Restauração não aguenta novas restrições sem injeção de dinheiro “rápida” do Estado
O Governo apertou as medidas, sobretudo para a restauração. A associação que representa este setor e o da hotelaria alerta para as dificuldades dos empresários, que "aumentam a cada dia".
As medidas do novo confinamento vão ficar mais apertadas, sobretudo para os restaurantes. A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) alerta para os esforços destes empresários, que têm de ser maiores a cada dia que passa, mas também para as dificuldades que estes têm em aceder aos apoios do Governo. A associação diz que “a capacidade de intervenção do Governo não tem sido ágil, rápida, nem universal”.
A AHRESP tem optado por não comentar as medidas sanitárias que têm sido decretadas, por considerar que não tem competência para tal, mas afirma que “começa a ser muito difícil compreendê-las”. Em declarações ao ECO, Ana Jacinto diz-se preocupada com o “crescimento galopante da situação” e alerta para a necessidade de se “equilibrar as medidas com a economia”.
E aqui, refere a secretária-geral da AHRESP, o Estado tem falhado. “Parece que a capacidade de intervenção do Governo não tem sido ágil, rápida, nem universal para todos os empresários”, diz, justificando esta opinião com os dados mais recentes dos inquéritos que a AHRESP tem vindo a fazer. O último inquérito mostrou que cerca de 60% do setor da restauração teve quebras superiores a 60% em dezembro, 30% das empresas ponderava insolvências e que quase metade despediu trabalhadores.
Mas as consequências, nota Ana Jacinto, também se estendem ao setor do alojamento, para o qual o “cenário também não é bom”. O último inquérito concluiu que 60% das empresas de alojamento tiveram quebras superiores a 80% em dezembro, para além dos muitos encerramentos reportados.
A responsabilidade começa por cada um de nós. A culpa não é do empresário quando há pessoas à porta do estabelecimento. Mas as medidas afetam o empresário e não o consumidor. Mais uma vez o penalizado é o empresário que cumpre todas as regras.
Sobre as novas medidas anunciadas esta segunda-feira pelo Governo, nomeadamente a proibição de vendas à porta na restauração, a responsável refere que “o take-away, o delivery e as vendas a postigo são modalidades acessórias para muitas empresas”, mas que “sempre dá para ir vendendo alguma coisa”.
E, assim, apela ao bom senso dos consumidores, livrando os empresários de responsabilidades. “A responsabilidade começa por cada um de nós. A culpa não é do empresário quando há pessoas à porta do estabelecimento. Mas as medidas afetam o empresário e não o consumidor. Mais uma vez o penalizado é o empresário que cumpre todas as regras”, diz.
“Empresas não conseguem aceder aos apoios”
“Tudo isto já era muito difícil e, obviamente, com o agravamento das medidas, a situação será muito difícil”, refere a responsável da AHRESP, defendendo que, “neste novo confinamento, não é possível aguentar se não houver capacidade do Governo em injetar dinheiro nas empresas de forma simples, rápida, direta e ágil”. Algo que, diz, não tem acontecido.
“Das medidas anunciadas a 10 de dezembro — que só agora foram regulamentadas –, nem todas estão disponíveis. Apesar de algumas estarem regulamentadas, não há avisos de candidatura e as empresas não conseguem aceder aos apoios“, explica Ana Jacinto, que lamenta a “os detalhes das vírgulas e a complexidade” de acesso a estes apoios financeiros.
Cada dia que passa é mais difícil. Tememos que estas novas medidas não venham abranger a totalidade destas empresas, por culpa dos detalhes das vírgulas e da complexidade. É tudo muito complexo, demorado e difícil.
“Cada dia que passa é mais difícil. Tememos que estas novas medidas não venham abranger a totalidade destas empresas, por culpa dos detalhes das vírgulas e da complexidade. É tudo muito complexo, demorado e difícil“, diz a secretária-geral da AHRESP, sublinhando que “está a ser tudo muito complicado e que as empresas já não têm mais capacidade de se reinventarem e de subsistirem”.
E as dificuldades são ainda maiores neste novo confinamento, diz Ana Jacinto, que recusa aceitar que seja semelhante ao de março do ano passado. “No primeiro confinamento as empresas tinham um fundo de maneio, uma reserva, e vinham de um ano positivo”, diz, o que não acontece agora. “Precisamos que não haja entraves desta natureza. Sabemos que os recursos não são infindáveis, mas por isso é que temos a bazuca europeia“, nota.
Ao olhar para o futuro, Ana Jacinto não duvida de que a retoma chegará. Mas, até lá, o caminho vai ser doloroso. “Temos de garantir que há oferta quando tivermos procura. Porque acreditamos que vamos ter de novo uma grande procura. Só não sabemos quando. Mas havemos de chegar à retoma. A questão é se teremos oferta para quando essa procura chegar”, remata.
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