As chaminés morrem de pé, mas não para já. EDP “aborta” mega operação de derrube em Setúbal
Um “problema técnico” obrigou ao adiamento da operação de demolição das duas chaminés da Central Termoelétrica da EDP em Setúbal que estava prevista para este sábado. Nova data ainda não foi definida.
Setúbal parou, literalmente, para assistir à mega operação de derrube das duas chaminés da antiga central termoelétrica da EDP na cidade, que estava marcada para este sábado à uma da tarde. Mas após mais de uma hora de espera sem que nada acontecesse, e com o trânsito cortado pela PSP e pela GNR em pelo menos sete pontos estratégicos da cidade, a EDP decidiu suspender a operação, por razões de segurança, e adiá-la para uma nova data, ainda a definir.
“Houve aqui um problema técnico. A empresa especialista em explosivos [Maxam] que está a trabalhar connosco está a avaliar a situação, a ver qual a razão para o derrube não ter avançado. Por questões de segurança decidimos abortar por hoje e para já não temos nova data, enquanto não soubermos qual é o problema técnico“, explicou ao ECO Bruno Travassos, da EDP produção. Na base de cada chaminé estavam instalados cerca de 150 a 200 kg de explosivos, inseridos numa espécie de “cunha” cortada para forçar as estruturas verticais a tombar, à semelhança de uma árvore quando é abatida.
Somavam-se ainda várias piscinas de água em volta das duas estruturas, com mais 60 kg de explosivos, para criar um efeito de cortina no momento da detonação para conter as poeiras e detritos resultantes da mesma. O objetivo seria mitigar o impacto da explosão do ponto de vista ambiental, disse o responsável da EDP Produção.
Planeado ao longo do último ano e meio, “o derrube das chaminés da antiga é uma operação complexa e delicada. São duas obras de engenharia complexas”, reconheceu Rui Teixeira.
A operação de desmantelamento da central poluente (já encerrada já desde 2013, ao fim de 35 anos de funcionamento) teve início em 2016, com a conclusão dos trabalhos prevista até final de 2020. Para o próximo ano está prevista a requalificação ambiental dos enormes terrenos da central, para os quais estão previstos novos projetos para a produção de energia a partir de fontes renováveis, já a pensar nos novos leilões de energia solar e eólica agendados pelo Governo para este ano.
Depois destes trabalhos de demolição, que Rui Teixeira, presidente da EDP Produção, avalia em 18 milhões de euros, no total, a EDP pretende que os terrenos da antiga central termoelétrica de Setúbal possam vir a acolher um “projeto sustentável, que faça parte da transição energética” em curso.
A um quilómetro de distância da base das chaminés, no posto de operação montado no campo de futebol da freguesia de Praias do Sado, ainda foram ouvidas duas explosões, alegadamente não planeadas, mas as duas estruturas — cada uma com 11.000 toneladas de betão e 200 metros de altura, o equivalente a um prédio de cerca de 60 andares — mantiveram-se de pé, tal como têm estado nos últimos 42 anos, desde 1978, quando o primeiro grupo da central a fuelóleo entrou em funcionamento.
Nos seus tempos de glória a velhinha central da EDP consumia cerca de 5.280 toneladas de fuelóleo por dia, e durante vários anos foi fundamental para o abastecimento de energia elétrica ao país. “Teve uma contribuição muito importante para a atividade económica da região e para o abastecimento de eletricidade ao país. Chegou em alguns momentos a abastecer 25% do consumo nacional“, frisou Rui Teixeira. Até à abertura da central a carvão em Sines, em 1985, era mesmo o maior centro produtor de energia a nível nacional: 1GW de potência instalada, com quatro grupos geradores. No pico de atividade, trabalharam lá cerca de 250 pessoas, lembra a EDP.
Num discurso feito antes da decisão de suspender e adiar para nova data o derrube das chaminés, Manuel Véstias, presidente da Junta de Freguesia das Prais do Sado, confirmou que a central “foi sempre acarinhada” por ser um projeto importante na região, com a península da Mitrena a registar a maior densidade de empresas do concelho de Setúbal. Lamentou com “mágoa” a destruição dos postos de trabalho com o encerramento da central, há oito anos, mas reconheceu o efeito colateral positivo de terem ficado sem uma das maiores fontes de poluição para os habitantes da zona.
Já Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal, sublinhou que as chaminés da EDP em Setúbal marcaram o “quotidiano industrial e visual” da região. “Foram desenhadas para cumprir função precisa. Deixaram de ser vista como símbolos de progresso e desenvolvimento, de riqueza, para passarem a simbolizar a degradação ambiental que importa conter. Tal como as árvores, também as chaminés morrem de pé. Mas morrem por uma boa causa. Deixaram de fazer sentido num mundo que luta por se preservar. Saudamos a decisão do fim de vida da central de Setúbal, em prol de outras soluções energéticas mais limpas. Nos terrenos da central, que já deverão estar mais arejados no próximo ano, possam surgir novos empreendimentos que favoreçam o desenvolvimento ambientalmente sustentável. Este espaço destina-se apenas a atividades industriais”, frisou a autarca.
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