Apesar dos prejuízos, Farfetch dá 40 milhões em ações aos trabalhadores
Distribuição de prémios em ações foi um dos fatores que pesou nas contas da empresa. Apesar das receitas terem subido 69%, os prejuízos mais que duplicaram. Tecnológica quer ser rentável até 2021.
A Farfetch voltou a premiar os trabalhadores com ações. Depois de, na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), a tecnológica fundada pelo português José Neves ter oferecido 40 milhões de dólares em títulos da empresa a todos os funcionários do grupo, voltou a fazê-lo. Apesar de os prejuízos terem mais de duplicado em 2019 para 373,7 milhões de dólares, a Farfetch deu mais 40 milhões de dólares em ações aos trabalhadores.
“No último trimestre fizemos share base payments no valor de 40 milhões”, explicou Luís Teixeira, chief operations officer da Farfetch, em declarações ao ECO, sobre o programa “Farfetch para Todos”, no âmbito do qual os funcionários receberam prémios de desempenho em títulos.
O relatório de contas divulgado esta quinta-feira indica que os pagamentos em ações dispararam 1.397% para 39,4 milhões de dólares, entre outubro e dezembro, face ao período homólogo. No último trimestre de 2019, o preço médio das ações em Wall Street foi de 9 dólares, ou seja, esses 40 milhões de dólares equivalem a cerca de 4,4 milhões de títulos. Mas a Farfetch — que tem atualmente 3.200 funcionários, dos quais cerca de dois mil estão em Portugal — não adiantou qual a distribuição dos títulos.
Este foi um dos fatores que pesou nas contas da empresa. Apesar de as receitas da tecnológica especializada em e-commerce de luxo terem subido 69% e ultrapassado os mil milhões de dólares, em 2019, os prejuízos mais que duplicaram para quase 373,7 milhões de dólares. “Além disso [os share-based payments], fizemos grandes aquisições no ano e tivemos de fazer amortizações”, justificou o COO.
As despesas com depreciações e amortizações dispararam 597% para 50,1 milhões de dólares em termos homólogos, principalmente devido a amortizações reconhecidas nos ativos comprados. Ao longo do ano passado, a Farfetch realizou três aquisições estratégicas: da plataforma de venda online especializada em sapatilhas e streetwear Stadium Goods (por 250 milhões), da companhia italiana New Guards (por 675 milhões) e da tecnológica focada na amplificação de marcas premium no mercado chinês CuriosityChina (num negócio cujo valor não foi divulgado).
Breakeven operacional esperado em 2021
“Tivemos um ano bastante positivo”, defende Luís Teixeira. “O número que realmente importa é o EBITDA ajustado porque é o reflexo o que são os resultados operacionais. Olhando para esse número, houve uma melhoria muito significativa e bastante superior ao esperado pelos analistas. Damos aqui um claro sinal do caminho face ao objetivo de chegar ao breakeven do EBITDA ajustado. Estamos num caminho claro para conseguir entregar valor positivo em 2021. Fazemos isto enquanto crescemos a dois dígitos no ano”.
O EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado ficou em -121,3 milhões em 2019, face aos -95,9 milhões no ano anterior. A margem passou para 13,6% no final do ano, face a 19% no período homólogo.
A meta de rentabilidade operacional está prevista para o próximo ano, sendo que o COO recusou adiantar qual o prazo previsto para lucros ou a distribuição de dividendos aos acionistas. Ainda assim, explicou que a reação dos investidores em Wall Street após a apresentação de resultados (valorizou 5% para 10,95 dólares por ação) revela que acreditam na “clara intenção para atingir a rentabilidade em 2021”.
“A nossa prioridade para os próximos anos é continuar a crescer, a captar quota de mercado, melhorar margens e reduzir custos. Continuar esta estratégia vai levar-nos ao breakeven. A forma de continuarmos a ser líderes de mercado é através de investimentos. Se não o fizéssemos, seria muito difícil”.
Quanto aos pilares que levaram ao agravamento dos prejuízos em 2019, poderão voltar a pesar, mas não tanto. Por um lado, a Farfetch não está a considerar mais compras — “Não temos aquisições planeadas neste momento. Não é relevante e estamos focados é na rentabilidade”, revelou Luís Teixeira –, mas por outro poderá voltar a distribuir ações pelos trabalhadores. “As nossas pessoas são o nosso ativo mais importante e é nossa intenção continuar a investir nelas”, acrescentou.
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