Bolsas em recorde e economia em recessão? FMI alerta que “desfasamento ameaça recuperação”

Relatório de Estabilidade Financeira do Fundo Monetário Internacional aponta elevada incerteza face à recuperação das ações e não exclui um cenário de nova correção.

A forte ação dos bancos centrais tem sido determinante na resposta à pandemia, mas o dinheiro barato está a criar uma situação de desfasamento entre a economia real e os mercados financeiros. Enquanto os países caem em recessão, as bolsas seguem em alta e, nalguns casos, em recordes. Este desligamento põe em causa a recuperação, segundo alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“As medidas rápidas e sem precedentes dos bancos centrais foram um fator principal na recuperação do mercado”, começa por notar o FMI, no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta quinta-feira. O fundo exemplifica para a reação dos mercados aos 2,3 biliões de estímulos anunciados pela Reserva Federal norte-americana, mas — mesmo em menor escala — foi também o caso para o programa de emergência do Banco Central Europeu (BCE) com 1,35 biliões de euros.

Na Europa, as bolsas viveram, entre janeiro e março, o pior trimestre desde 2002 devido ao surto de Covid-19, enquanto os juros das dívidas soberanas dos países do sul se agravaram para valores próximos da crise financeira com a pandemia a penalizar o sentimento dos investidores. Desde então, a tendência inverteu-se graças às redes de segurança dos bancos centrais globais e às primeiras medidas de desconfinamento.

O segundo trimestre deverá fechar positivo nas bolsas, mesmo com o mundo a preparar-se para a pior recessão desde a última guerra mundial. No World Economic Outlook divulgado esta terça-feira, o FMI mostrou-se ainda mais pessimista quanto à economia: vê o PIB mundial a encolher 4,9% em 2020, o do EUA 8% e o da Zona Euro 10,2% (ou seja, menos 2,7 pontos do que a previsão anterior).

"As expetativas do mercado sobre a extenção e profundidade do apoio dos bancos centrais aos mercados financeiros pode acabar por revelar-se demasiado otimista, levando os investidores a reavaliar — e reapreciar — o risco.”

Relatório de Estabilidade Financeira

Fundo Monetário Internacional

É essa diferença entre a realidade da economia e o sentimento que se vive nos mercados financeiros está a gerar preocupação ao fundo de Bretton Woods. “Este desfasamento entre mercados e a economia real levanta o risco de outra correção nos preços dos ativos de risco caso o apetite dos investidores pelo risco se dissipe, constituindo uma ameaça à recuperação”, refere o documento.

Segundo o FMI, há uma série de fatores que poderá espoletar uma correção no valor das ações e, consequentemente, aumentar o stress no sistema financeiro além do causado pela profunda recessão. “Por exemplo, a recessão pode ser mais profunda e duradoura que o esperado pelos investidores. Poderá haver uma segunda onda do vírus, que leve a mais medidas de confinamento“, aponta.

“As expectativas do mercado sobre a extensão e profundidade do apoio dos bancos centrais aos mercados financeiros pode acabar por revelar-se demasiado otimista, levando os investidores a reavaliar — e reapreciar — o risco”, explica o FMI, apontando ainda para fatores externos: “Um ressurgimento das tensões comerciais pode penalizar o sentimento de mercado, colocando a recuperação em risco e, finalmente, ampla e global agitação social causada pela crescente desigualdade económica poderá gerar uma inversão no sentimento”.

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