Bancos lucram menos até setembro. Comissões ficam (quase) iguais

Banca portuguesa continua a encolher de tamanho: tem menos balcões e menos trabalhadores. E também lucraram menos nos primeiros nove meses, enquanto as receitas com comissões quase não aumentaram.

Terminou mais uma temporada de resultados para os cinco principais bancos nacionais e, da análise das contas relativas aos primeiros nove meses do ano, resulta o seguinte retrato do setor: a banca continua a encolher o número de balcões e de trabalhadores, isto apesar de o negócio com clientes (depósitos e empréstimos) manter tendência de crescimento; mas há menos lucros, embora as comissões tenham ficado estáveis e a margem financeira tenha resistido ao contexto de juros baixos. Mas cada instituição teve a sua história.

Começando pelo tema do momento: as comissões. Banco a banco, todos têm procedido a alterações no preçário este ano com vista a aumentar os rendimentos com o comissionamento bancário. Mas isto refletiu-se num crescimento significativo na receita? Nem por isso.

Os números para Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander Totta, BPI e Novo Banco indicam que as comissões aumentaram “apenas” 1,30%, totalizando 1.695,3 milhões de euros. Isto dá qualquer coisa como 6,23 milhões de euros por dia. No BPI e no Novo Banco, as receitas com comissões até caíram. No primeiro caso tem a ver com a transferência do negócio dos cartões de crédito para o acionista CaixaBank, uma operação realizada em 2018.

Quanto ganhou cada banco com comissões?

Fonte: Bancos

Uma boa notícia para o setor foi a manutenção da margem financeira — que resulta dos juros cobrados nos empréstimos e nos juros pagos nos depósitos — apesar da pressão colocada pelo ambiente de juros baixos do Banco Central Europeu (BCE). A margem financeira da banca nacional não só resistiu como engordou quase 5% para 3,38 mil milhões de euros. Dois bancos ajudam a explicar este comportamento: o BCP, onde a margem avançou mais de 9% com ajuda do negócio internacional, e o Novo Banco, onde a margem disparou 22%. Na CGD, sinal de alerta: a margem caiu 2% e o administrador financeiro do banco público avisou que vai continuar pressionada nos próximos trimestres.

Em termos de resultados líquidos, 2019 está a ser um ano de sensações mistas para os bancos. No banco público os lucros disparam 70% para 640,9 milhões de euros entre janeiro e setembro, à boleia de fatores extraordinários como a venda dos bancos em Espanha e África do Sul. Com isto, o Estado pode almejar um dividendo superior a 250 milhões – “é plausível”, disse Paulo Macedo. Foram também fatores extraordinários a condicionar os lucros do BPI, que caíram para metade este ano (253,6 milhões de euros) depois dos ganhos excecionais com a venda de vários ativos, como a Viacer (cervejas Super Bock), no ano passado.

Por outro lado, o Novo Banco voltou a ser o único banco em terreno negativo: agravou o prejuízo para 572,3 milhões de euros, com o legado do BES ainda a pesar-lhe nos ombros, nomeadamente a venda de ativos problemáticos como malparado.

No BCP e no Santander, a palavra do dia é estabilidade: os lucros aumentaram para 270,3 milhões (os melhores resultados em 12 anos, assinalou Miguel Maya) e 390,6 milhões (Pedro Castro e Almeida espera melhores resultados de sempre em 2019), respetivamente.

Feitas as contas, os cinco maiores bancos tiveram lucros de 983 milhões de euros, menos 15% face ao mesmo período de 2018. Lucraram 3,6 milhões por dia.

Novo Banco perde 570 milhões. Caixa lucra 640 milhões

Fonte: Bancos

Banca mais pequena, mas com mais negócio

Entretanto, continuam os esforços para otimizar as estruturas e adaptá-las a um novo contexto mais digital. Quer isto dizer: há menos trabalhadores na banca face a 2018. E há menos balcões. Mas isto não significa que haja menos negócio. Pelo contrário.

Todos os principais bancos fecharam agências em Portugal, mas o Santander Totta foi quem liderou os encerramentos: 118 fechos. Isto representa mais de metade dos fechos observados no último ano, em que encerraram 193 sucursais.

Ao nível de trabalhadores, o Santander Totta volta a destacar-se com 355 saídas líquidas neste período. Também a CGD prossegue a sua reestruturação acordada com Bruxelas e reduziu a sua força de trabalho em 348 funcionários. Os cinco bancos empregam agora 30 mil colaboradores nas suas atividades domésticas, menos 764 trabalhadores do que há um ano.

BCP é o único com entradas líquidas de trabalhadores

Fonte: Bancos

Embora os bancos tenham encolhido, há mais depósitos nos seus cofres e mais financiamento à economia. No BCP isto é particularmente evidente: o stock de depósitos aumentou 11% para 59,6 mil milhões de euros e o montante de empréstimos cresceu 8,7% para 52 mil milhões. Uma explicação: a aquisição na Polónia do EuroBank.

Só o Novo Banco perdeu depósitos: caíram quase 5%. CGD, Santander Totta e BPI reforçaram os seus cofres com poupanças dos portugueses. No global, os depósitos ascendem agora a mais de 210 mil milhões de euros, traduzindo um aumento de 4%.

Quanto aos empréstimos, o volume global dos cinco bancos registam um aumento ligeiro de 0,41% para cerca de 190 mil milhões de euros. Pressionou a venda de carteiras de malparado. E, no caso, da CGD, há uma redução acentuada dos empréstimos às empresas públicas, que tem procurado financiamento mais barato diretamente junto do Tesouro. O rácio de transformação situou-se nos 90%.

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