5G é “importante”, mas pandemia mostrou que 4G está “à altura dos desafios”

A Altice Portugal considera que "o mundo mudou". O Covid-19 provou que as redes atuais estão "à altura dos desafios". A Meo pede agora incentivos do Estado para levar rede a zonas sem retorno.

Alexandre Fonseca, presidente executivo da Altice Portugal.D.R.

A Altice Portugal ainda acredita que a tecnologia do 5G é “importante e disruptiva” para o país, mas considera que “o mundo mudou” por causa da pandemia. Com a maioria dos portugueses obrigados ao regime de teletrabalho, e sem incidentes ou falhas de expressivas a reportar neste período, a empresa destaca agora que “as infraestruturas de 4G estão à altura dos desafios atuais”.

Numa conferência de imprensa por telefone, ficou evidente a evolução no pensamento do grupo em relação à quinta geração de redes de comunicação, cujo lançamento em Portugal foi interrompido por causa do Covid-19. Nesse sentido, apesar de o líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, ter sido um dos mais fervorosos críticos da Anacom pelo que considerou ser um atraso da Anacom no 5G antes do surto, o gestor recupera agora a narrativa do final de 2018: ainda há potencial por explorar nas atuais redes 4G.

“A consulta [pública sobre o leilão do 5G] foi interrompida e é evidente que o mundo mudou. O mundo mudou e também é natural que se possa alterar as perspetivas sobre algo tão relevante como o 5G. Se a transformação digital tem agora um papel ainda mais relevante, este momento exige que tenhamos alguma prudência”, apontou o gestor, em resposta a perguntas dos jornalistas.

O raciocínio é lógico: se perante um exercício real, como o que foi espoletado pela pandemia, os portugueses conseguiram passar a trabalhar remotamente pela internet e não há falhas significativas a registar, nem no 4G, nem na fibra ótica, qual é o racional de forçar o lançamento do 5G nesta fase, algo que Bruxelas queria ver feito já em 2020? Para o gestor, a pandemia “mostrou” que, apesar de o 5G ser uma tecnologia “importante e disruptiva”, “as redes atuais estão em linha com as necessidades”.

Mas a Altice Portugal não desvalorizou o 5G por completo. Pelo contrário. A empresa admitiu que a nova geração de rede móvel é importante para permitir, “a médio prazo”, aplicações que não são possíveis nos dias de hoje. Em causa estão as melhorias que o 5G incorpora ao nível das latências, o tempo em que um determinado conjunto de dados demora a ir de um terminal até ao servidor.

Por outras palavras, o 5G vai ser importante para a indústria. Mas não será tão importante para os consumidores em geral, uma vez que ainda nem sequer foi esgotada a atual largura de banda do 4G, destacou Alexandre Fonseca.

Meo quer incentivos do Estado para levar rede a zonas sem retorno

Isto leva-nos à segunda parte desta notícia. A empresa aproveitou a apresentação dos resultados relativos ao primeiro trimestre para introduzir uma nova temática no setor das telecomunicações em Portugal: a ideia de que deve ser o Estado a pagar e a incentivar a maior capilaridade das redes de nova geração no país.

É que, apesar de as redes de comunicação em Portugal, de todas as operadoras, terem mostrado grande resiliência em plena pandemia, apesar do disparo incessante na utilização (o líder da Meo disse mesmo que as redes foram “imaculadas”), foram conhecidas histórias de pessoas idosas que ficaram ainda mais isoladas por não terem acesso a comunicações à distância. Ou mesmo de jovens estudantes que não têm acesso a ensino de qualidade à distância, numa altura em que terminaram as aulas presenciais do 1.º ao 9.º anos de escolaridade.

Face a isto, na visão da Altice Portugal, a solução é clara. Tem de ser o Estado a pagar pelo desenvolvimento e alargamento das redes de nova geração às zonas em que não é possível investir pela falta de retorno. “Chegou agora o momento. Se queremos uma universalidade, é preciso investimento público para garantir a universalidade dessas redes”, disse Alexandre Fonseca aos jornalistas.

“Ainda haverá muitas casas, uma percentagem de população que não vai ser servida. Haverá sempre aquela casa, ou lugar remoto, em que o serviço não chega lá. Existirá sempre alguma população destas zonas que ainda não vai ter fibra da Altice Portugal”, reconheceu o presidente executivo, numa altura em que a rede da Meo conta já com 5,1 milhões de casas passadas.

“Temos de ser realistas: não temos obrigação contratual. É investimento 100% privado. É um investimento nosso, de empresa privada, que se destina a alargar as nossas redes, há investimentos que, por muito que queiramos fazer, não podemos, porque não teremos retorno”, explicou.

Dito isto, continuou: “É importante o Estado compreender que este investimento [das operadoras nas redes de nova geração] tem agora de ser complementado. Se queremos garantir que temos casos de idosos, ou jovens que querem ter acesso a ensino de qualidade e não têm rede, os operadores privados não têm de fazer esses investimentos”, disse.

Nesse sentido, apresentou duas possíveis soluções: “Há uma capacidade limitada de investimento. É importante que haja investimento público para implementar esse investimento ou que haja incentivos para empresas como a Altice Portugal para fazer investimentos nessas regiões. Não queremos ter um Portugal a duas velocidades”, destacou.

5G arranca este ano “em termos processuais”

Ainda sobre o 5G, a Meo é a empresa que gere a rede de Televisão Digital Terrestre (TDT), um serviço que está a ser migrado para outras frequências para libertar uma faixa do espetro eletromagnético necessária para a quinta geração de comunicações móveis. Sobre a retoma do processo, Alexandre Fonseca disse que a Altice Portugal deverá apresentar ao Governo, na próxima semana, o seu calendário para a migração.

O gestor já tinha dito, há alguns meses, que não via que fosse possível ter 5G em Portugal até ao fim do ano. Agora, reconhece a eventualidade de o dossiê arrancar este ano, mas apenas “em termos processuais”. Além disso, todo e qualquer calendário do 5G, para o gestor, deve prever um período de pelo menos quatro meses e meio para a conclusão da migração da TDT pela Meo, frisou.

“Esses quatro meses e meio terão de ser obviamente respeitados quando [o processo do 5G for retomado]”, salientou o gestor. “Contamos, na próxima semana, poder formalizar junto do Governo a recalendarização”, assumiu.

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