Bancos antecipam “impacto negativo considerável” com juros do BCE
Os juros negativos do BCE estão a ter um "impacto negativo considerável" no negócio bancário, assume o setor. Principais bancos pedem alterações à lei para aplicar taxas negativas nos depósitos.
Os bancos portugueses assumem que os juros negativos do Banco Central Europeu (BCE) estão a ter um “impacto negativo considerável” no seu negócio bancário. Antecipam ainda que este cenário adverso não vai mudar tão cedo. Esta terça-feira os presidentes das principais instituições de crédito portuguesas pediram alteração à lei para começar a aplicar taxas negativas nos depósitos de grandes clientes institucionais.
“Os bancos participantes reportaram que nos últimos seis meses a taxa de juro negativa aplicada à facilidade permanente de depósito teve um impacto negativo considerável na sua margem financeira”, indicou o Banco de Portugal no relatório “Inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito” que foi divulgado esta terça-feira.
“O nível da taxa de juro desta facilidade contribuiu para a diminuição das taxas de juro aplicadas no crédito concedido a empresas e a particulares”, explicou o banco central.
A margem financeira corresponde ao negócio core de um banco tradicional, resultando sobretudo da diferença dos juros cobrados nos empréstimos à economia e dos juros pagos nos depósitos. Assim, com os juros negativos do BCE, os bancos pouco têm a ganhar naquilo que é a sua atividade básica de concessão de crédito e captação de poupança.
O cenário para o futuro próximo não vai mudar com os bancos perspetivarem para os próximos seis meses “um impacto semelhante na margem financeira e uma diminuição ligeiramente mais acentuada nas taxas de juro em comparação com os seis meses anteriores”, assinala o banco central.
Em setembro, o BCE desceu a taxa dos depósitos bancários de -0,40% para -0,50%, tendo introduzido um sistema de dois escalões que permitirá que uma parte do excesso de liquidez do setor não pague este juro negativo. No caso dos bancos portugueses este regime do “tiering” permitirá poupanças de cerca de 43 milhões.
“Não percebo porque é que em Portugal – e não estou a falar de particulares nem das PME, obviamente – não podemos cobrar taxas de juro aos clientes“, atirou Miguel Maya, presidente do BCP, na conferência “Banca do Futuro”, organizada pelo Jornal de Negócios.
“Não estamos a falar, de maneira nenhuma, de passar os juros negativos para os depositantes, que já estão a ser penalizadíssimos pelas baixas taxas de juro da poupança. O que estamos a falar é que há grandes operadores que andavam afastados de Portugal porque os bancos portugueses não tinham rating e agora depositam nos bancos portugueses, nomeadamente no BCP, porque nos seus países de origem se depositarem pagam e quando vêm a Portugal depositam e não pagam. Estamos a falar com os reguladores para que isso seja tido em consideração quando fazem a regulação”, revelou o presidente do BCP.
Os presidentes da Caixa Geral de Depósitos e do Novo Banco concordaram que devia haver uma harmonização da lei.
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