Banca guardou 270 milhões para impacto do vírus. Mas pode não chegar
Provisões associadas ao risco do Covid-19 levaram os maiores bancos (que têm lucros) a assistir a uma queda de 24% nos resultados do primeiro trimestre. Poderão ter de reforçar ainda mais este ano.
Os bancos estão a fazer provisões devido ao aumento do risco gerado pela pandemia. As cinco maiores instituições financeiras a operar em Portugal guardaram 270 milhões de euros para acautelar eventuais perdas nos créditos. A estratégia — que é penalizadora dos resultados líquidos — poderá ainda ter de ser reforçada.
O BCP foi o banco que fez provisões mais elevadas: foram 79 milhões de euros deixados de lado para a crise. “Mudámos o foco do crescimento para a defesa do balanço. A defesa do banco passou a ser principal preocupação“, explicou então o CEO Miguel Maya, em conferência de imprensa.
Esta defesa pretende proteger o negócio do impacto que a forte contração do PIB e riscos de desemprego terá na rentabilidade e na qualidade dos ativos dos bancos. Mas desvia valores que seriam contabilizados nos lucros. Assim, o BCP viu os resultados do primeiro trimestre cairem 77% face ao período homólogo para 35,3 milhões de euros. Sem as provisões, o resultado teria sido de cerca de 104 milhões de euros.
"Mudámos o foco do crescimento para a defesa do balanço. A defesa do banco passou a ser principal preocupação.”
A tendência foi generalizada. A Caixa Geral de Depósitos registou lucros de 86,2 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, menos 31,6% do que no mesmo período do ano passado. O banco público referiu que o resultado inclui o “reforço da imparidade de crédito e provisão para garantias bancárias no montante de 60 milhões de euros em antecipação dos efeitos expectáveis da crise económica”, mas também reflete a “redução da transacionalidade e da procura de crédito, quer por empresas, quer por particulares” devido à pandemia.
Já o BPI viu os lucros afundarem 87% para 6,3 milhões de euros, tendo o banco constituído imparidades do montante de 32 milhões de euros para fazer face a eventuais problemas com incumprimento no crédito. “É o tempo de maximizar a prudência e não os lucros”, disse o CEO Pablo Forero.
O Santander Totta foi tanto o que guardou menos dinheiro para o impacto da crise como aquele que viu os lucros menos afetados. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida lucrou 118,9 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, o que representa uma quebra de 13,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Reforçou as provisões em 30 milhões.
Provisões dos cinco maiores bancos totaliza 270 milhões
Fonte: Relatórios dos bancos
Feitas as contas, os lucros destes quatro bancos situaram-se em 246,4 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. E este período contabilizou apenas duas semanas de pandemia na Europa. Ainda assim, o valor fica quase 24% abaixo dos 322,3 milhões registados entre janeiro e março de 2019.
Caso diferente é o do Novo Banco, cujos resultados são negativos. Também o banco liderado por António Ramalho constituiu provisões, de 70 milhões de euros, que fizeram piorar o desempenho da instituição. O Novo Banco registou um resultado líquido negativo de 179,1 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, praticamente o dobro dos prejuízos que tinha registado um ano antes.
DBRS considera provisões “baixas”. Bancos esperam aumento
“Todos os bancos reportaram um risco de crédito significativamente mais alto no primeiro trimestre devido à atualização dos pressupostos financeiros do Covid-19 nos respetivos modelos de crédito“, explicava a agência de rating DBRS, numa nota emitida esta segunda-feira sobre o assunto, em que analisou a evolução do risco de crédito em França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
As conclusões indicam que a maioria dos bancos reportou provisões para risco de crédito “significativamente mais altas” no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2019, o que se traduziu no “considerável aumento” do custo do risco. Foi no Reino Unido que os bancos apresentaram, em média, os níveis mais altos de custo do risco (141 pontos base), enquanto a Finlândia tinha o custo de risco mais baixo (19 pontos base).
"É esperado que o nível de provisionamento se mantenha elevado nos próximos trimestres.”
Os bancos portugueses reportaram um nível médio de custo do risco de 70 pontos base, abaixo da média dos vários bancos analisados, o que a DBRS considera “relativamente baixo, particularmente tendo em conta o significativo impacto económico esperado em 2020” na sequência da pandemia. A agência sublinha que, face à elevada incerteza, os bancos deverão continuar a atualizar os pressupostos económicos dos respetivos modelos de crédito, o que se traduzirá em crescentes provisões para perdas com empréstimos.
A hipótese foi já levantada, nas apresentações dos resultados, pelos próprios banqueiros, que deixaram o alerta sobre o impacto que o vírus ainda vai ter. Castro e Almeida, do Santander Totta, foi o mais taxativo: “vamos reforçar essas provisões em setembro e no final do ano também”, disse. Já Ramalho, do Novo Banco, acrescentou que “é esperado que o nível de provisionamento se mantenha elevado nos próximos trimestres“.
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