BCP: Mais-valia da Fosun encolhe 20 milhões num mês

  • Rita Atalaia
  • 20 Dezembro 2016

Foi há um mês que a Fosun entrou no BCP, beneficiando de um desconto. Mas a venda da participação de 4,1% que o Sabadell tinha no banco já levou a mais-valia dos chineses a encolher 20 milhões.

Foi há precisamente um mês que a Fosun comprou uma participação de quase 17% no BCP. Uma entrada que teve consequências para a estrutura acionista: o Sabadell, um parceiro de longa data, bateu o pé e vendeu praticamente tudo o que tinha no banco. Resultado? Em apenas um mês, a mais-valia que a Fosun obteve com a compra a desconto da posição já encolheu em 20 milhões de euros.

A Fosun comprou 16,7% do capital do banco liderado por Nuno Amado, a 20 de novembro. Uma compra feita através de uma colocação privada de ações que exigiu um investimento de cerca de 175 milhões de euros. Quando o conglomerado foi às compras, estava a ganhar mais de 22 milhões com esta aposta já que adquiriu os títulos a 1,1089 euros, um desconto face aos valores de mercado. Olhando hoje para os números, este ganho é de apenas dois milhões.

Mas o que e é que justifica este resultado? A entrada do conglomerado chinês levou o Sabadell, um acionista de longa data do BCP, a sair do capital. “Com a entrada da Fosun, só nos restava aumentar a nossa participação ou retirar-nos da corrida ao controlo do BCP”, disse uma fonte do banco espanhol à Lusa. “Como os chineses querem aumentar a sua participação, o razoável é nós reduzirmos a nossa”, acrescentou.

O Sabadell bateu a porta, sem avisar e com desconto acentuado. O banco espanhol vendeu 4,1%, ficando com apenas 0,1% do capital. Esta redução da participação levou os títulos do banco a cair mais de 12,38% para 1,1305 euros, num desempenho que retirou 125 milhões à capitalização bolsista da instituição liderada por Nuno Amado.

Os espanhóis do Sabadell eram até agora os terceiros maiores acionistas, seguidos pela EDP (2,14%) e pela Interoceânico (1,7%). Entraram no capital do BCP há 16 anos, tendo ambos os bancos tidos participações cruzadas e firmado uma parceria estratégica, estabelecendo nomeadamente um pacto de não-agressão para o mercado ibérico.

Nas sessões seguintes, as ações do BCP recuaram ao ponto de tocarem os 1,09 euros, um valor que fica abaixo do que foi pago pela Fosun de 1,1089 euros.

Venda do Sabadell arrastou ações do BCP

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Fonte: Bloomberg

Luís Marques Mendes não viu esta saída com bons olhos. “A saída do Sabadell foi deselegante”, disse o comentador da SIC. Mas Nuno Amado desvalorizou. Na assembleia-geral em que os acionistas aprovaram o aumento do limite de direitos de voto de 20% para 30%, o presidente do BCP disse que a saída do Sabadell, um parceiro histórico, “está feita” e que a “participação que eles tinham no nosso capital está colocada no mercado e, portanto, vamos pensar para a frente“.

BCP pode ficar ainda mais chinês

E no futuro do banco português pode estar o reforço das participações de empresas como a Fosun e a Sonangol. Os acionista do BCP aprovaram a desblindagem de estatutos. Portanto, os acionistas podem votar com uma participação de até 30%, e não de 20% como acontecia até agora. “Estão criadas as condições para o banco ter uma base de acionistas mais forte e de acompanharem a evolução do banco. Nesse sentido, avaliaremos as consequências desta votação”, esclarece o presidente do banco, depois de anunciada a votação, que contou com a aprovação de 99,7% dos acionistas.

A tomada de medidas necessárias será feita “rapidamente e bem, no sentido da defesa dos interesses do banco, dos seus acionistas e clientes”, acrescenta.

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Presidente do BCP, Nuno Amado

Os chineses já tinham expressado disponibilidade para aumentar a participação para até 30%. E agora é possível. “Temos os acordos que foram feitos com a Fosun e esses acordos dão-nos essa expectativa. Mas, como tudo na vida, agora temos de trabalhar nesse sentido”, explica o presidente do BCP.

Quanto à Sonangol, a empresa liderada por Isabel dos Santos tem 18% do capital do BCP mas quer ter mais de 20%. Os angolanos pediram autorização ao Banco Central Europeu, sendo que o “ok” já chegou. Assim, a petrolífera passa a poder acompanhar a Fosun até aos 30% do capital do banco liderado por Nuno Amado.

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