Banca à espera de tsunami de provisões. Poderão superar 5 mil milhões com crise do coronavírus
Bancos preparam-se para "tsunami" de provisões para fazer face à subida do incumprimento dos empréstimos por parte das famílias e empresas por causa da crise do coronavírus.
Com o expectável aumento do incumprimento nos empréstimos por parte de famílias e empresas em dificuldades por causa crise do coronavírus, os bancos portugueses preparam-se para um “tsunami” de provisões para potenciais perdas no crédito que poderão ascender a mais de cinco mil milhões de euros nos próximos tempos.
Na próxima semana, os banqueiros da praça nacional deverão dar maior visibilidade sobre o desafio que enfrentam nesta crise, com o BPI a dar início à temporada de resultados trimestrais já na segunda-feira. Depois, na quinta-feira, é a vez da Caixa Geral de Depósitos (CGD) a prestar contas de um período em que a pandemia ainda pouco se fez sentir nos resultados.
Mas os sinais que vêm de fora deixam já antever o que se pode esperar. Esta terça-feira, o Santander, um dos maiores bancos europeus, estimou perdas de crédito relacionadas com o vírus no valor de 1,6 mil milhões de euros, enquanto as provisões deverão disparar para um montante recorde de 3,9 mil milhões. Na semana passada, o italiano Unicredit anunciou que a crise vai obrigar a criar provisões adicionais entre os 900 milhões e os mil milhões.
Porque usam fundos obtidos no mercado, como os depósitos de clientes, para financiar a economia, os bancos têm de constituir provisões para se acautelarem face à possibilidade de um empréstimo não ser pago. Se isso acontecer, as provisões continuarão a assegurar o dinheiro para devolver os depositantes, gerando confiança no sistema.
Este problema é mais grave numa situação de crise, pois as famílias e empresas perderão rendimentos e dificilmente conseguirão a pagar os seus créditos. É nessa medida que as instituições financeiras vão assistir a um disparo no custo do risco de crédito nos próximos meses. E isso vai obrigar a colocar dinheiro de lado para fazer face a eventuais perdas, com impacto nos lucros.
BCP e CGD os mais afetados
Em Portugal, em tempos de crise, o custo de risco de crédito ronda entre 1% e 3% da carteira de crédito, indicou o presidente do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida, na semana passada no Parlamento.
Para os cinco principais bancos do sistema, com um carteira de empréstimos no valor cerca de 194 mil milhões de euros no final de 2019, aumentos destas dimensões significam que deverão ter de constituir de provisões na entre os dois mil milhões e os 5,8 mil milhões nos próximos tempos, à medida que mais famílias e empresas vão dando maior volume ao malparado.
Com maiores quotas no mercado, CGD e BCP deverão ser os mais afetados, com as necessidades de provisões a oscilarem entre os 500 milhões e os 1,5 mil milhões. Paulo Macedo, CEO do banco público, já antecipou que as imparidades poderão ascender a mais de mil milhões. Segue-se o Santander Portugal, com provisões entre os 400 milhões e os 1,2 mil milhões. E depois o Novo Banco e o BPI, que deverão ter de provisionar entre 250 milhões e 800 milhões perante uma subida do custo de risco.
“Isto quando estamos a falar de resultados recorrentes dos bancos portugueses que, no seu somatório, não chegaram aos 1.000 milhões de euros no ano passado”, situou Castro e Almeida, dando conta do tsunami que a banca se prepara para enfrentar.
Fonte: ECO com base nos resultados dos bancos de 2019
Aumentos de capital e consolidação
O que acontecerá depois das provisões? Ter de colocar dinheiro de lado para fazer face a eventuais perdas com o crédito vai ter impacto nos resultados. Veja-se o caso do grupo Santander: os lucros afundaram 80% no primeiro trimestre para 331 milhões de euros, um desempenho penalizado pelas… provisões de 1,6 mil milhões. Caso contrário, teria registado uma subida do lucro para 1,8 mil milhões.
O Santander, apesar do elevado montante de provisões, foi capaz de gerar resultados suficientes para responder ao aumento de provisões, sacrificando os lucros e evitando outros caminhos.
Numa situação mais aguda, a crise poderá consumir os rácios de capital do banco. No Deutsche Bank já se reconhece que vai falhar os rácios regulamentares. Caso seja necessário reforçar os rácios, uma solução natural poderá passar pela realização de aumentos de capital seja através dos atuais acionistas ou com a entrada de novos investidores. A necessidade ou não de aumentos de capital vai depender das almofadas (buffers) de que os bancos dispõem.
Antevendo a dimensão da crise, Banco Central Europeu (BCE) avançou com medidas de alívio de requisitos de capital para ajudar o setor. Antecipou ainda a implementação da composição do Pillar II Requirement, o que baixa os requisitos de common equity tier 1 (CET1) e tier 1. Mas o supervisor admite que a pandemia poderá acelerar a consolidação do setor financeiro na Europa, com os bancos mais saudáveis a incorporarem os bancos mais frágeis.
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