Coopérnico. Há um novo comercializador de energia verde em Portugal, e não tem fins lucrativos
Na Europa existem mais de 1.500 cooperativas de energia renovável. Em Portugal a Coopérnico é a única. Tem 32 centrais espalhados pelo país, com uma potência instalada de 1,3 megawatts.
Chama-se Coopérnico, é uma cooperativa sem fins lucrativos que produz energia renovável descentralizada a partir de centrais fotovoltaicas instaladas nos telhados de várias empresas e organizações, e é a primeira empresa de economia social a vender energia elétrica no mercado liberalizado de eletricidade em Portugal (um universo de cerca de cinco milhões de consumidores), ao lado de gigantes como a EDP Comercial, a Endesa, a Iberdrola ou a Galp Energia, entre outras comercializadoras.
Atualmente, a cooperativa tem 32 centrais espalhados por todo o país, com uma potência instalada de 1,3 megawatts (MW) e já produz energia verde suficiente para abastecer cerca de 1000 famílias portuguesas. Fundada em 2013, a Coopérnico foi a primeira cooperativa portuguesa de energias renováveis. Hoje, sete anos depois, continua a ser caso único no país e conta com mais de 1500 membros, 937 contratos e mais de 1,6 milhões de euros de investimento direto dos cidadãos em projetos de produção de energia renovável.
Até ao final do ano a Coopérnico espera duplicar a carteira e chegar aos 2000 clientes; que cada membro tenha pelo menos um contrato; e atingir 2,4 milhões de euros, quase multiplicando por dois o investimento em renováveis.
Um dos objetivos desta primeira cooperativa portuguesa que agora se estreia na venda de eletricidade “é democratizar o setor da energia e colocar os cidadãos e os consumidores no centro do sistema”, explicou em declarações ao Capital Verde, do ECO, Nuno Brito Jorge, presidente da direção da Coopérnico, sublinhando que este modelo cooperativo se baseia na contribuição dos cidadãos para investir em projetos de geração de energia a partir de fontes renováveis e passa a integrar a partir de agora a comercialização de eletricidade para abastecer não só famílias famílias mas também pequenos negócios.
O objetivo não é ser o concorrente mais barato, mas sim o mais justo e transparente. O facto de se tratar de uma cooperativa sem fins lucrativos é desde logo um grande diferenciador. Claro que nos permite também ambicionar ter uma oferta mais competitiva
Quanto custa a eletricidade verde da Coopérnico?
A Coopérnico garante que o preço da sua energia “é competitivo e equipara-se às ofertas das principais empresas comercializadoras, segundo o simulador da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) e o tarifário apresentado pela Coopérnico“.
No site da cooperativa ficamos a saber que, para os consumidores domésticos com uma potência contratada de 3,45 kVA, o aluguer do contador custa 0,1554€/dia e, na tarifa simples, a eletricidade consumida vale 0,1499€ por kWh. Para as empresas os preços são os mesmos, acrescendo a estes valores o IVA à taxa legal em vigor (ainda nos 23%) e “outras taxas e custos obrigatórios que deverão refletir-se na composição da fatura final do cliente”.
Para o presidente da direção da Coopérnico, “o objetivo não é ser o concorrente mais barato, mas sim o mais justo e transparente. O facto de se tratar de uma cooperativa sem fins lucrativos é desde logo um grande diferenciador. Claro que nos permite também ambicionar ter uma oferta mais competitiva“, explica. Nuno Brito Jorge sublinha ainda que “os lucros serão sempre reinvestidos na Cooperativa para alimentar novos projetos de energia renovável e promover o acesso à mesma”.
De acordo com as simulações efetuadas pelo Capital Verde, do ECO, no simulador da ERSE, para um perfil-tipo que equivale ao de um casal com dois filhos e uma potência contratada de 6,9 kVA, contagem bi-horária e um consumo de cerca de 5000 kWh, num total de 241 ofertas o tarifário da Coopérnico surge como o 16º mais competitivo (1078,75 euros por ano, 89,90 euros por mês), por comparação com a fatura mais baixa do mercado (da Muon Electric, por 1023,31 euros anuais e 85,28 euros mensais).
Já face à tarifa regulada (1124,41 euros/ano), a oferta da Coopérnico para o mesmo perfil-tipo representa uma poupança de 45,66 euros em 12 meses.
A energia é toda da mesma cor?
No entanto, aplicando ao simulador da ERSE o filtro “energia 100% renovável”, pesquisa que devolve 86 tarifários disponíveis de energia verde, a Coopérnico desaparece da listagem, algo que Nuno Brito Jorge justifica com o atual sistema em vigor em Portugal, que obriga a que os comercializadores comprem garantias de origem no estrangeiro para garantir que a sua eletricidade é mesmo verde. Para ver a sua oferta de eletricidade reconhecida e listada em breve pela ERSE como 100% renovável, a Coopérnico já está a tratar de obter estas garantias de origem, embora a cooperativa preferisse, em vez disso, optar por contratos bilaterais com outras congéneres europeias de energias renováveis.
“O nosso compromisso global é produzir sempre energia renovável em quantidade igual ou superior àquela que os nossos clientes e membros consomem, mantendo assim o saldo sempre positivo. O objetivo de curto prazo é conseguirmos ter produção própria de energia renovável e só ter de ir a mercado comprar energia quando esta não for suficiente para o consumo dos nossos membros e clientes”, acrescentou por seu lado Miguel Almeida, membro da direção da Coopérnico e responsável pela unidade de negócio da comercialização.
Em Portugal não existe um sistema de certificação desde 2015, sendo que chegou a ser anunciado pelo Governo a criação em 2019 (até ao fim da anterior legislatura) de um sistema de certificados de origem que garantam que a produção de energia foi feita a partir de fontes renováveis, com adesão voluntária mas com custos para os produtores. Por enquanto, a solução passa mesmo por comprar certificados de garantia de origem emitidos noutros países. O regulador refere que só a certificação de origem e a apresentação dos respetivos certificados verdes garante ao consumidor que a eletricidade consumida foi injetada na rede por produtores que utilizaram fontes de energia renovável.
Como tornar-se cliente da eletricidade da Coopérnico?
Para fazer parte da carteira de clientes da Coopérnico, é necessário ser membro da cooperativa ou amigo de um membro, de forma a poder contribuir ativamente para este modelo de sustentabilidade. Para ser membro é necessário adquirir três títulos de capital social, no valor total de 60 euros (20 euros cada um). Com a adesão, cada membro da cooperativa pode oferecer o tarifário da Coopérnico a três amigos ou familiares.
Na lista de membros constam nomes conhecidos como Jorge Vasconcelos, antigo presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, Júlia Seixas, professora na área do Ambiente, entre outros. Além de consumirem energia limpa, os membros/clientes podem ainda investir as suas poupanças na produção de energias renováveis, protegendo o ambiente e apoiando projetos de solidariedade social.
Quanto a projetos para um futuro próximo, Nuno Brito Jorge adiantou ao Capital Verde, do ECO, que a Coopérnico pretende expandir a área de negócio em Portugal e apostar “em investimentos maiores seja na área solar ou centrais já existentes noutras fontes renováveis”.
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