Tesouro alerta investidores que recuperação da economia portuguesa vai demorar
Na primeira apresentação a investidores desde o início da pandemia, a agência que gere a dívida nacional defende que a resiliência do país contra o vírus, mas sublinha que a recuperação vai demorar.
A economia portuguesa estava a viver “um ciclo virtuoso”, que lhe permitiu lidar com maior resiliência com o “choque global sem precedentes” que foi o início do surto de Covid-19, mas a retoma económica será demorada até porque o turismo vai precisar de ainda mais tempo que os restantes setores. A explicação é dada pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP aos investidores na dívida portuguesa na primeira apresentação que faz desde janeiro.
“A gradual reabertura da economia parece animador, mas a recuperação completa vai demorar, também dependendo da evolução da situação de saúde”, diz o IGCP. “A incerteza ainda reina. Para assegurar uma completa recuperação, a ação política tem de apoiar a recuperação pós-pandémica, sem perder de vista os desafios de longo prazo (demografia, alterações climáticas)”.
A economia portuguesa contraiu 16,3%, em termos homólogos, no segundo trimestre de 2020, no qual já foi totalmente afetada pela pandemia. Em comparação com o trimestre anterior, a quebra foi de 13,9%. Para o total do ano, a estimativa do Governo é que a recessão seja de 6,9%, antes de recuperar e crescer 4,3% em 2021. A projeção do ministério das Finanças fica entre a que a Comissão Europeia faz — que espera -6,8% este ano e 5,8% no próximo — e a do Banco de Portugal — que vê a economia a afundar 9,5% em 2020 e a subir 5,2% em 2021.
O Governo sublinha, no entanto, que o percurso da recuperação vai estar intimamente ligado ao turismo. “É provável que a recuperação seja mais lenta e mais branda no setor do turismo. O turismo desempenha um papel chave na economia portuguesa e continua a ser um dos setores mais afetados pela Covid-19. Se as viagens internacionais recuperarem e o turismo doméstico mantiver a forte contribuição, 2020 pode terminar num tom menos pessimista“, aponta o IGCP.
A gradual reabertura da economia parece animador, mas a recuperação completa vai demorar, também dependendo da evolução da situação de saúde. (…) Se as viagens internacionais recuperarem e o turismo doméstico mantiver a forte contribuição, 2020 pode terminar num tom menos pessimista.
Esta apresentação, data de 10 de setembro, é a primeira que Portugal faz aos investidores desde 10 de janeiro. Questionada em junho sobre o assunto, a presidente do IGCP Cristina Casalinho explicou que a agência esperava a publicação do Orçamento Suplementar e garantiu que o espaçamento na publicação não é específico do emitente soberano português.
Ainda assim, o interregno coincidiu com uma altura em que Portugal reforçou o financiamento em mercado para fazer face ao aumento das necessidades de financiamento geradas pelo vírus. As necessidades líquidas de financiamento do Estado foram revistas em alta para 20,3 mil milhões de euros (mais 10,7 mil milhões que previsto no Orçamento do Estado 2020), tendo já sido executados 75%.
Apesar de Portugal (tal como muitos outros países) estar a inundar o mercado com dívida, os juros pedidos pelos investidores subiram apenas temporariamente e acabaram por recuar novamente. Desde o início do ano, a taxa de juro média da nova dívida situa-se em 0,5% (o que compara com 1,1% no ano passado), de acordo com os dados divulgados pelo IGCP também no documento.
Custo para emitir dívida tem vindo a cair
Apesar de se esperar que a dívida atinja um valor recorde no próximo ano, o Ministério das Finanças antecipa que a tendência de decréscimo no peso dos juros da dívida para as contas do Estado se mantenha. Os estímulos do Banco Central Europeu (BCE) — incluindo um mega programa pandémico com 1,35 biliões de euros — têm sido determinantes para travar as yields dos países, mas o IGCP defende também que tem mérito com a estratégia após a crise da dívida.
“A sustentabilidade da dívida melhorou substancialmente com base na política orçamental prudente e ativa gestão da dívida num contexto de revitalização económica”, diz. “As condições de mercado têm melhorado substancialmente nos últimos anos, beneficiando também de desenvolvimentos positivos de rating“. Sobre o futuro, acrescenta que “a emissão de dívida é ancorada numa estratégia de financiamento abrangente, que já provou ser flexível em períodos de reforçada volatilidade”.
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