Potência reforçada. Vive l’Alpine 110S
O A110 renasceu há dois anos, mas agora ganhou uma versão vitaminada. O 110S traz muita potência num “brinquedo” pronto para as corridas, mas que se pode utilizar no dia a dia.
O look retro chamou à atenção logo que a Renault fez renascer a Alpine, marca de automóveis que brilhou na década de 60 do século passado. A potência elevada, mas também o excelente desempenho dinâmico, confirmaram o desejo de muitos de ter nas mãos um desportivo com “sangue na guelra”. Mas se o 110 já fazia arrepiar os pelos do antebraço, o S faz-nos palpitar o coração.
Dois anos volvidos desde a chegada do A110, a marca francesa decidiu que era hora de dotar o Alpine de um pouquinho mais de potência. Dos 252 cv espremidos do 1.8 que encontramos nos Renault Megane RS, os técnicos da fabricante francesa descobriram, com alguns dotes de eletrónica, mais 40 cv, mas será preciso um pé pesado para os utilizar.
O 110S é igual ao 110 quando se circula a velocidades normais, sendo que a diferença sente-se quando o ponteiro passa da fasquia das 5.000 rotações. Sente-se mesmo. Já era um automóvel capaz de nos encostar à backet, mas agora há mais motor para explorar, assim haja asfalto para devorar.
Modo Sport ativado e a “música” do motor colocado atrás dos dois lugares lembra-nos um concerto de heavy metal. Quando se prega o pé a fundo no pedal direito percebe-se a excelente sintonia entre o motor e a caixa automática de sete velocidades. As passagens de caixa sucedem-se sem nos deixar respirar, nem piscar os olhos, tal o medo de perder algumas centenas de metros de estrada.
Curvas em modo kart
Muitos automóveis são especialistas em transmitir a sensação de velocidade. No A110S essa sensação é levada ao extremo, seja pelo ronco que se ouve (e sente), seja pela posição de condução extremamente baixa que deixa o asfalto mesmo ali na pontinha do capot. Essa altura ao solo reduzida, num automóvel largo e com as rodas colocadas no extremo dos quatro cantos, é a receita ideal para recordar o que fez do velhinho Alpine um sucesso há algumas décadas.
Com um arranque a fundo, sente-se as rodas traseiras em busca da tração para catapultar os pouco mais de 1.100 kg do A110S, mas sem exageros. Mas é nas curvas e contracurvas que se consegue tirar partido deste deslizar controlado da traseira. Dá para saborear o suave escorregar, mas por pouco tempo tendo em conta que rapidamente o Alpine faz mira à reta seguinte até poder voltar a andar de lado na curva seguinte. É um jogo desafiante, extremadamente emocionante.
Tudo no A110S nos puxa para explorar a potência armazenada no motor. Desde as backets Sabelt, que nos agarram sem comprometer o conforto, ao botão Start que solta um ronco forte, ao do Sport colocado num volante de dimensões reduzidas, com pega em Alcântara, ladeado das patilhas da caixa de velocidades. Até ao grande ecrã por detrás do volante que quase nos atira para dentro de um videojogo, mas na vida real.
Herança da Renault
Se no exterior, a Alpine soube fazer um reinterpretação brilhante do mítico modelo, não deixando cair a imagem de marca: os grupos óticos dianteiros, numa configuração 2+2, lá dentro todo o ambiente nos empurra para o mundo das corridas. Por vezes, até um pouco em demasia tendo em conta que este é, na realidade, um desportivo, mas que se pode utilizar no dia-a-dia.
Para poupar alguns kg, as portas são isso mesmo: portas, sem qualquer bolsa para guardar objetos, com uma peça para a fechar algo frágil. Aliás, transportar o que quer que seja só se couber no compartimento em triângulo colocado entre os dois ocupantes, ou por baixo da “ponte” entre backets que alberga tanto o Start como os botões D, N e R da caixa de velocidade, mas não é fácil lá chegar. À parte destes, restam dois exíguos espaços acessíveis pelo exterior: a bagageira traseira e a dianteira, debaixo do capot.
Se o espaço para transportar objetos não merece grande reparo num desportivo, o mesmo não acontece noutros detalhes. Sendo este Alpine um “brinquedo” de 76 mil euros, acaba por se estranhar que mantenha uma chave igual à da anterior geração do Megane, ou mesmo comandos de ar condicionado do Twingo. E com um ecrã tão graficamente evoluído atrás do volante, o ecrã colocado no centro do tablier poderia seguir-lhe o exemplo.
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