Lá se foi o “ano do 5G”

O ano de 2020 arrancou com toda a pujança e deveria terminar com uma União Europeia repleta de 5G. Chegados a meio do ano, as perspetivas para a quinta geração não podiam ser piores.

Por causa do coronavírus, processos foram postos na gaveta em França, Espanha, Polónia, Áustria e também em Portugal, onde o Governo até duplicou a meta de Bruxelas para, não uma, mas duas cidades cobertas de 5G no país até ao fim do ano.

Também por cá, o interesse num lançamento rápido do 5G começa a esmorecer. A Meo já veio dizer que “o mundo mudou” por causa da pandemia e que o 4G aguentou toda a pressão exercida nas redes durante o confinamento. Em França, o setor até apela para que o leilão de frequências seja adiado para o final de 2020 ou início de 2021.

Tudo isto prende-se com dois fatores. Implementar o 5G vai ser dispendioso e os investidores estão receosos, sem saber o que os espera no futuro. E, apesar de crítico para a indústria, a euforia em torno das ofertas de 5G para os consumidores levou um choque de realidade.

Durante algum tempo, também eu acreditei que a quinta geração poderia ser um game changer para quem usa a internet. Mas não é e não vai ser, até porque Portugal não tem perspetivas de um 5G “ultrarrápido” até 2025, pelo menos, como está explicado aqui.

Assim, numa primeira fase, o 5G deverá ser mais uma forma de as operadoras cobrarem mais aos clientes pelo serviço, com pouco valor acrescentado face ao que já existe no mercado. É no médio prazo que ganhará importância, muita, sobretudo para as empresas, potenciando, aí sim, tecnologias novas, algumas já em desenvolvimento avançado e outras completamente embrionárias neste momento.

2020 deveria ser o ano do 5G. Mas, mesmo com o anúncio da retoma do processo em Portugal esta semana, chegou a altura de dizer “adeus” e de reconhecer que é muito, muito complicado virmos a ter uma Europa ligada com 5G ainda este ano.