Portuguese Women in Tech Awards, um prémio para mudar o mundo
Criado para dar visibilidade às mulheres e ao trabalho que desenvolvem em tecnologia, os Portuguese Women in Tech Awards tem candidaturas abertas para a terceira edição. Público nomeia e vota.
Perdeu a cerimónia de um casamento de amigos, ganhou um prémio. No caminho do Alentejo para Lisboa, Sofia fez contas de cabeça: o carro que tinha pedido emprestado, a desorientação do caminho, um mini ataque de ansiedade por sentir que poderia não chegar a horas. Já na capital portuguesa, quando o nome da diretora de recursos humanos foi dito e ela subiu finalmente ao palco, chorou. “Desfiz-me em lágrimas, fiquei mesmo feliz, aliviada por ter conseguido chegar, orgulhosa pelo prémio e cheia de vontade de fazer muito melhor”, conta, à Pessoas.
Sofia Matos venceu o PWiT Award na categoria de HR & Talent Acquisition em 2019: foi uma das nove vencedoras da segunda edição do prémio. Mas nunca pensou que poderia ganhar até àquele momento.
“Achei que tinha sido um forcing dos colegas e amigos, por entusiasmo, mas que não tinha qualquer hipótese. Não tinha background de tech, não sou engenheira, por isso não levei a nomeação demasiado a sério”, recorda.
Pouco tempo antes, tinha decidido mudar-se para a startup portuense Infraspeak, um salto de fé no qual poucos acreditavam. “Nem sempre fui muito apoiada na mudança de carreira, e senti aquele sabor do ‘estão a ver? Isto faz sentido’, brinca.
“Dentro da comunidade Portuguese Women in Tech (PWiT) temos, desde o princípio, tentado criar iniciativas que tragam ferramentas e acesso mas também visibilidade e palco às mulheres para serem reconhecidas pelo seu trabalho. O prémio tem uma ligação imediata a esse conceito, no sentido de pensarmos qual seria a melhor forma de dar visibilidade”, explica Liliana Castro, cofundadora da PWiT.
As nove categorias avaliadas anualmente pela comunidade foram escolhidas com base nas posições em que, em tecnologia, as mulheres têm uma maior representatividade. “No mundo perfeito tínhamos centenas e milhares de mulheres em posições mais técnicas. Percebemos que há muitas mulheres dentro de outras posições, e olhamos para isso como uma vantagem. De uma office manager a uma developer, todas constituem o ecossistema, que é composto por diversas áreas de trabalho. Queremos reconhecê-las nesse contexto”, acrescenta Liliana Castro.
Só na segunda edição do prémio, no ano passado, a organização recebeu várias centenas de nomeações e contabilizou mais de 10 mil votos. E as nomeações são feitas, não apenas por individuais mas também pelas empresas. “Efetivamente há aqui interesse em mostrar que têm as melhores mulheres a trabalhar com elas”, assinala Liliana Castro.
Basta que Sofia olhe para a realidade que lhe está mais próxima para perceber que, com cinco anos de história, 2020 ficou marcado com uma estreia: é a primeira vez que a Infraspeak contrata programadoras mulheres para a empresa. “É habitual haver equipas inteiras de homens. Tivemos imensa dificuldade em recrutar e em captar esses perfis”, assinala.
Mas, quais as razões para que isto continue a acontecer? Isabel Portugal estudou economia mas a faculdade de engenharia, ao lado da sua, era um ponto de encontro entre amigos. Entre as coisas que mais lhe chamaram a atenção nessa altura estava a enorme discrepância entre assistentes. “Em economia, era 50%-50% mas em engenharia, as mulheres eram entre 3 a 5% das turmas”, detalha.
“Quando elas apresentavam um trabalho, era sempre posto em causa que o tivessem feito. Se elas e um colega rapaz tivessem feito um projeto juntas, o professor assumia sempre que o rapaz o tinha feito e as raparigas não. Há um preconceito na academia, muito forte, quanto ao género. E isto reflete-se na confiança, na auto-estima e, muitas vezes, na progressão das mulheres na área. As mulheres estão muito menos à vontade para sugerir, para dar ideias, em contexto tecnológico”, alerta.
O nome de Isabel Portugal, que venceu na categoria de Data Analytics Expert, surgiu logo na primeira edição, em 2018. A cientista de dados da Hostelworld conhecia a iniciativa e, quando subiu ao palco para agradecer a distinção, fez questão de dar destaque às outras nomeadas.
“É uma oportunidade de dar visibilidade à comunidade e de trazer mais mulheres para não haver bias. Quando tens equipas só de homens, falta-lhes outra perspetiva das coisas e, em tech, é importante para trazer uma nova visão aos problemas. São essencialmente cargos técnicos mas lidamos muito com pessoas e a componente feminina é muito importante e traz valor às equipas, ainda que seja ainda pobremente representada”, assinala.
"É uma oportunidade de dar visibilidade à comunidade e de trazer mais mulheres para não haver bias. Quando tens equipas só de homens, falta-lhes outra perspetiva das coisas e, em tech, é importante para trazer uma nova visão aos problemas.”
Essa foi, de resto, uma das razões para a criação deste prémio, adianta Liliana Castro. “O impacto que esperávamos foi sempre o envolvimento do ecossistema e geração de oportunidades para as nomeadas dentro das empresas onde trabalham. E um boost de motivação de que é possível continuarem a trabalhar com excelência nas suas áreas”, explica a organizadora.
Sandra Costa, 33 anos, group leader na Bosch, começou na empresa como developer há cinco anos. Ganhou, nessa categoria, o prémio das PWiT em 2018. Atualmente a liderar uma equipa de 30 pessoas, a programadora lembra que, muitas vezes, continua a ser “a única mulher na sala”. “Acaba por ser constrangedor: ainda que o acesso não esteja impedido, o problema começa antes quando as raparigas são incentivadas ou moldadas a seguir uma carreira que as pessoas consideram que é para elas”, defende.
Um prémio para mudar o mundo
Sofia Matos sustenta que a importância dos PWiT Awards, que distinguem apenas mulheres que trabalham no setor tecnológico, tem duas mais-valias fundamentais. “Por um lado, escandaliza-me o quão não óbvio é, para toda a gente, a diferente visibilidade atribuída a homens e mulheres em todas as áreas e, particularmente, na tecnologia. E, por outro, não só motivar essas mulheres mas também mostrar que existem várias áreas que não são necessariamente de engenharia mas que fazem parte do mundo da tecnologia, e que permitem que se singre nestes setores”, exemplifica.
“Como aumenta a visibilidade das mulheres, à medida que estas edições vão avançando vai crescer o impacto”, avalia Margarida Trigo, 31 anos e vencedora na categoria de Networking & Systems Engineer na edição dos PWiT Awards de 2018.
Este tipo de iniciativas, acredita, faz crescer o envolvimento da comunidade, ao mesmo tempo que “dá reconhecimento a mulheres que, muitas vezes, não têm confiança – por exemplo – para pedir um aumento, porque são outras pessoas a dizer-lhes que fazem um trabalho muito bom”, explica. “Dá-lhes visibilidade e tempo de antena: se olharmos para os painéis de oradores em conferências, é raro vermos uma mulher, a verdade é essa. Senti que depois de receber o prémio, isso gerou um maior número de convites. É uma validação para quem não nos conhece”, refere ainda.
Para Sandra Costa, o facto de as “PWiT exporem estes dados ajuda a colocar o assunto na ordem do dia”. “Só quando começarmos a falar dos problemas é possível encontrar e trabalhar em soluções”, defende.
“Estes prémios elevam a mulher no contexto tech para desconstruir estas realidades e dar-lhes força para combater o síndrome do impostor, dando-lhes força para darem voz ao seu contributo”, sublinha Isabel Portugal.
O prémio criado pela Portuguese Women in Tech distingue mulheres em tecnologia em nove categorias diferentes: Developer, Data & Analytics Expert, Product Manager, Lead Designer, HR & Talent Acquisition Pro, Marketing & Sales Expert, Community Leader e Best Startup in Portugal started by a Woman. A terceira edição do prémio, lançada a 1 de julho, avança com as votações das nomeadas até final do mês. No início de agosto, a organização anuncia três finalistas por categoria e, na próxima revista Pessoas – edição de setembro – serão dadas a conhecer as vencedoras.
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