Ramalho desafia, deputados aceitam. Parlamento vai ouvir Novo Banco, mas quer documentos sobre gestão

Novo Banco mostrou-se disponível para esclarecer "tudo" em relação às dúvidas do Parlamento. Deputados adiantam ao ECO que querem ouvir explicações. PSD vai pedir documentos sobre gestão.

Farto de ser “usado como uma arma de arremesso político”, o Novo Banco disse estar disponível para ir ao Parlamento esclarecer todas as polémicas em torno do banco. Desafio aceite pelos deputados, que vão querer ouvir as explicações do presidente António Ramalho sobre os prejuízos milionários que têm levado a injeções do Fundo de Resolução e também sobre os bónus à administração, segundo adiantaram alguns dos parlamentares que fazem parte da Comissão de Orçamento e Finanças (COF) ao ECO. O PSD pretende obter documentação sobre a gestão do banco, nomeadamente em relação à venda de crédito malparado e imóveis, antes da audição ao banqueiro.

Esta quarta-feira, o tema do Novo Banco voltou a marcar o debate com o primeiro-ministro, com Rui Rio a lançar dúvidas sobre os “calotes encapotados” no banco e sobre a venda de créditos e imóveis a fundos de investimento. O Governo está a par de tudo, questionou o presidente do PSD. Catarina Martins também mostrou-se desconfiada e perguntou a António Costa se o Estado poderá ser reembolsado das injeções do Fundo de Resolução caso a auditoria da Deloitte detetar má gestão no banco gerido por António Ramalho.

Não foram as únicas críticas. André Silva, do PAN, questionou o primeiro-ministro sobre os bónus diferidos de dois milhões de euros que foram atribuídos aos administradores.

Aliás, partiu do grupo parlamentar do PAN o requerimento para uma audição a António Ramalho por causa dos prémios. A proposta, que estava para ser votada esta semana na COF, foi adiada porque o deputado autor do requerimento, André Silva, faltou à sessão por “motivos de assistência familiar”, segundo explicou o próprio ao ECO. Vai agora ser apreciada e votada no próximo dia 26. Os outros deputados não deverão levantar obstáculos, segundo disseram vários grupos parlamentares ao ECO.

“Teremos todo o interesse de ouvir as explicações do conselho de administração do Novo Banco e como também da entidade reguladora. Mas isto sem prejuízo da nossa posição que é de censura e não concordância”, afirmou o coordenador do grupo socialista naquela comissão, Fernando Anastácio.

O PCP também votará a favor: “O PCP votará a favor do requerimento para que seja ouvida a administração do Novo Banco e do banco de Portugal. Só não o pudemos fazer na última reunião da COF, porque o PAN pediu o adiamento da votação deste seu requerimento”, disse Duarte Alves. Para os comunistas, haverá mais questões para lá dos bónus para colocar a António Ramalho, nomeadamente sobre “os chocantes aumentos dos salários dos gestores de topo do banco”.

PSD também quer ouvir, mas primeiro quer ter documentos

A intervenção de Rui Rio esta quarta-feira no Parlamento foi clara naquilo que definirá a atuação do PSD quanto ao dossiê Novo Banco. O líder dos social-democratas questionou o primeiro-ministro se pode assegurar que as vendas de crédito malparado e de imóveis estão a ser bem geridas, perguntando se há operações de favor e com entidades relacionadas com os acionistas americanos do Lone Star.

“O requerimento do PAN é sobre os bónus, mas há mais a esclarecer do que os bónus“, explicou o coordenador do PSD na COF, Duarte Pacheco. O PSD vai solicitar toda a documentação sobre as operações realizadas pelo Novo Banco e que, resto, estão na origem das injeções de 3.000 milhões de euros que o Fundo de Resolução já teve de fazer.

A ideia é “antes da própria audição [do Novo Banco], recebermos a documentação e retirar as conclusões”, prosseguiu Duarte Pacheco. “Caso contrário, vamos estar numa situação de desigualdade em termos de informação e a audição seria apenas uma entrevista”, acrescentou o deputado.

“Ninguém espera que o Novo Banco venha a dizer que vendeu abaixo do mercado. Mal seria se dissesse o contrário, que venderam a preço de favor e a empresas que são participadas do acionista”, disse ainda.

Inquérito ao Novo Banco? Ainda é cedo

Não há caso na banca que não tenha escapado ao escrutínio dos deputados. Foram já várias as comissões de inquérito aos bancos na última década: desde o BPN, passando pelo BES, Banif e Caixa Geral de Depósitos. E ao Novo Banco?

Os deputados não puseram de parte essa possibilidade, mas ainda é cedo para discutir. Razão: a auditoria da Deloitte, que deverá ficar concluída em julho e vai passar a pente fino as maiores operações de crédito do BES desde 2000.

“Neste momento está uma auditoria a decorrer, e aguardar pelos resultados seria o normal e mais prudente”, afirmou Fernando Anastácio. Duarte Alves e Duarte Pacheco estão de acordo.

“Sem conhecer a auditoria, ainda não nos pronunciamos para já sobre essa possibilidade”, respondeu o deputado comunista.

O ECO também tentou contactar o CDS e Bloco de Esquerda, mas não teve uma resposta até à publicação do artigo.

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