Faz sentido falar em advocacia no feminino? A mãe “legal”
A falta de assistência e previdência na área da parentalidade é evidente e acredito que uma nova consciência está a nascer para que gerações vindouras não tenham de passar pelo que hoje passamos.
É um facto que as mulheres ainda têm de se esforçar muito para atingir os lugares de chefia tradicionalmente atribuídos aos homens. Chegam, mas demoram mais tempo. Desconsiderando a tradicional “luta de género” é mais importante hoje sublinhar o que nos une. E a parentalidade é uma delas. Isto leva-nos até à importância da família e da sua proteção.
É que ser advogado é, efetivamente sê-lo, não apenas uma mera profissão, antes uma condição, um estilo de vida, que quem quer que o seja verdadeiramente, compreende e aceita por inteiro!
Ser pai ou ser mãe é também uma condição para toda a vida.
E, no final somos um só, advogado e pai, advogada e mãe.
É quase como que um ecossistema em simbiose, pois um não existe sem o outro, e vice-versa!
A questão ganha relevo no mundo jurídico, essencialmente na ótica feminina, quando o tempo não se multiplica, nem se tem o dom da ubiquidade.
A maternidade das advogadas está longe de estar protegida.
Se tiver uma gravidez de risco qual a minha garantia? Se tiver um aborto espontâneo, ou mesmo provocado, o que posso fazer aos meus prazos? Acabei de ser mãe e fui notificada para um julgamento daqui a dois meses? Acabei de dar à luz e quero dedicar-me ao meu filho nos primeiros tempos, como qualquer cidadão. Existe algum seguro ou direito que me garanta um rendimento para gozar estes primeiros tempos? O meu filho ficou doente, o que faço?
As questões são muitas…Carregadas da preocupação que temos para com os clientes e de nós próprios, pais e mães, comuns seres humanos.
A falta de assistência e previdência na área da parentalidade é evidente e acredito que uma nova consciência está a nascer para que gerações vindouras não tenham de passar pelo que hoje passamos. No entanto existem outros paradigmas a atender.
Ser profissional liberal implica, per si, uma gestão autónoma, independente do nosso trabalho. Será? É possível um work life balance?
Gostaria muito de responder que sim, mas ainda não consegui! Ser advogada implica uma disponibilidade e entrega constantes, tal como ser mãe. Por isso, o que de melhor a maternidade nos traz para o trabalho é o apuramento de capacidades como a priorização e gestão do tempo. São impressionantes as ferramentas que esta abençoada condição de vida nos dá, mas isto não significa que a ponderação entre trabalho e família tenha que existir ou tenha que se definir a linha que separa uma da outra. Esse equilíbrio complicado de encontrar, é provavelmente, muitas vezes, encontrado tarde demais…
São valores e princípios que têm de ser repensados, redesenhados, não só por advogadas, por mães, mas também por todos! O mundo jurídico é cada vez mais um mundo feminino e, como tal, um mundo com mais mães, que conciliam, no melhor dos seus esforços, a maternidade e a carreira profissional.
Sou advogada há 12 anos, desde 2015 sócia fundadora da CRS Advogados, no triénio 2017-2019 fui vogal conselheira do Conselhos Regional de Lisboa da Ordem dos Advogados, em 2019 fui finalista “40 under Forty” promovidos pelos Iberian Lawyer Awards na categoria insolvências e restruturações, sou mãe de duas filhas e estou à espera do terceiro O que isso diz sobre mim? Se fosse homem era notável? Diz que sou advogada e mãe, que com calma tudo se faz, mas é um caminho longo, mais longo e mais pesado por ser mulher, mas se voltasse atrás jamais o mudava. Acima de tudo diz que acredito num futuro melhor para os advogados e as suas famílias.
*Raquel Galinha Roque é sócia da CRS Advogados.
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