Recessão é “inevitável”. Empresas da bolsa pedem menos impostos para a retoma
A Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado está fechada. É a partir da casa de cada membro da equipa que se tenta acautelar o impacto do Covid-19 no tecido empresarial.
Abel Sequeira Ferreira, diretor executivo da AEM – Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado, conta-se entre os muitos gestores que está em casa, mas não entre os que têm falta de trabalho. Com os mercados financeiros a espelharem os receios em relação da pandemia de Covid-19, o representante das cotadas está a tentar minimizar o estrago, enquanto prepara o futuro.
“A associação está a funcionar em pleno, mantendo-se operacionais todos os meios e redes de comunicação e a equipa está motivadíssima e totalmente focada e empenhada em ajudar as sociedades emitentes em tudo o que estiver ao nosso alcance fazer para auxiliar durante esta situação sem paralelo”, conta Sequeira Ferreira.
Em entrevista para a rubrica diária do ECO chamada Gestores em teletrabalho, explica que a sede da AEM está encerrada e toda a equipa está a trabalhar em regime de trabalho remoto. Dada a natureza do trabalho e às ferramentas digitais, o diretor executivo diz que não têm sentido grandes dificuldades.
“Através das ferramentas virtuais que temos ao nosso dispor mantemos o contacto permanente com as empresas associadas e com todos os stakeholders do mercado, e realizamos os contactos necessários e reuniões, seja por videoconferência, conferência telefónica, ou circulação de documentos e troca de informação”, afirma o gestor.
“A rotina diária, naturalmente, foi muito alterada, porque esta forma de viver e de trabalhar é completamente diferente, mas isso não importa porque o tempo atual é de resiliência, entrega e empenho”, acrescenta.
Mercado tem de continuar a funcionar
Parte do trabalho da AEM nesta altura passa por acompanhar os desenvolvimentos no mercado de capitais, as sociedades emitentes em Portugal e as orientações das autoridades de supervisão ou legislativas.
A associação tem, por isso, trabalhado com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), com o Governo, com as associações europeias congéneres e outros stakeholders relevantes. Desses contactos resultou, por exemplo, a colaboração nas recomendações relativas à realização das assembleias gerais das sociedades cotadas de forma remota em contexto Covid-19.
Os mercados financeiros, como sempre, antecipam e espelham os impactos económicos das crises, e neste caso particular respondem igualmente à perceção sobre a maior ou menor consistência e velocidade das respostas dos Estados à crise pandémica.
Além disso, no âmbito da European Issuers, na qual Abel Sequeira é membro do board, mantém o contacto com a Comissão Europeia e com outras autoridades europeias. Foi nesse âmbito que escreveu ao supervisor europeu dos mercados financeiros, a ESMA, as preocupações e as recomendações mais prementes das empresas cotadas.
Menos impostos para permitir retoma do investimento
As preocupações das cotadas não são nesta altura poucas. Enquanto têm de manter negócios a funcionar, têm de continuar a cumprir deveres regulatórios (nomeadamente porque o coronavírus apanhou as empresas em época de apresentação de relatórios e contas), bem como lidar com a forte volatilidade nas bolsas e acautelar os próximos meses.
“A situação de recessão e de crise económica profunda parece inevitável. O importante é, desde já, preparar o futuro“, acredita o gestor. “Os mercados financeiros, como sempre, antecipam e espelham os impactos económicos das crises, e neste caso particular respondem igualmente à perceção sobre a maior ou menor consistência e velocidade das respostas dos Estados à crise pandémica”.
O representante dos emitentes considera que o Estado tem de ajudar, de imediato e com o maior sentido de urgência, colocar todos os recursos possíveis ao dispor das empresas, independentemente da dimensão, nomeadamente para criar todas as condições necessárias de forma a assegurar que as empresas conseguem prosseguir atividade.
Pede ao Governo que reduza custos e carga burocrática para impulsionar a retoma do investimento privado. “Este é um momento decisivo, de mudança radical, em que os Estados e os governos devem cooperar com as empresas e com o setor privado”, defende Sequeira Ferreira, apontando para a receita apresentada pelo antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.
“Porque no final, tudo visto, todas as equações e modelos para que estamos a olhar resumem-se a uma verdade bastante simples: em democracia, são as empresas privadas quem cria, criou, e criará, emprego e trabalho, e, consequentemente, riqueza e valor para a economia e para a sociedade“, acrescenta.
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