FMI vê défice da Zona Euro nos 7,5% em 2020. Nos EUA será o dobro

Vem aí uma hecatombe para as contas públicas: segundo as previsões do FMI, a maioria dos países vai registar os maiores défices das últimas décadas em 2020.

Os défices orçamentais da maioria dos países vão disparar em 2020 e, com o efeito conjugado da queda do PIB, o rácio da dívida pública irá pelo mesmo caminho. É isso que mostra o Fiscal Monitor, o relatório em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) olha para as contas públicas, que foi divulgado esta quarta-feira. “A pandemia e o associado Grande Isolamento levarão a aumentos na dívida e nos défices além dos verificados na crise financeira mundial“, avisa Vítor Gaspar, diretor do departamento dos Assuntos Orçamentais, responsável pelo Fiscal Monitor, assumindo que “se prevê que o impacto no PIB e nas finanças públicas seja enorme”.

Para o ex-ministro das Finanças português “a pandemia aumentou a necessidade de ação da política orçamental para um nível sem precedentes“, mas os Governos também “têm de se certificar que mantêm as receitas”. E, mesmo sem referir a palavra austeridade, o FMI considera que “assim que as economias recuperarem, será necessário registar progressos para assegurar a sustentabilidade da dívida”.

Vamos aos números. O défice conjugado dos países da Zona Euro vai subir de 0,7% do PIB em 2019 para 7,5% este ano, superando o défice registado na crise financeira em 2010 (6,3%), que é o mais alto registado pelos países que partilham o euro. No entanto, esse valor fica abaixo da média mundial de 9,9% e dos 15,4% previstos para os EUA, o dobro da Zona Euro, o que sugere que, tal como aconteceu na anterior crise, a resposta orçamental na Europa tenderá a ser mais tímida.

Entre as maiores economias, o défice mais expressivo será o de Espanha (9,5%) e o menor será o da Alemanha (5,5%). Em França, o défice deverá ser de 9,2% e de 8,3% em Itália. No entanto, é de realçar que estes países têm todos pontos de partida diferentes: o Estado alemão acabou 2019 com um excedente orçamental de 1,4% ao passo que França registou um défice de 3%, por exemplo.

Dívida pública vai subir 22,1 pontos nos EUA

Com o PIB a cair em simultâneo à subida do défice orçamental, o rácio da dívida pública dos países da Zona Euro — que foi afetada por uma crise das dívidas soberanas em 2012 por causa deste motivo — também vai aumentar significativamente. Em média, o rácio vai passar de 84,1% do PIB para 97,4%, mais 13,3 pontos percentuais num só ano.

Mais do que no nível dos défices, é na dívida pública que existem as maiores divergências entre as maiores economias que partilham o euro. A Alemanha tinha fechado 2019 com uma dívida ligeiramente inferior a 60%, o limite imposto pelas regras europeias, e esta vai passar para 68,7% do PIB em 2020. Ainda assim, estará muito longe do patamar de Espanha (113,4%), França (115,4%) e Itália (155,5%).

Apesar dessas divergências, o nível médio de dívida pública na Zona Euro ficará em linha com o da média mundial (96,4%). Ainda assim, ficará abaixo da média das economias avançadas (122,4%), como é o caso dos Estados Unidos onde o rácio vai disparar para os 131,1% do PIB em 2020 (mais 22,1 pontos percentuais face aos 109% em 2019). Ontem o FMI previa uma recessão de 5,9% para os EUA este ano ao passo que a recessão na Zona Euro será de 7,5%.

Na China, o défice deverá atingir os 11,2% e a dívida pública os 64,9% do PIB. Na Índia, o défice deverá subir para os 7,4% — o que é um nível semelhante ao que tem registado pelo menos desde 2012 — e a dívida pública para os 74,3%.

De acordo com a contabilização feita pelo FMI, a nível mundial já há um estímulo orçamental de quase 8 biliões de dólares em resposta à pandemia: 3,3 biliões em mais despesas e menos receitas; 1,8 biliões de empréstimos do Estado e injeções de capital; e 2,7 biliões em garantas estatais.

Além das medidas discricionárias tomadas por cada Governo, o estímulo orçamental também chegará através dos chamados estabilizadores automáticos que são as ferramentas do sistema fiscal e do Estado social que têm como objetivo estabilizar o rendimento e consumo, como por exemplo o subsídio de desemprego, outros apoios sociais e a progressividade dos impostos.

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