“Se já não havia para os táxis, não sei se vai haver para” Ubers, alertam os táxis
A partir de agora, a Uber "funciona" em todo o país. Mas, sem a criação de incentivos, será difícil ter carros em muitas regiões: "Se já não havia para os táxis, não sei se vai haver para eles."
A Uber vai alargar a operação a todo o território nacional, permitindo agora que os motoristas e parceiros levem a cabo o transporte de passageiros em qualquer região de Portugal. Até aqui, a Uber estava apenas disponível em duas dezenas de cidades portuguesas com maior dimensão, do Algarve a Viana do Castelo, de Lisboa a Portalegre, passando por muitas outras.
A empresa entra, deste modo, numa rota de colisão mais acentuada com os táxis. Mas, do lado deste setor, a dúvida prende-se com a rentabilidade, sobre a qual têm dúvidas.
Para Florêncio de Almeida, presidente da Antral, “era de esperar que fossem alargar onde pudessem”. Mas acrescenta: “Não acredito que nas aldeias mais pequenas vão ter rentabilidade. Se já não havia para o táxi, não sei se vai haver para eles”, remata o responsável setorial.
Não acredito que nas aldeias mais pequenas vão ter rentabilidade. Se já não havia para o táxi, não sei se vai haver para eles.
Já a Federação Portuguesa do Táxi (FPT) tem dúvidas semelhantes. “Eu não vejo que possa ser rentável. O próprio setor do táxi já está há tantos anos no interior do país, em zonas mais rurais. E se até para o táxi está mais complicado, não vejo como pode haver interesse para as plataformas operarem nesses meios”, afirma Ana Rita Silva, vice-presidente desta que é outra entidade representante do setor.
“No nosso entender, [esta decisão] só revela que o mal alastra sem controlo e sem a contingentação municipal que nos foi prometida”, destaca a responsável setorial, garantindo que essa foi uma das promessas do Governo aos taxistas na sequência da manifestação de 2018. A contingentação é a prática de limitar a oferta de motoristas num determinado município e tem sido uma bandeira do PCP nesta matéria, bem como uma das principais exigências do setor do táxi. “Foi pedido para que este poder passasse para as autarquias na altura da manifestação. Foi-nos prometido que iria para a frente”, assegura.
Até aqui, o táxi era a única alternativa disponível para o transporte de passageiros do ponto A ao ponto B em muitas regiões onde a Uber não estava presente. Eventualmente, a Uber atrairá um público mais jovem, enquanto o táxi, por ser a opção mais tradicional, continuará a fazer as preferências das camadas mais seniores da população.
Disponível é uma coisa, ter carros é outra
A Uber justificou esta expansão indiscriminada por “permitir mais oportunidades económicas aos motoristas e populações locais e para incentivar os portugueses a explorarem território nacional”. E abre a porta a decisões semelhantes por parte das outras plataformas eletrónicas de transporte, que, de resto, já cobrem uma “fatia” relevante da população neste mercado cada vez mais maduro.
É certo que, ao alargar a operação desta forma, o serviço vai passar a estar disponível em centenas de locais onde ainda não estava presente. Falamos de pequenas cidades a vilas de norte a sul do país, mas também das regiões autónomas. E há vários anos que habitantes destes locais anseiam pela chegada da aplicação.
Mas haverá uma razão para a Uber não ter tomado esta decisão mais cedo. Até aqui, os lançamentos da Uber são organizados de forma a garantir que a empresa dispõe de motoristas em cada cidade. Isso é feito através de trabalho no terreno, com angariação local de motoristas e de parceiros, e a criação de incentivos a quem conduz e de descontos a quem é conduzido. Por outras palavras, apesar do alargamento da operação a todo o país, será difícil — ou mesmo impossível — ter carros em todos os locais.
O diretor-geral da Uber Portugal sabe isso e admite-o numa entrevista ao Público. “Por exemplo, na ilha do Pico [Açores], não garantimos que possa haver já uma viagem dia 14, mas garantimos que caso exista um parceiro TVDE [Transporte em Veículo Descaracterizado ou alguém que tenha interesse em obter a licença na ilha, vai poder passar a fazer esse serviço”, afirmou.
O ECO contactou a Bolt e a Free Now para saber se estas empresas tencionam expandir a operação a todo o território nacional. Ainda não tinha recebido resposta da Free Now a tempo de publicação deste artigo, enquanto a Bolt escusou-se a comentar.
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