Bancos nacionais estão piores que os europeus? Sim
Autoridade Bancária Europeia fez um retrato ao setor financeiro europeu. Portugal saiu bem na fotografia? Nem por isso.
Rácios de capital aquém da média europeia, crédito em risco de incumprimento em alta com reduzido nível de cobertura face às perdas potenciais. É nos balanços dos bancos onde se tem procurado resolver a sustentabilidade e resistência do sistema financeiro europeu. No último retrato da Autoridade Bancária Europeia (EBA, sigla inglesa), Portugal não saiu bem na fotografia. Ainda assim, há bancos portugueses melhores do que outros. Ou numa perspetiva mais realista, há bancos piores do que outros. Como compara o sistema financeiro português com a realidade europeia?
Pecado capital
No último retrato feito ao sistema bancário europeu, com dados até 30 de junho deste ano, os bancos portugueses apresentavam maiores fragilidades de capital do que a média dos bancos europeus: enquanto a média nacional apontava para um rácio Common Equity Tier 1 (CET 1) de 11,18%, na Europa essa média era relativamente mais robusta, de 13,64%. O que nos diz este rácio?
São estes os rácios que as autoridades analisam para aferir a robustez de uma instituição num cenário de adversidade económica: comparam os capitais (valor das ações, lucros retidos) da instituição face aos ativos ponderados pelo risco (em grande medida compostos por empréstimos) para verificar se um banco se mantém de pé em caso de crise económica e financeira aguda. Quanto mais baixo estiver o rácio, mais desprotegido está o banco. No caso de Portugal, a Caixa Geral de Depósitos e o Montepio apresentavam rácios ligeiramente acima de 10%.
Basileia III estabelece que todos os bancos devem ter um rácio mínimo de 4,5% até 2019 em qualquer cenário económico. Nos últimos testes de esforço à banca, a CGD chumbou quando foi colocada na situação mais adversa, com os rácios a ficarem aquém do exigido, segundo avançou o Jornal de Negócios em setembro, adiantando que o banco público precisaria de 2.000 milhões de esforço de capital adicional para cumprir os rácios.
Alternativamente, os bancos podem melhorar a sua posição financeira através da redução dos ativos mais arriscados. Como por exemplo, a venda de carteiras de crédito malparado. O Governo está a estudar a criação de um veículo para resolver este problema como forma de aliviar o peso destes ativos tóxicos sobre os bancos.
Um caso mal parado
Há muito que está identificado o principal problema dos bancos: crédito malparado, ou o conjunto de empréstimos cujo reembolso da parte do banco é encarado como difícil (ou impossível). Em teoria, o malparado aumenta quando as condições económicas de um país se agravam: mais empresas fecham portas, há mais desemprego. Consequência? Empresas e famílias ficam em dificuldades para pagar as dívidas.
Em Portugal, o malparado da banca atingiu aproximadamente os 40 mil milhões de euros, representando pouco mais de 20% do total de crédito concedido, refletindo os últimos anos de grave crise económica no país durante o período de assistência financeira internacional. A média europeia era de 5,4%.
Entre os bancos nacionais, o BPI era quem mais se aproximava da média da banca europeia: ‘apenas’ 8,16% do crédito estava em risco. Do lado oposto, o Novo Banco registava no final do primeiro semestre um nível de malparado na ordem dos 36%, o maior nível entre os bancos portugueses. Não é estranho que seja António Ramalho, CEO do Novo Banco, um dos maiores entusiastas de uma solução conjunta para o crédito em risco de incumprimento.
A CGD apresentava o segundo nível de malparado mais baixo (16,6%) entre os bancos portugueses na análise da EBA. Mas esse valor deverá disparar neste segundo trimestre com o maior reconhecimento de empréstimos que dificilmente deverá reaver.
Imparir, imparir, imparir
Os bancos portugueses podem estar aquém da média europeia quando se fala em rácio de cobertura, isto é, a quantidade de dinheiro que os bancos têm de pôr de lado para cobrir riscos do malparado. Mas é pouco razoável comparar o nível de esforço que as instituições portuguesas tiveram de realizar para se protegerem de níveis de malparado na ordem dos 20%, quando os bancos europeus têm pela frente um nível de malparado manifestamente mais reduzido, de 5%.
De acordo com a informação prestada à EBA, os bancos portugueses tinham constituído mais de 17 mil milhões em imparidades até final de junho deste ano. Este valor cobria 41,2% do total do malparado. Na Europa, o rácio de cobertura estava nos 43,8%.
Novo Banco e CGD eram as instituições financeiras nacionais que evidenciavam maior esforço para se precaver dos créditos problemáticos. No caso do banco público, parte do dinheiro da recapitalização de 5,1 mil milhões de euros será canalizado para cobrir estes riscos, à medida que vão sendo reconhecidos maiores níveis de malparado. Já o BCP era o banco com menor grau de cobertura sobre o malparado.
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