AHP mais pessimista estima perda de receita acima de 3,6 mil milhões
Estimativa da associação é de uma quebra de receita a rondar os 70% este ano, que se traduzirá num valor superior ao estimado em junho.
O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Raul Martins, estima que a perda de receitas dos hotéis em 2020 possa ser superior a 3,6 mil milhões de euros, previsão mais pessimista do que a que foi feita em junho.
Em entrevista à Lusa, Raul Martins disse que a estimativa da associação anda atualmente numa quebra de receita a rondar os 70% este ano, que se traduzirá num valor superior ao estimado a meses do início da pandemia. A queda “anda pelos 70%, há [estimativas de] outros que andam nos 60%, mas com a evolução que estamos a ter na Europa e sem turistas dos outros continentes, só vejo que possa ser pior do que isso, não tenho outra expectativa”, afirmou.
A Em 4 de junho, a presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, disse que a associação estimava perdas de receita entre os 3,2 e os 3,6 mil milhões de euros este ano, bem como menos 24,8 a 46,4 milhões de dormidas.
Agora, Raul Martins lembra que, em junho, a expectativa era de que no mês seguinte “a situação retomava”, mas que, entretanto, “houve hotéis que estavam para abrir” a partir de julho, e que “não abriram, nomeadamente nas cidades”. “A expectativa era de que em julho houvesse uma retoma […], ela não existiu e, portanto, a expectativa é a redução ou a perda de receitas no turismo ser superior a essa” que tinha sido estimada inicialmente.
Sobre a ajuda que o mercado interno deu este verão às empresas do setor que se veem privadas de turistas estrangeiros ao nível dos últimos anos, o presidente da AHP admite que o fluxo dos portugueses “a muitas [empresas] salvou”. “Salvou no sentido de que os prejuízos foram contidos ou não houve quase prejuízos. Repare, o Algarve, mais até em setembro do que em agosto — julho nesse aspeto não resultou muito –, mas em agosto já houve um crescimento razoável de turismo interno e em setembro houve, salvo erro, mais de 30% de aumento do turismo interno no Algarve”, afirmou.
“Mas não só. Todo o interior (…), [este] não teve aumento, teve foi menos redução, quer dizer se o ano passado tinham tido uma ocupação de 60% este ano tiveram 50%. É muito melhor do que aquilo que aconteceu nas cidades”, acrescentou.
Segundo o responsável, em Lisboa, por exemplo, a ocupação dos hotéis “já depois de julho” está numa média, “face à oferta, de 15% e há quem tenha menos“, disse. “Estou a dizer da oferta, não é dos hotéis que estão abertos, mas como há hotéis que estão abertos e outros estão fechados, alguns conseguem chegar ali aos 30%, mas [a média] é 15%”, explicou.
Já no Porto, Raul Martins diz que “quanto muito 25%”. “As cidades foram as que sofreram mais porque as pessoas sabem que nas cidades há mais gente. Portanto, as pessoas querem ir para as zonas rurais onde há menos gente. Veja o que aconteceu agora no Algarve: Albufeira ficou deserta porque era onde se concentravam mais pessoas. No entanto as pessoas foram para outros lados onde havia menos possibilidade de haver” mais gente.
Raul Martins acredita que “este paradigma” da hotelaria e do turismo “está a mudar”, e até já estava, “mas agora mudou mais rapidamente e não vai voltar para trás”. “Não vamos voltar ao mesmo nível de aglomerações que tínhamos. As pessoas vão querer cada vez mais ir para sítios onde estejam mais recatadas por todas as razões e mais uma: agora aprenderam que isso até será mais interessante. Agora, haverá sempre os mais novos que querem ter mais gente”, acredita.
“É natural, é humano, mas este paradigma que agora surge de procurar hotéis mais pequenos, procurar sítios com menos gente, mas que tenham atratividade” não vai mais desaparecer, sustenta. Assim, há a convicção de não se vai “voltar à estaca anterior a 2019”. “Vai haver uma alteração das preferências dos turistas. Já havia, estas coisas dos passeios, das caminhadas (…) e agora há mais uma razão”, a pandemia, conclui.
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