Bancos fazem mais negócio, mas pandemia afunda lucros
Tanto os depósitos como o crédito aumentou nos primeiros nove meses. Ainda assim, a subida do negócio não trouxe mais lucros à banca. Pandemia provocou razia nos resultados dos principais bancos.
Mais negócio geralmente é sinónimo de mais lucros, mas não é isso que tem acontecido com a banca em tempos de pandemia. Apesar do aumento do crédito concedido e dos depósitos recebidos, o core da atividade bancária, o reforço de imparidades e provisões para fazer face à crise pandémica levou os lucros dos principais bancos a afundarem 97% nos primeiros nove meses do ano.
No seu conjunto, Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander Totta, BPI e Novo Banco registaram um resultado líquido agregado de apenas 25,5 milhões de euros até setembro, ainda que os prejuízos de 853 milhões do banco liderado por António Ramalho tenham “apagado” quase por completo os lucros dos rivais. Há um ano, os cinco bancos tinham contabilizado lucros de 983 milhões de euros, incluindo Novo Banco.
Agora, mesmo sem contar o desempenho do Novo Banco, que continua a braços com um duro processo de reestruturação do legado do BES, os quatro bancos registaram uma quebra agregada de 43,5% dos lucros.
Esta é uma consequência, sobretudo, do reforço das imparidades e provisões genéricas para crédito e outras eventuais responsabilidades a assumir que os bancos registaram por causa da crise pandémica. O dinheiro que os bancos puseram de lado para eventuais incumprimentos ascende a cerca de 827 milhões de euros, de acordo com as contas que publicaram estas instituições nas últimas semanas.
Isto teve reflexos na rentabilidade dos bancos portugueses, que já não era famosa. No Santander e Caixa, registaram-se descidas do ROE (retorno do capital) na ordem dos quatro pontos percentuais para 8% e 6,6%, respetivamente. O BPI viu o ROTE (rentabilidade dos capitais próprios tangíveis) cair 3,7 pontos desde o início do ano para 4,3%.
Pandemia afunda lucros
Fonte: Bancos
Caixa lidera depósitos, BCP é quem empresta mais
Sem exceção, os primeiros nove meses do ano revelaram-se um período fértil na captação de recursos junto dos clientes para os cinco bancos. Estes aumentaram quase 14 mil milhões de euros face ao mesmo período do ano passado, com muitas famílias a pouparem dinheiro em tempos de pandemia e o confinamento a restringir o consumo.
Caixa e BCP foram os bancos com maiores aumentos nos recursos de clientes (contabiliza não só os depósitos bancários, mas outros recursos fora do balanço), com subidas superiores a 8%. No agregado dos cinco bancos, o dinheiro dos clientes atingiu os 238,6 mil milhões de euros no final de setembro, mais 6,2% em termos homólogos.
O banco público continua a ser o líder do mercado neste capítulo, com os recursos totais a superarem os 70 mil milhões de euros (+5,7 mil milhões face a setembro de 2020). O BCP e o Santander fecham o pódio com recursos de 62,4 mil milhões e 43,3 mil milhões, respetivamente.
Também o crédito a clientes (bruto) aumentou, mas de forma menos expressiva: subida de 1,9% para 193,5 mil milhões de euros. Aqui, BCP, Santander e BPI registaram aumentos de 4%, aproveitando a boleia das linhas de crédito Covid-19. Por seu turno, Caixa e Novo Banco perderam terreno face à concorrência. A maior carteira de crédito pertence ao banco liderado por Miguel Maya, totalizando os 51,6 mil milhões. O banco liderado por Paulo Macedo tem concedidos 48,3 mil milhões.
BCP e BPI com metade das 424 mil moratórias
No âmbito das medidas de apoio a famílias e empresas, foram anunciados em março e abril regimes de moratórias no crédito, público e privado, que permitem uma suspensão temporária do pagamento das prestações aos bancos. A moratória pública foi estendida para 30 de setembro de 2021. As cinco principais instituições financeiras haviam concedido 424 mil moratórias, no valor de 36 mil milhões de euros, sendo que houve bancos em que o recurso a esta medida foi mais frequente do que noutros.
Banca deu 420 mil moratórias
Fonte: Bancos
Em número de operações, BCP (125 mil) e BPI (108,6 mil) concentram mais metade das moratórias do setor, no valor de 8,9 mil milhões e 6,2 mil milhões de euros, respetivamente.
Ainda assim, as 88 mil moratórias do Santander Totta tinham um valor superior aos dos dois bancos: mais de 9 mil milhões.
No banco público, o terceiro trimestre já trouxe uma inversão na tendência: 16 mil clientes que tinham pedido moratória decidiram retomar os pagamentos. Muitos destes clientes pediram moratória por uma questão de precaução e agora, perante uma perspetiva mais positiva, voltaram a pagar as prestações. Noutros casos, os clientes decidiram não prolongar a moratória privada que tinham por causa da burocracia aquando da transferência para o regime público, explicou o administrador financeiro do banco. A Caixa chegou assim a outubro com 62 mil moratórias no valor de 5,6 mil milhões.
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