Job Tours quer combater discriminação de jovens migrantes e aposta em competências de empregabilidade
Criado pela TESE em parceria com a APG e a câmara municipal do Porto, e com o apoio dos prémios BPI "La Caixa" Solidário, arranca em março. Quer promover desenvolvimento de competências.
A diversidade é hoje uma realidade incontornável nas e pelas organizações. Esta diversidade pode assumir diferentes formas, destacando-se aqui a diversidade decorrente dos processos migratórios.
Os dados do Relatório Estatístico Anual 2020 produzido pelo Observatório das Migrações, e que serviram de base a este artigo, possibilitam constatar que Portugal tem assistido ao aumento do número de migrantes (+30,5% de vistos de residência em 2018).
Ao longo das últimas décadas tem-se assistido a alterações nas características sócio-demográficas da população estrangeira residente em Portugal, tendencialmente concentrando-se nos grupos etários mais jovens e em idades ativas e férteis. Trata-se de uma imigração de razões económicas/laborais assumindo um papel fundamental no nosso país, no sentido em que atenua os efeitos do envelhecimento demográfico da população portuguesa (aproximadamente 60% apresenta idades entre os 20 e 49 anos, enquanto apenas 37,1% dos portugueses se encontram nesses grupos etários) e impacta positivamente as dinâmicas laborais, sendo que sem os imigrantes alguns setores económicos certamente não sobreviveriam ou entrariam em crise.
Esta é uma reflexão essencial às empresas que, num mundo global, devem reconhecer as enormes vantagens de contar nas suas equipas com a diversidade cultural. Tal como demonstrado no relatório da McKinsey & Company (“Diversity Matters”, 2015), as empresas com diversidade cultural e étnica nas suas equipas apresentam melhor desempenho financeiro (é mais provável que 35% supere o seu desempenho).
Apesar destes contributos, os imigrantes tendem a apresentar dificuldades acrescidas na entrada e manutenção no mercado de trabalho português, que se evidenciam pelas:
- taxas de desemprego mais elevadas (12,5%) face às da população nacional (6,5%);
- ocupações profissionais mais precárias e com discrepância remuneratória (menos 5,4% que os nacionais);
- sobrequalificação face às funções desempenhadas (+7,7 pontos percentuais de trabalhadores migrantes que não usam as suas habilitações, que os trabalhadores nacionais).
Esta situação aumenta ainda a probabilidade de estes jovens se enquadrarem numa situação NEET (jovem que não está nem a trabalhar nem a estudar ou a frequentar qualquer tipo de formação) (+ 70% que os jovens nacionais) e coloca-os em maior risco de pobreza e exclusão social (+ 11,2 pontos percentuais que os nacionais).
Desta forma, temos uma situação dicotómica, por um lado, o contributo que a população estrangeira residente em Portugal pode dar ao nível da demografia e mercados de trabalho nacionais e, por outro, uma realidade marcada pela desigualdade e desafio de integração. Esta desigualdade tem início logo no acesso ao mercado de trabalho.
Além do desconhecimento da língua e das dificuldades nos processos de reconhecimento de validação de competências e formações académicas, os principais obstáculos que parecem justificar as dificuldades de integração profissional dos jovens migrantes, são:
- Desconhecimento sobre as dinâmicas do mercado de trabalho;
- Falta de acesso a medidas ativas de emprego;
- Desconhecimento sobre o funcionamento dos processos de recrutamento e seleção;
- Ausência de rede de contactos.
Assim, em nome do trabalho digno e sem discriminação e promovendo o crescimento económico, dando resposta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável previstos na Agenda 2030 das Nações Unidas, é fundamental combater as vulnerabilidades que afetam as comunidades migrantes no acesso ao mercado de trabalho.
O Job Tours, assume-se como uma resposta a este problema social, procurando promover o desenvolvimento de competências de empregabilidade junto de um grupo de 30 jovens migrantes (18-29 anos) residentes da Área Metropolitana do Porto e que estejam a estudar, à procura de emprego ou à procura de melhores oportunidades/condições profissionais.
Este projeto, promovido pela TESE em parceria com a APG e a câmara municipal do Porto, e com o apoio dos prémios BPI “La Caixa” Solidário, irá, ao longo de quatro meses (com início em março de 2021), dinamizar um conjunto de atividades, nomeadamente:
- workshops em grupo (espaços de partilha de experiências/desafios e de desenvolvimento de competências que apoiem os processos de integração socioprofissional em Portugal);
- visitas/sessões informativas e práticas com empresas/profissionais de Recursos Humanos de preparação para as diferentes etapas de procura de emprego;
- sensibilização dos profissionais de recursos humanos sobre os constrangimentos específicos vividos pelos/pelas jovens migrantes no acesso ao mercado de trabalho, contribuindo para processos de recrutamento e de integração nas empresas menos enviesados, através do desenvolvimento de um guia orientador dos processos de recrutamento, seleção e acolhimento.
Deste modo, acredita-se que os jovens migrantes poderão melhorar as suas situações perante o mercado de trabalho, proporcionando-lhes condições de maior igualdade nas suas escolhas e definição de projetos de vida.
Se é certo que a sociedade não pode fechar os olhos a esta realidade, também é certo que as empresas fazem parte da solução. A resposta passará por proporcionar oportunidades de desenvolvimento de competências de empregabilidade, nomeadamente através de programas como o caso do Job Tours. Contudo, esta é apenas uma parte. Requer igualmente o esforço e compromisso das organizações e dos profissionais de RH para prepararem os processos de recrutamento, seleção e acolhimento, que reconheçam as especificidades destes candidatos e potenciem o talento destes jovens.
*Texto escrito por Joana Guimarães (TESE, coordenadora do projeto Job Tours) e Sónia P. Gonçalves (APG, ISCSP-ULisboa), em parceria com a revista Pessoas.
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