Gulbenkian dá prémio de um milhão de euros a jovem ativista Greta Thunberg
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade foi criado depois da Fundação Calouste Gulbenkian ter vendido a petrolífera Partex aos acionista tailandeses da PTTEP.
A ativista ambiental Greta Thunberg foi a grande vencedora da primeira edição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, atribuído anualmente, no valor de 1 milhão de euros, que pretende “distinguir pessoas, grupos de pessoas e organizações de todo o mundo cujas contribuições para a mitigação e adaptação às alterações climáticas se destacam pela originalidade, inovação e impacto”. A jovem sueca foi escolhida entre 136 candidaturas recebidas pela Fundação Gulbenkian, correspondendo a 79 organizações e 57 personalidades, provenientes de 46 países.
O prémio, no valor de um milhão de euros, será totalmente aplicado pela Fundação Thunberg em projetos de combate à crise climática e ecológica, de forma a ajudar os que enfrentam os piores impactos desta crise, particularmente no hemisfério sul. A Fundação Thunberg começará por doar os primeiros 200 mil euros à SOS Amazonia campaign, da Fridays for Future Brazil, que combate o Covid-19 na Amazónia, e à Stop Ecocide Foundation para tornar o ecocídio um crime internacional, informou a Gulbenkian em comunicado.
Num vídeo enviado às redações, Greta Thunberg diz “estar incrivelmente honrada e extremamente grata” por vencer o Prémio Gulbenkian para a Humanidade. A jovem ativista diz que “estamos a viver uma situação de emergência” e revela que a sua Fundação “irá doar o dinheiro do Prémio, o mais rapidamente possível, a organizações e projetos que lutam por um mundo sustentável e defendem a natureza, apoiando pessoas que enfrentam os piores impactos da crise ecológica e climática”.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade foi criado em 2019, depois da Fundação Calouste Gulbenkian ter vendido a petrolífera Partex aos acionista tailandeses da PTTEP, desfazendo-se assim dos ativos energéticos fósseis que mantinha na sua carteira de investimentos.
“A par da enorme crise económica, social e sanitária, a urgência climática não anda, nem pode andar, desligada das nossa preocupações. Foi esta trave mestra da urgência climática que esteve na base da escolha do vencedor. Com esta preocupação de termos um compromisso para com a emergência climática, gostava de recordar que no ano passado demos o grande passo que foi a descarbonização da nossa carteira, dos nossos investimentos, através da venda da Partex. Na altura pensámos que queríamos dar um sinal que fosse simbólico no sentido da nossa preocupação com o futuro da Humanidade e participarmos num combate que tem de ser de todos, por isso criámos este prémio de um milhão de euros”, disse a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, em conferência de imprensa.
Isabel Mota confirma que o Conselho de Administração da Fundação validou a escolha do Grande júri (composto por personalidades de renome internacional nos âmbitos científico, tecnológico, político e cultural) presidido pelo ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, e explicou porquê: “Há um tempo antes de Greta e um tempo depois de Greta. Porque o singular percurso desta jovem conseguiu pôr o tema das alterações climáticas não só na agenda política como na agenda como na opinião pública, como a voz do compromisso das novas gerações. Não foi por acaso que a revista Time a elegeu como figura do ano em 2019, dizendo que Greta conseguiu mudar a atitude global em relação às alterações climáticas. Passou de um conjunto de ansiedades para um movimento que é verdadeiramente mobilizador e que é imparável todo este impulso que deu à luta contra as alterações climáticas”.
A presidente da Fundação Gulbenkian frisou que recentemente Greta apresentou um “manifesto aos líderes europeus com um plano de ação para o que temos todos de fazer”.
Por seu lado, numa mensagem gravada, Jorge Sampaio afirmou que “a escolha de Greta Thunberg entre mais de uma centena de candidatos atesta a importância ímpar da sua atuação no plano da mobilização à escala planetária das gerações mais novas para a causa do clima. Traduz também o reconhecimento do seu papel único na liderança de um movimento cívico indispensável de combate às alterações climáticas e à degradação ambiental”.
Na sua visão, este prémio no valor de um milhão de euros “é um voto de confiança e um estímulo e encorajamento para que consolide e reforce a sua capacidade de atuação, sensibilização e mobilização global. A fundação reitera a sua aposta nos jovens como agentes de mudança e renova compromisso em contribuir para a construção de sociedades baseadas num modelo de desenvolvimento sustentável”.
Nascida em 2003, Greta Thunberg alcançou uma grande projeção internacional ao alertar para a crise existencial que a humanidade enfrenta em virtude das alterações climáticas. Deu voz à preocupação das jovens gerações pelo seu futuro, em risco com o aquecimento global, tendo-se evidenciado pela sua juventude e pelo modo direto e incisivo de comunicar. A sua influência global é sem precedentes para alguém da sua idade. Foi considerada pela Time Magazine uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, tendo sido eleita Personalidade do Ano pela mesma Revista em 2019; a Revista Forbes incluiu-a na lista das 100 Mulheres mais poderosas de 2019, e teve duas nomeações consecutivas para o Prémio Nobel da Paz (2019 e 2020).
O Grande Júri do Prémio Gulbenkian para a Humanidade integra figuras como Hans Joachim Schellnhuber (Fundador e Diretor Emérito do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático), Hindou Oumarou Ibrahim (ativista ambiental, Presidente da Associação de Mulheres e Povos Indígenas do Chade), Johan Rockström (Diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático e Professor de Ciências do Sistema Terrestre na Universidade de Potsdam), Katherine Richardson (Coordenadora do Centro de Ciências da Sustentabilidade da Universidade de Copenhaga), Miguel Arias Cañete (antigo Comissário Europeu da Energia e Ação Climática), Miguel Bastos Araújo (Geógrafo, Prémio Pessoa 2018), Runa Khan (Fundadora e Diretora Executiva da ONG Friendship e Presidente da Global Dignity Bangladesh) e Sunita Narain (escritora e ativista ambiental, Diretora do Centro de Ciência e Ambiente de Nova Deli).
Um Comité de Especialistas, presidido Miguel Bastos Araújo, avaliou numa primeira fase, as 136 nomeações, apresentando uma shortlist com 10 candidatos, para apreciação final do Grande Júri. Este Comité conta com nomes como Arlindo Oliveira (Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico), Carsten Rahbek (Diretor do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga), Rik Leemans (Diretor do Grupo de Análise de Sistemas Ambientais da Universidade de Wageningen) e Viriato Soromenho Marques (Professor de Filosofia Política na Universidade de Lisboa).
(Notícia atualizada)
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