Da “Segunda-feira Circular” à “Sexta-feira Verde”, conheça 7 alternativas sustentáveis à Black Friday
Além de criar uma “Sexta-feira Solidária” com o comércio local, já existem outras datas que apelam a um consumo sustentável: a "Segunda-feira Circular", "Terça-feira Generosa" e "Sexta-feira Verde".
A ideia foi lançada há poucos dias pelo presidente do Senado françês, Gérar Larcher: criar o movimento “Sexta-feira Solidária” para contrariar o consumo excessivo da tradicional “Black Friday”, mais um conceito importado dos Estados Unidos e já banalizado por toda a Europa, Portugal incluído. Criado do outro lado do Atlântico, este evento que se celebra sempre na quarta sexta-feira do mês de novembro (este ano, calha no dia 27 de novembro) é acusado de promover a compra de bens em excesso nas plataformas das grandes marcas internacionais (físicas ou online), em detrimento de um consumo mais local, sustentável e responsável, tão importante neste momento de pandemia de Covid-19.
A crise do novo coronavírus e os confinamentos que dela resultam em vários países europeus afetam gravemente esses negócios locais, forçados a fechar num período do ano normalmente muito bom para as vendas, frisou o presidente da Câmara Alta do Parlamento francês. Mas além da nova ideia de uma “Sexta-feira Solidária” para com o comércio local, já existem outras datas que tentam contrariar o consumo excessivo, como é o caso da “Segunda-feira Circular”, da “Terça-feira Generosa” e da “Sexta-feira Verde”.
Começando pelo início da semana, a “Segunda-feira Circular” é realizada todos os anos na segunda-feira antes da Black Friday. Este ano, essa data calha precisamente hoje, 23 de novembro. Desde a sua criação na Suécia, em 2017, este evento foi alargado a sete países europeus e também a Singapura, sob o mote: “Reutilizar, reciclar, alugar”. O objetivo é promover a economia circular, consumindo produtos em segunda mão, em vez da compra constante de novos produtos.
Na “Terça-feira Generosa” a ideia é fazer uma doação: de roupa, brinquedos, alimentos, sangue, tempo de voluntariado. O conceito foi criado em 2018 e celebra-se na terça-feira a seguir à Black Friday, data que corresponde ao Dia Mundial da Generosidade e Solidariedade e que este ano calha no feriado de 1 de dezembro.
Concorrente direta da Black Friday, a “Sexta-feira Verde” foi criada em 2017 e realiza-se no mesmo dia – 27 de novembro. A ideia é que os consumidores, em vez de aproveitarem os descontos massivos desta época para comprarem novos bens, alguns dos quais se calhar nem precisam, possam adotar comportamentos mais “verdes” e amigos do ambiente, tais como reparar ou dar, em vez de deitar fora, aumentar o tempo de vida dos produtos, comprar local, entre outros. Em alguns países, existe mesmo o movimento Green Friday, que conta com várias marcas e empresas associadas, as quais se comprometem a doar 10% do seu lucro a uma causa ambiental, além de desafiarem os clientes a mudarem os seus hábitos de consumo para ajudar a combater o aquecimento global e reduzir o impacto ambiental das suas compras.
Da EDP à Ikea, marcas apostam em alternativas à Black Friday
Em Portugal, e depois de em 2019 se ter estreado com a sua própria Green Friday — com descontos até 20% em eletrodomésticos eficientes –, este ano a EDP subiu a parada e oferece aos seus clientes uma semana completa: a Green Week (começou a 19 e estende-se até 26 de novembro) que promete descontos até 250 euros, não só em eletrodomésticos, como também ar condicionado, aquecimento de água, iluminação e painéis solares. Cada compra dá acesso ao plano de Eletricidade Verde e Gás Natural da EDP, permite acumular pontos no programa de fidelização Planeta Zero e está ainda a contribuir para a biodiversidade através de um donativo à Liga para a Proteção da Natureza.
Outra marca que em 2020 oferece uma alternativa mais sustentável à Black Friday é a Ikea, com a sua “Buy Back Friday”, que dá a oportunidade de vender, em vez de comprar, numa lógica de economia circular.
“Pela primeira vez, em 77 anos de história, as lojas IKEA em 27 mercados, vão comprar de volta peças de mobiliário da marca, aos seus clientes. O objetivo é dar uma segunda vida e uma nova casa a estes produtos indesejados, com pouca utilidade ou que se tornaram irrelevantes, através do seu reaproveitamento para venda em segunda mão”, diz a Ikea em comunicado. A campanha “Buy Back Friday” irá decorrer de 24 de novembro a 3 de dezembro 2020, e é uma das ações que o Grupo Ingka está a implementar para transformar o seu negócio e promover serviços circulares e de consumo sustentável.
Por cada venda, o cliente receberá um Cartão Presente Ikea a ser usado em qualquer loja no prazo de um ano da data da sua entrega. O valor de compra dependerá do tipo de artigo e do seu estado de conservação, podendo ir até 50% do preço original. Os membros Ikea Family que venderem os seus móveis IKEA, além do valor que lhes for atribuído, recebem ainda 50% adicional desse valor.
“Queremos oferecer soluções e alternativas sustentáveis para os artigos que já não precisamos. Estamos a explorar novos modelos de negócio para desenvolver ofertas comercialmente viáveis, atribuindo um ciclo de vida mais longo benéfico para os produtos, desde o momento de compra ao momento que perde relevância nas nossas casas. Mais do que uma compra por impulso de artigos de que na verdade não precisamos tanto, durante a Black Friday, queremos ajudar os clientes a dar uma segunda vida aos seus móveis e a adotar um consumo mais responsável“, refere Helena Gouveia, diretora de marketing da IkeaPortugal.
A campanha “Buy Back Friday” faz parte da estratégia do Grupo Ingka para tornar a Ikea numa empresa com um negócio circular, com impacto positivo no clima até 2030. Atualmente, 45% do total das emissões globais de dióxido de carbono vêm da forma como o mundo produz e usa os produtos do seu dia-a-dia, incluindo os produtos para a casa. Deste modo, a campanha representa uma oportunidade de abordar o consumo insustentável e o seu impacto nas alterações climáticas, no dia mais consumista do ano, diz a Ikea.
“A visão da IKEA sempre foi criar um melhor dia a dia para as pessoas, o que agora significa tornar uma vida sustentável fácil e acessível para todos. Ser circular é uma boa oportunidade de negócio, bem como uma responsabilidade, e a crise climática exige que todos nós repensemos radicalmente os nossos hábitos de consumo. Mas só conseguiremos alcançar uma economia circular com investimento e a colaboração dos nossos clientes, outras empresas, comunidades locais e governos, para que possamos minimizar resíduos, criando um ciclo de reparação, reutilização, transformação e reciclagem”, afirma Ana Barbosa, responsável de sustentabilidade da IKEA Portugal.
No ano passado, o Grupo Ingka deu uma segunda vida a 47 milhões de produtos recuperados, reembalando e revendendo produtos nas lojas IKEA.
Na mesma onda, a Ingka Centres, gestora global de centros comerciais, que, em Portugal, opera os centros
comerciais MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos, lança no final deste mês uma campanha global com o objetivo de potenciar um consumo mais consciente e responsável durante o período da Black Friday. “Love Your Stuff For Longer” — “Desfrute das suas coisas por mais tempo”, em português — é o mote da iniciativa que promove um estilo de vida mais sustentável e que será assinalado com diversas ações nos centros comerciais da Ingka Centres na Europa e na Rússia.
Em Portugal, a campanha desenvolve-se entre esta segunda-feira, 23 de novembro e 6 de dezembro, com Repair Cafés (para combater o lixo eletrónico e tecnológico) em ambos os centros e uma iniciativa de Fashion Upcycle no MAR Shopping Matosinhos.
“Ao encorajar os clientes a refletir sobre o valor a longo prazo dos produtos que adquirem na Black Friday, a Ingka Centers e os seus parceiros esperam contribuir para que os consumidores repensem o seu ciclo de consumo, comprando apenas aquilo de que realmente precisam, preservando os artigos que adquirem e prolongando a vida dos mesmos, quer através da reciclagem, quer dando-lhes uma nova vida”, disse a empresa em comunicado.
Na prática, os Repair Cafés são pontos de recolha de equipamentos com potencial de reparação, que depois serão doados a instituições e famílias carenciadas das respetivas comunidades locais. Já a iniciativa Fashion Upcycle visa fomentar a reutilização de roupa e respetiva doação a instituições de solidariedade social de Matosinhos.
Durante a campanha, mais de 60 lojas terão assinalados produtos que, por terem um ciclo de vida mais longo, consumirem menos energia, terem sido produzidos mediante métodos sustentáveis ou com matérias-primas recicladas, entre outros aspetos, constituem escolhas de consumo inteligentes, quer para a carteira, quer para o planeta.
Jenny Pigeon, diretora global de sustentabilidade da Ingka Centers, afirma: “Ao incentivar as pessoas a pensar sobre o valor a longo prazo das compras que fazem nesta Black Friday – um dia que muitas vezes é simplesmente associado a preços baixos – estamos a tentar inspirar as pessoas a adotarem estilos de vida. Acreditamos firmemente que planeta e lucro não se excluem mutuamente e que, possuindo opções de escolha sustentáveis, os clientes mais facilmente se comprometem com um consumo mais responsável.”
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