“Capacidade de aprender”: a única skill que não fica obsoleta
Formação contínua, estabilidade emocional e confiança são competências fundamentais no mercado de trabalho do futuro.
Se uma competência aprendida hoje pode estar obsoleta daqui a três anos, aprender a aprender é cada vez mais importante. Trata-se de, além de adquirir as competências mais técnicas e específicas, aprender a assimilar e procurar matérias novas ao longo da vida. A formação é contínua e só há uma competência que é para a vida.
“Só há uma skill que nunca está obsoleta: a capacidade de aprender. Essa é que é a grande skill que nós todos temos de ter”, afirma Clara Raposo, presidente do ISEG Lisbon School of Economics and Management da Universidade de Lisboa, durante a conferência “Trabalho, esse lugar estranho”, realizada pela revista Pessoas.
“Temos de ser capazes de ensinar a capacidade de continuar a aprender, ou seja, que a base que nós damos de formação seja suficiente para que o cérebro continue a ser capaz de assimilar coisas novas que surjam e até a inventá-las”, explica.
Por outro lado, a presidente do ISEG acrescenta que “conversar sobre o que é a vida” é também fundamental. Transmitir o lado humano faz do ensino um espaço seguro em que as várias opiniões são bem-vindas e aceites, e esse tem sido o grande desafio nos últimos meses, confessa. Com a pandemia, “tornámo-nos um bocadinho menos humanos e um bocadinho mais artificiais”.
As skills tecnológicas, cada vez mais procuradas e ensinadas, foram, sem dúvida, aceleradas com a pandemia, mas Clara Raposo salienta que é preciso continuar atento e a ensinar “o que queremos que as pessoas tenham e sejam no futuro”. Para a responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack, Munique Martins, as soft skills são cada vez mais importantes no mercado de trabalho.
"O currículo não é só um currículo, é também tudo o que se constrói para além do técnico.”
“O currículo não é só um currículo, é também tudo o que se constrói para além do técnico”, refere, acrescentando que estabilidade emocional e confiança são competências fundamentais e que devem ser transmitidas desde as idades mais precoces, nas crianças.
Concorrer com o mundo. Melhorar e aprender ao longo da vida
A United Lisbon International School tem capacidade para acolher alunos desde o jardim de infância até ao 12.º ano de escolaridade. Além da formação mais técnica, privilegiam-se experiências fora da sala de aula, parcerias com outras entidades e a prática de desporto. Além disso, o teatro é um dos pilares da formação dos alunos, contribuindo para a sua confiança, autoestima e sentido de trabalho de equipa.
“Quando temos inteligência artificial [IA], machine learning e todas essas ferramentas, as soft skills do futuro são comunicação, capacidade para trabalhar em equipa… Estas competências vão ser muito mais importantes no [mercado de trabalho do] futuro”, afirma Chitra Stern, CEO da escola internacional.
O objetivo desta escola que foge ao ensino mais convencional é que os alunos sejam “mais globais em pensamento”, confiantes e conscientes do que se passa à sua volta. “Esta é a razão pela qual nos chamamos ‘United’, pois só unidos podemos resolver problemas que são globais”, justifica Chitra Stern.
Mas alunos globais têm, também, acesso ao mundo e, por isso, concorrem com candidatos de qualquer parte do planeta. Além disso, Munique Martins recorda que, neste momento, “o mercado está inundado também por pessoas que perderam os seus empregos e que são muito qualificadas”. “A competição tem sido muito maior”, diz.
"Ensinar a ouvir, a estar sossegado, a ser tolerante e por aí fora é algo que tem de começar desde pequenino e continuar ao longo da vida.”
Ensinar inteligência emocional e confiança pode ser uma tarefa difícil, sobretudo tendo em conta que não há estudantes iguais. E “ainda bem”, “o direito à diferença também tem de ser preservado na forma como nós ensinamos”, frisa Clara Raposo. “Mas isto tem de ser gerido por professores que sabem muito bem fazê-lo. É um ensinamento para quem fala e para quem ouve. E ensinar a ouvir, a estar sossegado, a ser tolerante e por aí fora é algo que tem de começar desde pequenino e continuar ao longo da vida”, acrescenta.
Das escolas para as empresas, a aprendizagem é contínua
A capacidade para uma aprendizagem contínua deve ser um trabalho a três: entre escolas, estudantes e, mais tarde, com o incentivo das empresas. Para a presidente do ISEG, o empregador deve investir nas suas pessoas, dando-lhes condições para desenvolverem certas competências.
“Nos contactos que vou tendo com os empregadores típicos dos nossos alunos, seja em Portugal ou lá fora, peço-lhes sempre para não procurarem macaquinhos perfeitos e impecáveis. Peço que estejam atentos às pessoas e não esperem o pacote completo logo à partida, porque o resto da aprendizagem ainda há de vir“, explica. Para Chitra Stern, “lifelong learning é parte da vida” e, por isso mesmo, é que a vida não é um “sprint”, mas sim uma “maratona”. Nunca é tarde para aprender, mas também nunca é cedo.
"A vida é uma maratona, não é um sprint.”
Na escola de tecnologia Ironhack, a mudança, atualização e renovação de competências são algo frequente pois, a cada ano, as tecnologias mudam. Já ser curioso e ter vontade de se atualizar faz parte daquilo que deve ser o caminho dos estudantes ao longo de todo o processo de aprendizagem. Por isso mesmo é que a escola se esforça para quebrar o paradigma de que “o professor tem de dar 100% do conhecimento”. “O professor tem de ser mais um mentor. Tem de ser a pessoa que te passa o caminho e não a pessoa que te pega na mão e te arrasta pelo caminho“, acrescenta.
Pode ver ou rever a conferência “Trabalho, esse lugar estranho” através deste link.
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