Vacinas são a “melhor notícia desde início da pandemia”. Mas ainda é cedo para deitar foguetes na economia
Os efeitos económicos de uma vacina contra a Covid-19, se esta realmente se provar eficaz, apenas deverão ser sentidos na segunda metade de 2021.
Numa altura em que vários países se veem a braços com uma segunda fase da pandemia, o anúncio da Pfizer de que a vacina experimental contra a Covid-19 tem uma eficácia de 95% e da Moderna de que a sua vacina provou ter uma eficácia de 94,5%, nos testes preliminares veio animar os ânimos um pouco por todo o mundo. Para os economistas, estas são boas notícias, mas é ainda cedo para mexer nas previsões económicas.
“A perspetiva de adoção de uma vacina para conter a transmissão da Covid-19 é, definitivamente, a melhor notícia do ponto de vista sanitário e para o quadro macroeconómico que tivemos desde o início da Pandemia”, diz João Lampreia, chief investment strategist no banco BiG, ao ECO.
Apesar de já terem sido anunciados outros avanços em algumas outras vacinas, como na China e Rússia, “nenhuma delas acarretou qualquer impacto do ponto de vista de credibilidade e do sentimento de mercado como aquela que observámos” após o anúncio da Pfizer e da Moderna, apontou.
Existem ainda várias “barreiras e interrogações sobre os próximos desenvolvimentos da vacina da Pfizer”, mas poderá representar um “ponto de partida para o reforço da recuperação cíclica vigente, sobretudo na segunda metade do próximo ano”, defende o economista. Desta forma, o efeito “só deverá ser notado com alguma resiliência” no segundo semestre de 2021.
[Quanto às] previsões para 2021, que recentemente passaram a estar enviesadas negativamente pelo forte aumento do número de novos casos na segunda vaga na Europa e nos EUA, este anúncio pode alterar os riscos de descendentes para ascendentes.
Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Banco Montepio (mas cujas opiniões não são vinculadas ao banco), também aponta ao ECO que, “se a vacinação em massa começar no início de 2021, espera-se que a recuperação seja mais forte do que a que se está atualmente a assumir”, nomeadamente se, com esta ou outra vacina, for possível levantar as restrições em vigor.
Ainda assim, “para já”, as previsões não serão alteradas sem se conhecer mais detalhes, “nomeadamente, os timings para a primeira vacina e a quantidade de pessoas que deverão ser vacinadas ao longo do ano”, nota. As estimativas para 2020 já “não deverão ser afetadas”, de qualquer das formas. No entanto, quanto às “previsões para 2021, que recentemente passaram a estar enviesadas negativamente pelo forte aumento do número de novos casos na segunda vaga na Europa e nos EUA, este anúncio pode alterar os riscos de descendentes para ascendentes”.
O economista-chefe do BCP, reconhece ao ECO que “dificilmente mudaria as previsões do quarto trimestre”, por causa dos anúncios das vacinas. Ainda não existem indicadores de atividade relativos a esse período e “a distribuição de uma vacina não ocorrerá no quarto trimestre, mas estes anúncios podem ter um impacto nas expectativas”, justifica José Brandão de Brito.
Apesar da vacina não evitar contágios, aumenta a confiança, o consumo privado e o investimento.
“Apesar de a vacina não evitar contágios, aumenta a confiança, o consumo privado e o investimento”, sublinha o economista, ressalvando que não há ainda ideia de “quanto valerá”.
Já para o próximo ano, José Brandão de Brito indica que já está incorporada nas previsões para 2021 “a hipótese de que a pandemia será cada vez menos relevante”. “Seja porque aprendemos a viver com ela, seja porque se descobriu uma vacina”, explica. “Por isso, a descoberta de uma vacina terá pouco impacto nas nossas previsões para 2021. Mas quanto ao quarto trimestre pode ter mais algum impacto por via do efeito da confiança“, admite, apesar de as incertezas serem “muito grandes”.
João Lampreia nota também que “as previsões económicas de 2021 e 2022 na generalidade das casas de investimento e supranacionais já contemplava um cenário base de recuperação de sensivelmente cinco pontos percentuais do PIB, tanto nos EUA como na Europa”. No melhor dos cenários, “a economia europeia poderá crescer entre 5% a 7% no próximo ano e apenas em 2022 o PIB da Zona Euro regressará, em termos nominais, a níveis idênticos aos verificados no final de 2019”, prevê.
Lá fora, as notícias sobre a vacina também foram bem recebidas. “Embora ainda não estejamos lá, a notícia de que essa vacina pode ser altamente eficaz é a melhor coisa que os mercados podem esperar”, notou Neil Wilson, analista-chefe da Markets.com, citado pela Reuters (acesso livre, conteúdo em inglês). Também Kenneth Broux, da Societe Generale, aponta que “qualquer notícia positiva sobre uma vacina é uma boa notícia para a economia mundial e oferece uma perspetiva de recuperação/normalização para o crescimento em 2021”.
Apesar do otimismo com a hipótese de uma vacina, as consequências da segunda vaga da pandemia na economia podem ainda pesar na recuperação. A presidente do Banco Central Europeu (BCE) admitiu que os avanços nos desenvolvimentos da vacina são positivos para travar a crise, mas alertou que não dá garantias de que a recuperação da economia será rápida ou linear.
“Apesar de as últimas notícias sobre a vacina parecerem encorajadoras, podemos ainda enfrentar recorrentes ciclos de aceleração da transmissão do vírus e reforço das restrições até que seja alcançada a imunidade generalizada. Por isso, a recuperação poderá não ser linear, mas sim instável, num pára-arranca dependente do desenvolvimento da vacina”, avisou Christine Lagarde. “É claro que os riscos negativos para a economia aumentaram. É agora provável que o impacto da pandemia continue a pesar na atividade económica em 2021”, acrescentou.
Em setembro, o BCE reviu em alta a projeção para o PIB da Zona Euro para -8% em 2020. No entanto, sinalizou que a recuperação poderá ser mais moderada e o reviu em baixa as estimativas para 2021 e 2022, sendo agora esperado um crescimento de 5% (menos 0,2 pontos) e 3,2 (menos 0,1 pontos), respetivamente.
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