Telecoms de olho em tecnologia que evita dependência de um fornecedor no 5G

À semelhança das pares, as operadoras portuguesas também estão de olhos postos na OpenRAN, uma tecnologia que poderá evitar a dependência de fornecedores como a Huawei, líder de mercado.

As operadoras de telecomunicações estão de olho numa tecnologia que lhes permitirá ter equipamentos de várias marcas na parte rádio das novas redes 5G, composta por elementos como as antenas, evitando deste modo a “concentração” de fornecedores como a Huawei. A tendência é internacional, mas também já reúne o interesse do setor em Portugal.

Em causa está a nova arquitetura de rede OpenRAN, que pressupõe a “abertura” dos protocolos e interfaces da parte rádio das redes. O tema tem merecido amplo interesse e atenção noutros mercados e não deverá passar ao lado do 5G português, admitem ao ECO duas das principais empresas do setor.

“A maioria das redes utiliza arquiteturas suportadas em interfaces proprietários, que favorece a adoção de soluções monolíticas e que resultou numa grande concentração do setor”, explica fonte oficial da Nos. “A adoção de OpenRAN no desenvolvimento do 5G promove a entrada de novas empresas fornecedoras de software e equipamentos no setor e aumenta a inovação”, sublinha ainda a empresa, que reconhece que esta “é uma tendência da indústria, que irá provavelmente ser adotada nas redes móveis também em Portugal”.

Por outras palavras, atualmente, é difícil para uma operadora ter mais do que um fornecedor de equipamentos para a parte rádio da sua rede móvel. Isto acontece porque alguns destes fornecedores desenvolverem sistemas fechados e proprietários, dificultando a adoção de equipamentos de marcas concorrentes uma vez incluídos numa determinada rede. Imagine, por exemplo, ter de adquirir todos os eletrodomésticos lá de casa de uma única marca. Com a OpenRAN, a realidade muda de figura.

“Atualmente, os três maiores fornecedores de equipamentos para as redes de acesso móvel [Huawei, Nokia e Ericsson] têm uma quota de mercado próxima de 80%. A arquitetura OpenRAN permitirá a entrada de novas empresas no setor, estimular a inovação e possibilitar a integração de novas funções de rede e hardware entre diferentes parceiros e facilitar a introdução de inteligência artificial nos algoritmos que otimizam a qualidade da rede”, explica a Nos.

Em alguns mercados, a OpenRAN é vista como uma possível solução para evitar a aposta exclusiva em equipamentos de fornecedores considerados “de risco”. É o caso da Huawei, a gigante chinesa das telecomunicações, “apanhada” no centro da guerra comercial entre Estados Unidos e China em 2019 e acusada pela ex-Administração Trump de ser um veículo de espionagem ao serviço da China — alegações que a empresa nega. É que, apesar de Meo, Nos e Vodafone já terem garantido que a Huawei estará fora do “núcleo” das redes 5G em Portugal, tal não se aplica à outra parte da rede, chamada “rádio” (ou RAN).

A OpenRAN “é a evolução natural das redes móveis para a virtualização das funções de rede e desagregação do software e do hardware“, refere ainda a Nos. Tal significa que, ao invés de equipamentos especificamente desenhados para o efeito, será possível correr partes das redes móveis em computadores com software, o que também pode significar uma redução nos custos.

O grupo Vodafone também assume estar interessado na OpenRAN a nível internacional, incluindo em Portugal, sendo várias vezes mencionado em artigos e notícias internacionais acerca desta temática. Desde logo, fonte oficial da Vodafone Portugal, contactada pelo ECO, recorda que a empresa assinou a 20 de janeiro um memorando de entendimento com a Deutsche Telekom, a Orange e a Telefónica para apoiar o lançamento da OpenRAN.

“A Vodafone acredita que a OpenRAN será umas tecnologia chave para as futuras redes móveis, já que a desagregação de hardware e software permitirá a um maior número de empresas contribuir para o desenho das redes e, com isso, impulsionar a inovação tecnológica, promover a concorrência e aumentar a resiliência das redes”, explica também a operadora, que detalha: “Em termos práticos, qualquer elemento da rede pode ser obtido por um fornecedor diferente, sem que isso prejudique o desempenho e o funcionamento de todo o sistema que compõe a rede”.

A arquitetura OpenRAN promete revolucionar a forma como funciona a parte rádio (antenas e outros equipamentos) das redes móveis do futuro.Pixabay

OpenRAN promete 5G mais seguro e acelera cobertura em zonas rurais

Depois, tanto a Nos como a Vodafone não escondem ver amplos benefícios na adoção da OpenRAN. Entre as características enaltecidas estão o aumento da “transparência” e o reforço da “segurança”, passando pelo acelerar da transformação digital.

Para a Nos, esta arquitetura de rede “tem a vantagem de implementar interfaces abertos, que aumentam a transparência com que é processada a informação e o operador passa a controlar o fluxo de dados, reforçando a segurança”. “Deixam de existir funções de rede fechadas, nas quais o operador não controla o processamento da informação”, explica a empresa.

Para a Vodafone Portugal, a OpenRAN será um fator “facilitador da transformação digital” e contribuirá para “a recuperação europeia, beneficiando o crescimento, fomentando emprego e impulsionando o aparecimento de novos fornecedores”.

Além disso, “uma vez que a OpenRAN tem o potencial de aumentar significativamente a resiliência do ecossistema 5G, é expectável que também seja um instrumento fundamental para fortalecer a segurança da rede”, admite ainda a operadora, apontando para as diretrizes europeias que apelam a que os Estados-membros “não dependam de um único fornecedor”.

“A OpenRAN irá facilitar a aceleração da cobertura de rede, sendo mais fácil, por exemplo, chegar com tecnologia de ponta a zonas rurais ou de baixa densidade populacional”, refere ainda a operadora.

Com o leilão do 5G em curso, Meo, Nos e Vodafone ainda estão a licitar pelas frequências que lhes permitirão lançar a quinta geração de rede de comunicações em Portugal, algo que a Anacom espera que seja possível ainda neste trimestre.

Por agora, no que à OpenRAN diz respeito, o grupo liderado por Mário Vaz tem já um alerta a fazer: “O setor tem de trabalhar com os governos nacionais e europeus, procurando garantir a existência de subsídios para a sua implementação em tempo útil, esperando-se que os governos desempenhem um papel importante na promoção e desenvolvimento deste ecossistema, financiando a implementação inicial, a realização de testes, a pesquisa e desenvolvimento, e incentivando a diversidade da cadeia de abastecimento, contribuindo para a redução de barreiras à entrada de startups e de pequenas e médias empresas”.

O ECO contactou também a Altice Portugal acerca deste tema. O grupo que detém a Meo, operadora com a maior quota de mercado em Portugal, não quis responder às questões sobre OpenRAN “nesta fase”, não tendo feito mais comentários.

(Notícia atualizada com novo título às 12h17)

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