Huawei afasta-se cada vez mais da Google. Já vende 30% dos telemóveis sem Play Store
Um ano depois de perder o acesso aos serviços da Google, a Huawei continua a afastar-se cada vez mais da dona do Android. A marca já vende 30% dos telemóveis só com a loja App Gallery.
Um ano depois de ter perdido o acesso a importantes fornecedores norte-americanos, a Huawei continua a afastar-se cada vez mais da Google. A tecnológica de origem chinesa continua a distanciar-se do ecossistema do Android e 30% dos telemóveis que vende globalmente já não têm a loja de aplicações nativa Play Store. “Não vai haver passo atrás”, garante ao ECO a diretora de marketing em Portugal, Ana Lorena.
Impedida de usar a versão comercial do maior sistema operativo do mundo, e que lhe ajudou a alcançar uma relevante quota de mercado na Europa, a Huawei reforçou a aposta na loja de aplicações própria, a App Gallery. O objetivo é que, até setembro, e à medida que as versões mais antigas vão ficando obsoletas, alcance a meta de 50% dos smartphones vendidos sem a loja da Google e apenas com a alternativa da Huawei.
“Lançámos em 2018 e fomos trabalhando na App Gallery. O reforço foi sem dúvida no último ano. Está na nossa estratégia continuar com esta loja de aplicações”, refere Ana Lorena, numa entrevista via Zoom. É público que a empresa ainda ponderou lançar um sistema operativo próprio — ideia que dificilmente terá abandonado –, mas a aposta, para já, é mesmo a de tornar a oferta de aplicações na App Gallery o mais semelhante possível com a da Play Store e da App Store do iPhone.
Para tal, a Huawei tem empenhado esforços junto dos developers para que algumas das aplicações mais usadas no país entrem na App Gallery. É o caso das aplicações da Caixa Geral de Depósitos ou do Novo Banco, mas também o MB Way e a Info Praias, uma ferramenta lançada pela Agência Portuguesa do Ambiente que dá conta do estado de ocupação do areal das praias portuguesas. Entre elas está ainda a app da Chave Móvel Digital, criada pelo Estado para que os cidadãos se autentiquem nos diferentes serviços públicos. “Localmente já temos mais de 90 apps”, revela Ana Lorena.
“Estamos a criar todas as condições para as pessoas não sentirem a diferença”
Esta estratégia de ocidentalização da oferta da App Gallery, que até recentemente era mais usada na China, fica ainda mais clara com o lançamento do Huawei Music, um serviço de streaming de música para concorrer com o sueco Spotify e com o norte-americano Apple Music. Outro exemplo: sem acesso ao Google Maps, a Huawei estabeleceu em janeiro uma aliança com os mapas da TomTom, a conhecida empresa de equipamentos de GPS.
Para os casos em que as apps não vêm até à App Gallery, a Huawei quer que a App Gallery vá até elas. A marca desenvolveu um motor de busca que permite aos utilizadores pesquisarem na internet pacotes de instalação independentes, sob a forma de ficheiros APK. Estes ficheiros são pacotes de instalação de origens diversas e que trazem os aplicativos diretamente para os smartphones. A ferramenta foi convenientemente apelidada de Petal Search.
“Estamos a criar todas as condições e julgamos ter todas as condições para as pessoas não sentirem essa diferença”, diz Ana Lorena, referindo-se à distinção da oferta da App Gallery em relação às dominantes Play Store e App Store. Há, contudo, algumas dificuldades menos contornáveis. Sem acesso a tecnologia comercial da Google, a Huawei continuará sem poder fornecer aplicativos populares como o YouTube.
Ainda assim, a empresa reporta ter 650 milhões de utilizadores da App Gallery. Cerca de 420 milhões são utilizadores mensais, de acordo com números da Huawei, sendo que a esmagadora maioria deverá estar localizada na China. A empresa não quis revelar dados sobre o mercado em Portugal.
Pandemia põe Huawei na liderança. Não por muito tempo
A pandemia gerou dificuldades em todos os setores e a Huawei não está imune. Mas, enquanto a generalidade do ocidente entrava em lockdown para tentar travar o novo coronavírus, a marca conseguiu um feito histórico: “roubou” à Samsung o primeiro lugar em quota de mercado, com 19% em abril contra os 17% da concorrente sul-coreana. Os dados da Counterpoint Research são citados pela Huawei como o “culminar” de todo o esforço que a empresa tem feito.
É, no entanto, um resultado explicado com o facto de a China, o mercado doméstico da Huawei, ter começado a reabertura numa fase em que, no resto do mundo, incluindo na Coreia do Sul, a pandemia ganhava terreno e aproximava-se do pico. Assim, enquanto o negócio da Huawei recuperava, as restantes marcas enfrentavam o maior lockdown económico da História, explicou ao ECO um analista do setor.
Contactada, fonte da CounterPoint Research, que recolheu os dados, deu a mesma explicação ao ECO: “A China estava a recuperar em abril com as vendas a começarem a recuperar; a Huawei é líder de mercado na China, enquanto a Samsung é fraca na China. Entretanto, os mercados em que a Samsung é forte, como a Índia, Europa e EUA, foram impactados massivamente, com alguns a registarem quase uma completa paralisação”.
É neste contexto extraordinário que a Huawei se firmou líder de mercado. Ainda assim, segundo a CounterPoint Research, a empresa terá pouco tempo para celebrar esta conquista. Com o vírus a ganhar terreno novamente no ocidente e também na China, a consultora é perentória: “Não esperamos que a posição da Huawei seja sustentável.”
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