo, forçando a venda de grande parte do seu portfólio global.
Muitos dos ativos colocados agora à venda por grupos chineses foram adquiridos em 2016, antes de Pequim ter aumentado o escrutínio sobre os investimentos.
Nesse ano, os investimentos chineses além-fronteiras atingiram um pico de 200 mil milhões de dólares (180 mil milhões de euros), contribuindo para o rápido crescimento das dívidas corporativas.
Analistas associam ainda a escalada de vendas este ano a uma escassez de divisas, devido à fraqueza na balança de pagamentos, causada em parte pelas disputas comerciais com os EUA.
Washington e Pequim aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de ambos os países, numa guerra comercial que começou há mais de um ano.
Segundo dados das alfândegas da China, em agosto, as exportações chinesas caíram 1%.O excedente comercial da China recuou, assim, para 34,8 mil milhões de dólares (31,5 mil milhões de euros), depois de, no mês passado, se ter fixado nos 45 mil milhões de dólares (40,8 mil milhões de euros).
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