“Procura por casas está suspensa”, diz CEO da C21. Preços vão descer, mas não muito
A Century 21 tem redobrado esforços para lidar com a atual crise, que está a adiar negócios no mercado imobiliário. Ricardo Sousa antecipa uma descida de preços, mas nada substancial.
Nem o mercado imobiliário escapou aos efeitos provocados pela crise do novo coronavírus. Os profissionais do setor estão em casa, mas as empresas continuam a dar tudo para minimizar os impactos. Exemplo disso é o CEO da Century21 Portugal (C21), que está em casa há mais de um mês, uma decisão adotada pela própria empresa de forma voluntária. Ricardo Sousa passa os dias entre reuniões e a tentar fechar negócios, que estão, neste momento, em stand-by. É um dos muitos entrevistados na nova rubrica diária do ECO chamada Gestores em teletrabalho, onde falou sobre o estado atual do mercado, antecipando o futuro dos preços da habitação para as famílias.
Ricardo Sousa está em casa desde o dia 12 de março e é a partir de lá que, todos os dias, coordena cerca de 3.500 pessoas. “Na C21, de forma voluntária, passamos todos os colaboradores para teletrabalho de forma antecipada”, diz o CEO da imobiliária, ao ECO. Este processo começou simultaneamente com as equipas de Espanha. “Somos mais de 5.000 pessoas na Península Ibérica e a segurança dos nossos colaboradores é um sinal importante que devemos dar, até porque em Espanha a situação é bastante mais dramática e já estávamos mais sensíveis para esta nova realidade”.
Trabalhar a partir de casa “está a ser bastante interessante”, conta o responsável da imobiliária. “E os meus filhos agradecem”, acrescenta. No final, diz, “é necessário manter as rotinas, assim como a organização familiar” e isso mostra o que “o que é realmente importante”. Ricardo Sousa passa os dias entre conferências online e reuniões virtuais com clientes e colaboradores. O plano de contingência da C21 assenta em três pilares: segurança dos trabalhadores, estudo do que está a acontecer no mercado e investimentos necessários ao dia-a-dia. “Fizemos a transferência completa da nossa plataforma para o online”, explica o CEO, acrescentando que, para os colaboradores com mais anos de experiência, foi criado um “programa de formação específico por webinar para dar conselhos sobre como trabalhar neste cenário”, contando já com 3.600 inscrições.
No final do dia, os consultores imobiliários são os grandes heróis. Hoje tenho mais contactos olhos nos olhos com toda a minha equipa do que tinha antes nos espaços físicos.
“No final do dia, os consultores imobiliários são os grandes heróis. Hoje tenho mais contactos olhos nos olhos com toda a minha equipa do que tinha antes nos espaços físicos“, diz Ricardo Sousa. As reuniões passaram para o modo de videoconferência e, todas as sextas-feiras, há chamadas semanais com as C21 de cada país. E porque motivar as equipas é fundamental, todas as quintas-feiras, uma equipa C21 de cada país promove um concerto online — Social Distance Jam —, que pode também ser assistido por qualquer pessoa. “Para além de formar, tem de haver descontração e as pessoas têm de estar motivadas”, diz o gestor.
Sobre a possibilidade de aderir ao regime de lay-off, Ricardo Sousa rejeita essa ideia. “Estamos a fazer todos os esforços e parte da nossa estratégia é assegurar os postos de trabalho e a continuidade das nossas unidades”, diz, garantindo que “o lay-off não é uma opção que esteja em cima da mesa”.
“A maior solidariedade que uma empresa pode dar é estar quieta”
Todas as reuniões que a C21 realizava diariamente, seja com clientes ou com colaboradores, “passaram para o modo de videoconferência”. Além disso, a empresa já tinha a sua própria app e já realizava visitas virtuais a imóveis, decisões tomadas há algum tempo e que hoje se mostram “investimentos bastante acertados”, nota Ricardo Sousa. A estratégia da empresa nesta altura de crise passa ainda por dar “dicas práticas” aos clientes, como por exemplo para se adaptarem ao teletrabalho. “Se formos vistos como profissionais de confiança, conquistamos o nosso cliente, mas também os nossos colaboradores”, refere o responsável.
Apesar de reconhecer que o “fator humano” é importante nas operações das C21, Ricardo Sousa reconhece que a tecnologia “permitiu terminar março com bastante normalidade e os negócios foram concluídos através deste instrumento, das visitas e das apresentações virtuais”. Ao ECO, acrescenta ainda que os notários “estão a fazer um serviço excecional” e que todo este investimento em tecnologia permite ao cliente “acompanhar o processo de compra, fazer uma proposta de compra e fazer a assinatura digital dos contratos”.
Mesmo com todas as limitações, os impactos nas contas estão a ser sentidos. A C21 fechou março com uma quebra de cerca de 6% face a março do ano passado. Mas este é um número que, para o CEO, representa um “ajuste bastante positivo” e que mostra a capacidade de adaptação da empresa a esta crise, numa altura em que, diz Ricardo Sousa, a preocupação é a segurança de todos. “No futuro as consequências são óbvias, mas a nossa principal prioridade é a segurança dos clientes e dos colaboradores. Esse aspeto vai sobrepor-se sempre. A maior solidariedade que uma empresa pode dar é estar quieta“, nota.
Enquanto a “procura está suspensa”, assiste-se a um “adiamento dos negócios”
Nesta altura de crise, e com todos os efeitos a serem sentidos, o responsável da C21 refere que “o interesse na aquisição e no arrendamento está ativo” e que a própria imobiliária está a fazer um “trabalho de acompanhamento” para “manter os clientes informados”. Contudo, admite Ricardo Sousa, “a procura está suspensa”. Principalmente quando o comprador se trata de uma família que queira comprar casa, por exemplo. Isto porque, explica, quando “uma família quer comprar uma casa para viver, o emocional sobrepõe-se ao racional”, ou seja, há uma necessidade de visitar o imóvel, a zona, falar pessoalmente com as pessoas, etc. “Esses negócios de famílias estão a ser adiados”, nota.
Pelo contrário, “num perfil mais de investidor, não há a parte emocional”, explica o responsável, referindo que, nesses casos, estão a ser concluídas “várias transações por meio digital e visitas virtuais”, com o maior impacto a ser sentido apenas nas escrituras, que serão feitas quando terminar o estado de emergência. Mesmo assim, a C21 já escriturou “casos que começaram a terminaram no notário, em que todo o processo foi feito de forma digital”.
Analisando o cenário como um todo, a C21 está, claramente preocupada. “Seríamos irresponsáveis se não estivéssemos preocupados”, diz Ricardo Sousa, referindo que o importante é gerir a ansiedade e controlar o medo.
“Não é expectável que haja descidas de preços muito grandes”
Esta é, provavelmente, a dúvida da maioria dos portugueses quando se fala dos impactos no mercado imobiliário. A crise vai, ou não, fazer baixar os preços das casas? Ricardo Sousa diz que, por enquanto, “é difícil antecipar” e isso “vai depender de muita coisa”, especialmente do tipo de negócio e da urgência que as pessoas terão em vender um imóvel. “Vão aparecer empresas, famílias e alguns investidores com urgência em vender para fazer face às dificuldades. E vão ter de o fazer com desconto“, explica, acrescentando que essa tendência será “mais sensível na segunda residência”.
Quanto às rendas, também deverão chegar aí boas notícias. “As rendas vão ter de ajustar para muitas famílias que vão ter os rendimentos afetados. E quem está no mercado vai ser parte da população que mais necessidade vai ter de se ajustar ao valor das rendas para que as pessoas possam pagar”, antecipa o CEO da C21, referindo também que muitos imóveis que estão afetos ao Alojamento Local serão vendidos ou passarão para o arrendamento tradicional.
Portugal mudou de escala e não vai voltar para trás. Poderá haver ajustes, mas não é expectável que haja descidas de preços muito grandes.
Apesar de todas estas estimativas, o responsável faz questão de deixar um alerta. “Portugal mudou de escala e não vai voltar para trás. Poderá haver ajustes, mas não é expectável que haja descidas de preços muito grandes”, afirma, justificando que o país está bastante valorizado devido aos sucessivos investimentos que foram sendo feitos, em particular na construção nova, nos jardins e nas cidades em si. Haverá descidas ligeiras, “por causa da diminuição das transações nestes meses”, mas isso “não significa que o mercado vai desvalorizar a longo prazo”, completa.
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