Sem interesse na política, Isabel dos Santos quer Sonangol a dar lucro
Isabel dos Santos diz que vai concentrar-se na atividade privada assim que as suas funções na Sonangol terminarem. Mas antes de sair quer deixar a petrolífera estatal novamente a dar lucro.
Afastando qualquer interesse em suceder ao pai, José Eduardo dos Santos, na presidência de Angola, Isabel dos Santos admitiu em entrevista ao Financial Times (acesso pago) que pretende implementar uma profunda reestruturação na Sonangol depois de anos de falta de visão estratégica para a petrolífera estatal, cujas receitas foram fortemente atingidas pela baixa dos preços do petróleo. O objetivo é tornar a Sonangol numa máquina de fazer dinheiro.
As próximas eleições angolanas deverão dar a vitória ao partido do poder, o MPLA, e ao seu candidato João Lourenço, atual ministro da Defesa, que deverá suceder a Eduardo dos Santos. Alguns analistas consideram que será a oportunidade de o partido retirar o poder à família dos Santos, uma circunstância que não será positiva quer para Isabel dos Santos quer para o seu irmão, que lidera o fundo soberano angolano.
Apesar da saída do pai da presidência angolana marcada para 2017, 37 anos depois de ter chegado ao poder, Isabel dos Santos declara que pretende continuar à frente dos destinos da Sonangol. Mas quando as suas funções na petrolífera terminarem, seja no próximo ano ou quando o seu mandato de cinco anos cessar, a empresária angolana diz que vai regressar aos seus negócios pessoais.
"Não estávamos a controlar os nossos ativos — os nossos ativos no petróleo — tanto quanto queríamos e, principalmente, faltava-nos visão estratégica. A minha visão é tornar a Sonangol muito rentável.”
Mas antes de sair, Isabel dos Santos quer deixar a Sonangol novamente na rota dos lucros. Ao diário económico britânico, a empresária assumiu que a Sonangol perdeu “o foco no seu negócio ‘core’, o petróleo”, razão pela qual a petrolífera vai ser dividida em três unidades: exploração e produção, logística e uma divisão que agregue as concessões petrolíferas às companhias estrangeiras. Já os negócios que não tenham a ver com a atividade petrolífera serão reunidos num fundo — há mais de 90 empresas e até um clube de futebol que vão integrar esta entidade.
“Não estávamos a controlar os nossos ativos — os nossos ativos no petróleo — tanto quanto queríamos e, principalmente, faltava-nos visão estratégica”, declarou Isabel dos Santos ao FT. “A minha visão é tornar a Sonangol muito rentável”, acrescentou a responsável.
Desde que Isabel dos Santos assumiu o controlo da Sonangol, a dívida da companhia estatal baixou dos 13,6 mil milhões de dólares em 2015 para os 9,8 mil milhões de dólares este ano. E a sua intenção é reduzir ainda mais o nível de endividamento, para os oito mil milhões de dólares até final do próximo ano. Pressionado pelos baixos preços do petróleo, a Sonangol viu os lucros caírem dos três mil milhões em 2013 para os 400 milhões este ano.
“Até 2021 ou 2022 esta companhia estará numa situação completamente diferente”, assume a empresária, adiantando que não vai haver lugar a pagamento de dividendos este ano (o Estado é o único acionista), enquanto tenta reequilibrar as contas da Sonangol.
“Elaboramos um plano com o Governo para explicar a situação financeira da empresa e isso foi importante para reduzir a dívida, no sentido de reforçar a capacidade para investir no futuro. Investir no desenvolvimento de novos campos petrolíferos é crítico para nós”, afirmou, considerando “doloroso” o corte que Angola terá de efetuar no âmbito do acordo com a OPEP.
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