Galp investe 330 milhões em renováveis, mas petróleo é “determinante para a solidez”
Petrolífera desvaloriza queda em bolsa, dizendo que é uma tendência do setor. Diz ao ECO que energias renováveis, eletricidade e novos hábitos de mobilidade irão ganhar um "peso crescente" no negócio.
A Galp Energia está a acelerar o investimento em renováveis, que a empresa espera que venham a ganhar cada vez mais peso. Ainda assim, é o petróleo o negócio principal e aquele que paga a transição energética. Em declarações ao ECO, a petrolífera liderada por Carlos Gomes da Silva desvaloriza a forte queda em bolsa que tem vivido, atribuindo a tendência à pandemia.
“Não competindo à Galp comentar o desempenho das suas próprias ações, há, no entanto, fatores muito objetivos relacionados ou resultantes da pandemia Covid-19 que afetam de forma direta inúmeros setores da economia e em particular o setor energético, como sejam a redução da procura e o impacto no preço das commodities. As empresas integradas de energia de uma forma geral têm sido afetadas por esta desvalorização”, aponta fonte oficial.
A capitalização de mercado da Galp Energia caiu mais de 50% este ano, fazendo-a perder 5,35 mil milhões de euros em bolsa, sendo que as quedas acentuaram-se esta semana após a apresentação de resultados. Para justificar a ligação entre o comportamento dos investidores e a pandemia, a petrolífera lembra que o desempenho está em em linha com pares como a BP, ENI, Equinor, OMV, Repsol, Shell e Total.
Os analistas contactados pelo ECO concordam que a pressão que a Covid-19 gerou nos preços do petróleo é uma das principais razões para a queda. Mas apontam igualmente para os esforços de investimento na transição energética da empresa que se comprometeu, em 2017, a alocar anualmente entre 10% e 15% do investimento em renováveis. Este ano, o valor está a ser superior.
“As mudanças no setor energético, pela dimensão e longevidade dos investimentos, produzem-se em décadas – o que torna urgente iniciá-las. Nos primeiros nove meses deste ano, 46% do investimento total da Galp (que ascendeu a 724 milhões) foi direcionado para a área de Renováveis & Novos Negócios“, revela.
"As energias renováveis, a eletricidade e os novos hábitos de mobilidade irão ganhar um peso crescente nas atividades da Galp, mantendo-se o caráter integrado da empresa no que diz respeito às várias formas de energia necessárias para a vida das famílias e das empresas.”
Entre os investimentos da Galp Energia estão a aquisição de uma carteira de ativos solares e constituição de joint venture (que transformou a Galp no principal produtor de energia solar da Península Ibérica), o spin-off da Flow (com serviços de gestão da transformação e eletrificação de frotas empresariais e mobilidade urbana), o lançamento da EI-Energia Independente (com uma solução tecnológica avançada para a produção descentralizada de energia elétrica fotovoltaica para autoconsumo), a entrada no consórcio para o projeto de produção de Hidrogénio Verde em Sines ou o reforço da rede de carregamento elétrico.
“As iniciativas que a Galp concretizou este ano na área das energias renováveis e de novos modelos de negócio ligados à transição energética — podendo transmitir a ideia de uma aceleração — resultam, na verdade, de um trabalho de análise de cenários, de planeamento e de estratégia iniciado há vários anos de forma estruturada, assegurando a solidez da empresa para fazer face aos grandes investimentos associados a esta transformação e que foram bem visíveis nos resultados destes primeiros nove meses de 2020″, diz a Galp.
Entre janeiro e setembro, a petrolífera registou prejuízos de 45 milhões de euros, o que compara com lucros de 403 milhões no mesmo período de 2019. A capacidade instalada quase duplicou, mas o segmento ainda não dá ganhos à empresa. O EBITDA recuou 33% para 1.161 milhões de euros, com as Renováveis e Novos Negócios a contribuírem negativamente com 6 milhões de euros. O upstream (792 milhões), o segmento comercial (255 milhões) e a refinação e midstream (97 milhões) contribuíram positivamente. E, para já, a tendência não deverá mudar.
“Os projetos de produção de petróleo e gás natural da Galp, sobretudo os do pré-sal brasileiro, continuarão a contribuir de forma determinante para a solidez económica da empresa, que é fundamental para os grandes investimentos que temos pela frente na diversificação da nossa carteira de ativos e para desempenharmos o nosso papel no processo de transição energética que está em desenvolvimento”, reconhece a Galp.
A empresa explica que os ativos de produção em que a Galp participa, nomeadamente no Brasil, estão a ser adaptados a esta transformação do setor energético mundial, incluindo através da competitividade dos campos do pré-sal em termos de custos operacionais e de produtividade. “As energias renováveis, a eletricidade e os novos hábitos de mobilidade irão ganhar um peso crescente nas atividades da Galp, mantendo-se o caráter integrado da empresa no que diz respeito às várias formas de energia necessárias para a vida das famílias e das empresas”, acrescenta.
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