Investimento em energia eólica aumentou 70% em 2020 na Europa
A WindEurope avisa que os 43 mil milhões investidos são "muito menos do que aquilo que a Europa precisa para cumprir seus objetivos climáticos e energéticos para 2030".
Em 2020 a União Europeia investiu 43 mil milhões em novos parques eólicos, mais 70% do que em 2019 e o segundo maior valor anual registado desde sempre. Este envelope financeiro inclui os 20 GW de nova capacidade instalada que será construída nos próximos anos, mais de metade dos dos quais (13 GW) na UE, de acordo com o relatório anual da WindEurope “Wind Energy Financing and Investment Trends”, divulgado esta terça-feira.
Destes, apenas 17 mil milhões foram para a energia eólica onshore (13 GW de nova capacidade) e a maioria do investimento, de 26 mil milhões, foi para a energia eólica offshore, cobrindo 7 GW de nova capacidade. No que diz respeito à geração de energia a partir do vento no mar, foi a construção de grandes projetos que impulsionou os números offshore, incluindo parque Dogger Bank no Reino Unido, que será o maior parque eólico da Europa quando estiver concluído, e também o Hollandse Kust Zuid na Holanda.
Ainda que seja um enorme salto no investimento, a associação que promove o uso da energia eólica na Europa, sediada em Bruxelas, avisa que estes 43 mil milhões são “muito menos do que aquilo que a Europa precisa para cumprir seus objetivos climáticos e energéticos para 2030″.
“A UE precisa de gerar 27 GW de nova energia eólica por ano para cumprir sua nova meta de redução de emissões de 55%. O principal problema é a taxa de licenciamento de novos parques eólicos demasiado lenta. O dinheiro está lá, mas não estão a surgir novos projetos em número suficiente”, refere a WindEurope em comunicado.
Peninsula Ibérica pode atrair investimento até 60 mil milhões no eólico offshore até 2030
Por seu lado, um outro estudo do EIT InnoEnergy revela que a indústria eólica offshore flutuante tem o potencial de gerar na Península Ibérica um volume de negócios que poderá atingir os 5.000 milhões de euros em 2030. Mas até lá, quanto investimento terá de ser feito, pelos governos e pelo setor privado, para que a região alcance 3GW de energia eólica offshore flutuante instalada em 2030 e 22 GW em 2050? Ao Capital Verde, Javier Sanz, da área das energias renováveis da EIT InnoEnergy disse que o projeto será implementado de forma progressiva e será mais eficiente a nível de custos à medida que ganhe mais maturidade.
O investimento a ser realizado está dependente de vários fatores, como a tecnologia da plataforma flutuante, a dimensão da turbina eólica, da distância até à rede e das restrições do local. No entanto, a expectativa será de um investimento na ordem dos 40 a 60 mil milhões”, disse Sanz, acrescentando: “A nível público os Fundos Europeus de Recuperação poderão ser uma forma de ajudar a consolidar esta indústria, mas isso depende muito de cada país em particular e das suas prioridades”.
“A energia eólica continuou a ser um investimento atraente, apesar da pandemia. Dado que os mecanismos corretos de estabilização de receita estão em vigor, há muito capital disponível para financiar a energia eólica. Isso confirma que a energia eólica pode apoiar a recuperação económica da Europa pós-Covid-19. Cada nova turbina gera 10 milhões de euros de atividade económica na Europa. E a expansão da energia eólica prevista nos Planos Nacionais de Energia e Clima pode criar 150.000 novos empregos até 2030”, afirmou por seu lado Giles Dickson, CEO da WindEurope.
Reino Unido é o que mais investe em energia produzida a partir do vento
Olhando em pormenor para cada país, o Reino Unido foi responsável em 2020 pela maior fatia do investimento em energia eólica na União Europeia: 13 dos 43 mil milhões, seguindo-se a Holanda com 8 mil milhões, depois, a França (6,5 mil milhões) e a Alemanha (4,3 mil milhões). Já a Alemanha e a França foram as que mais investiram em energia eólica onshore. No entanto, a França também financiou o seu segundo e terceiro parque eólico offshore. A Turquia foi o 5º maior investidor, com 1,6 mil milhões de euros e a Polónia em 6º também com 1,6 mil milhões.
“A Europa quer mais energia eólica para cumprir os seus objetivos. A tecnologia está disponível. O dinheiro também. Mas faltam as políticas certas, principalmente quanto ao licenciamento de novos parques onde as regras e procedimentos são muito complexos. A revisão da Diretiva de Energias Renováveis da UE no pacote ‘Fit for 55’ tem de ultrapassar isso. Os governos têm de simplificar o processo de licenciamento e garantir que há pessoas para processar todos os pedidos de licença. Caso contrário, não adianta ter uma meta mais elevada de energias renováveis ”, diz Giles Dickson.
A opinião é partilhada por Javier Sanz; “A nível tecnológico ou de produção, a indústria está preparada para dar resposta. O principal desafio é desenvolver os regulamentos para esta área. Atualmente existe um grande esforço em toda a Europa para definir os Planos Espaciais Marítimos, e este é apenas o primeiro de uma série de regulamentos diferentes a serem implementados, uma vez que não existe uma tradução direta dos existentes para a indústria em terra. O Projeto WindFloat em Portugal foi um exemplo muito agradável de como um piloto pode ajudar na maturação das tecnologias, mas também no desenvolvimento paralelo do quadro legal”.
Por enquanto, revela o relatório da WindEurope, os parques eólicos continuam a ser financiados com 60-80% de dívida e 20-40% de capital. O financiamento bancário continua a ser crucial, especialmente em energia eólica offshore. Em 2020, os bancos emprestaram um valor recorde de 21 mil milhões de euros de dívida sem recurso a novos parques eólicos em 2020.
“Como uma das tecnologias renováveis mais maduras e comprovadas que podem ser entregues em larga escala, os projetos eólicos apresentam uma oportunidade extremamente atraente para os investidores. O desafio atualmente enfrentado pelo setor não está no acesso ao capital, mas no acesso a uma carteira de projetos que podem ser investidos. Os investidores estão a trabalhar para preencher essa lacuna, oferecendo soluções inovadoras de estruturação de capital que ajudam a fazer novos projetos acontecerem”, disse Edward Northam, chefe do Green Investment Group Europe.
Na Península Ibérica, diz o responsável da EIT InnoEnergy, “a profundidade do mar é uma vantagem, uma vez que o potencial eólico offshore global em águas profundas é quatro vezes maior do que as zonas de águas pouco profundas. A perspetiva de mercado é que se formos capazes de desenvolver um forte hub de indústria eólica flutuante na região ibérica, será muito mais atrativo do que o fundo fixo do vento”.
Ainda assim, neste preciso momento a energia eólica flutuante está a proporcionar um custo de energia mais elevado do que a energia eólica fixa.
Até agora, cerca de 30 tecnologias diferentes offshore foram testadas ou estão em vias de provar a sua viabilidade. Destas, oito estão a ser desenvolvidas na região ibérica, incluindo o projeto WindFloat Atlantic. O que é mais relevante é que, utilizando as tecnologias acima mencionadas, existe um pipeline de 52 projetos que representam mais de 11 GW que estão identificados e alguns deles estão a iniciar o processo de autorização, refere Sanz.
Outra tendência importante identificada pela WindEurope é o papel crescente dos Contratos de Compra de Energia Renovável (PPA) empresariais no apoio ao financiamento de parques eólicos, refere a WindEurope em comunicado, confirmando que os consumidores empresariais e industriais de energia estão cada vez mais interessados em obtê-la diretamente de parques eólicos.
O relatório dá conta que 2020 viu 24 novos PPA de energia eólica cobrir mais de 2 GW de capacidade, assinados numa variedade de setores, incluindo produtos químicos, farmacêuticos, telecomunicações e TIC. Na prática, os PPAs fornecem receitas estáveis de longo prazo para a energia eólica. Eles tornam mais fácil aumentar a dívida com juros baixos. O mesmo se aplica aos Contratos por Diferença (CfDs) que os governos oferecem cada vez mais em seus leilões de energia eólica: como mecanismos de estabilização de receita, os CfDs reduzem os custos de financiamento e, portanto, reduzem os custos totais da energia eólica.
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