Consumo de bens alimentares regista a maior subida desde 1999
Os portugueses reforçaram a despensa em tempos de pandemia, o que permitiu amparar a queda do consumo privado no primeiro trimestre. O consumo de bens alimentares registou a maior subida desde 1999.
A corrida aos supermercados no início da pandemia refletiu-se nos números do PIB. O medo da falta de alimentos numa altura em que o país (quase) paralisou por causa do coronavírus levou os portugueses a comprarem mais para ter em stock, levando o consumo de bens alimentares do primeiro trimestre para o valor trimestral mais elevado de sempre: 6.134,7 milhões de euros.
A subida percentual de 3,4% (+203,7 milhões de euros), em termos homólogos, desta componente do consumo privado entre janeiro e março de 2020 foi a maior desde o quarto trimestre de 1999 (3,7%), segundo os dados divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em que foi revista ligeiramente em baixa a contração do PIB no primeiro trimestre de -2,4% para -2,3%.
Segundo dados da Nielsen, citados pela Lusa, as vendas nos super e hipermercados cresceram 7% entre 16 e 22 de março, com destaque para as vendas de conservas que aumentaram 79% na semana de declaração do estado de emergência. Na semana de 9 a 15 de março, o aumento das vendas totais tinha sido de 65% com o reforço da despensa dos portugueses antes do estado de emergência.
Esta subida expressiva do consumo de bens alimentares permitiu amparar a queda do consumo privado, o qual acabou por cair apenas 0,7%, em termos homólogos. Os bens correntes não alimentares e serviços, que representam muito mais do total do consumo, registaram uma descida de 1,8% no primeiro trimestre.
Consumo de bens alimentares sobe 3,4% no primeiro trimestre
Mas a maior queda foi mesmo dos bens duradouros (-5,3%) cuja evolução reflete “principalmente uma queda das aquisições de veículos automóveis”. Recorde-se que, em março, as vendas de automóveis recuaram 56,6%, em termos homólogos, tendo sido matriculados apenas 12.399 automóveis, de acordo com os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
Assim, a procura interna — que engloba o consumo privado, o investimento, o consumo público e despesa das ISFLSF — caiu 1,1%, o que representa a primeira queda desta componente do PIB desde 2013, ano em que Portugal ainda estava sob a intervenção da troika. A procura externa líquida deu um contributo negativo ainda maior (-1,3%) com as exportações a registarem a maior queda desde 2009.
Ainda dentro da procura interna, mas fora do consumo privado, é de notar que as despesas das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias, nomeadamente IPSS, atingiu também um máximo trimestral ao superior os mil milhões de euros. No primeiro trimestre, esta despesa cresceu 1,6% (o mesmo ritmo do quarto trimestre), ajudando também a atenuar a quebra da procura interna em Portugal.
Da mesma forma, o consumo público (despesa do Estado) cresceu 0,5%, desacelerando face ao quarto trimestre (1,5%), mas contribuindo de forma positiva para a procura interna. Neste caso, a subida não foi tão expressiva quanto se poderia esperar porque nesta ótica do PIB são contabilizados apenas as despesas com pessoal, consumo intermédio e transferências sociais em espécie. Ou seja, ficam de fora as prestações sociais em dinheiro pagas pela Segurança Social, como o lay-off simplificado, os subsídios de desemprego ou os apoios aos pais.
Nas palavras do INE: “o consumo público (Despesas de Consumo Final das Administrações Públicas) desacelerou para uma variação homóloga de 0,5% (1,5% no trimestre anterior), traduzindo em certa medida o impacto negativo na produção não mercantil em volume das medidas adotadas para reduzir a propagação do Covid-19, apesar do aumento em termos nominais da despesa pública“.
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