Banco de Portugal estima que lay-off compense impacto da pandemia na liquidez das empresas
Uma simulação feita pelo Banco de Portugal prevê que, no conjunto da economia, a medida do lay-off simplificado possa compensar o impacto da pandemia na liquidez das empresas.
Olhando para o conjunto da economia portuguesa, a ajuda do Estado através da medida do lay-off simplificado deverá compensar a perda de liquidez das empresas no curto prazo na sequência da pandemia. A estimativa é feita pelo Banco de Portugal que, porém, avisa que este é um cenário plausível, mas que não deixa de ser uma simulação com base em “hipóteses simplificadoras”.
“Após a medida de lay-off, a percentagem de empresas com défice de liquidez é a mesma antes e depois do choque”, afirma o Banco de Portugal na análise ao impacto económico da pandemia nas empresas, que consta do boletim económico de maio. Em termos simples, isto significa que o acréscimo de liquidez fornecido através do lay-off “apaga” a perda de liquidez provocada pela quebra da atividade na sequência da pandemia, no agregado da economia (caso a caso há situações muito diferentes).
Como mostra o gráfico, mesmo quando a economia está a crescer há uma percentagem significativa de empresas que fica em défice de liquidez à medida que o tempo avança, mesmo sem choque. Com o choque da crise pandémica, essa percentagem sobe logo mais de cinco pontos percentuais. Contudo, incorporando a ajuda pública do lay-off, a percentagem volta a cair quase para o mesmo valor sem choque.
A conclusão do BdP é que, com lay-off, 56% das empresas nunca entra em défice de liquidez ao passo que sem ele a percentagem seria de 40% — a resistência das outras empresas depende do número de dias. Esta é uma forma de mostrar a capacidade potencial de estabilização do tecido empresarial desta medida à qual já pediram para aderir mais de 100 mil empresas que, no total, empregam mais de 1,2 milhões de trabalhadores. Porém, é preciso cautela na interpretação dos dados.
“Na interpretação dos resultados obtidos é importante ter presente que estes não resultam de exercícios de avaliação de políticas, mas antes de simulações mecânicas, assentes em hipóteses simplificadoras, que procuram traduzir cenários plausíveis“, avisa o banco central. Este exercício de simulação usa dados micro da Informação Empresarial Simplificada de 2018 e da Central de Responsabilidades de Crédito de fevereiro de 2020 para estimar a capacidade de liquidez das empresas. De notar que não considera as novas linhas de crédito lançadas pelo Governo em conjunto com a banca, considerando apenas as linhas de crédito contratadas antes da pandemia.
Para chegar a valores setoriais, o Banco de Portugal assumiu os valores do inquérito que realiza semanalmente em parceria com o Instituto Nacional de Estatística (INE) para aferir o choque por cada setor. Sem surpresas, tal como os dados já divulgados indicam, o setor do alojamento e restauração é que regista o maior aumento na percentagem de empresas com défice de liquidez na sequência do choque pandémico, seguido pelos “transportes e armazenagem” e pela “indústria transformadora”. Em praticamente todos os setores, o lay-off “resolve” o problema de liquidez criado pela pandemia, em média.
Já em termos de dimensão, as grandes empresas registam o maior aumento na percentagem de empresas com défice após o choque, sendo que estas empresas são as que mais beneficiam do lay-off em termos de liquidez. Ainda assim, “para as médias e grandes empresas, o novo regime de lay-off simplificado não elimina totalmente o impacto do choque”.
A versão simplificada do lay-off foi lançada pelo Governo em resposta à crise pandémica e está disponível para os empregadores mais afetados pelo surto de Covid-19 (queda superior a 40% do volume de negócios). Ao abrigo deste regime, é possível suspender contratos de trabalho ou reduzir a carga horária dos trabalhadores, que mantêm o direito a dois terços do seu ordenado. Esse valor é pago em 70% pela Segurança Social e em 30% pelo patrão, no caso da suspensão do contrato de trabalho. No exercício do BdP, “assume-se que, para cada empresa, apenas uma parte dos trabalhadores fica em lay-off” e “definiu-se essa fração como sendo igual ao choque da empresa”.
O Banco de Portugal alerta ainda que este exercício está focado na liquidez e não na solvabilidade da empresa. “Qualquer análise de solvabilidade tem que ter em conta a alavancagem da empresa, o impacto dos choques na alavancagem, as expectativas de recuperação da atividade dos acionistas e a sua situação financeira”, explica o banco central.
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