A nova diretora de sustentabilidade e responsabilidade corporativa explica que a financeira aumentou a concessão de crédito em 2020. Do total, 15% está associado a elevada eficiência energética.
A instituição financeira especializada de crédito UCI está a reforçar a aposta na habitação sustentável. Depois de ter feito, no ano passado, uma operação de titularização de dívida verde, nomeou uma nova diretora de sustentabilidade e responsabilidade corporativa. A responsável da UCI Ibéria, Cátia Alves, faz um balanço positivo da adesão dos clientes em Portugal ao crédito à habitação verde, que é mesmo superior aos dos espanhóis.
Em entrevista ao ECO, Cátia Alves revela que a concessão de crédito cresceu em ano de pandemia, sendo que 15% estavam ligados a elevados níveis de eficiência energética, especialmente em Lisboa, Porto e Almada. A financeira é a primeira entidade em Portugal a ter o novo selo de eficiência energética da Federação Hipotecária Europeia, o que esperam que facilite a identificação de créditos verdes e ajude a canalizar mais capital privado para a melhoria da eficiência energética dos bens imobiliários e da construção sustentável.
A UCI realizou uma operação de titularização de dívida há cerca de um ano com objetivo de reforçar o financiamento a projetos verdes. Esse objetivo tem sido concretizado? De que forma?
A titularização green, a que demos o nome de RMBS Green Belém 1, foi um momento histórico de que muito nos orgulhamos, uma vez que foi a primeira emissão de títulos verdes em Portugal, com garantia hipotecária, que já tinha sido planeada há algum tempo, mas que conheceu etapas fundamentais no auge da pandemia.
Esta operação atingiu o montante de 392 milhões de euros e respeitou os princípios de regulamentação STS (Simple, Transparent and Standardised), contando ainda com a certificação verde de Sustainalytics. Os fundos obtidos estão sujeitos a um commitment, pelo que têm de ser aplicados no financiamento de operações de crédito habitação green, ou seja, quando estiver em causa a aquisição de casas com elevada classificação energética ou a melhoria da eficiência energética de uma casa.
O que é um passo muito importante no nosso compromisso com a descarbonização do parque habitacional a nível europeu, a melhoria da eficiência energética da habitação e um futuro mais sustentável. Foram aliás essas as razões que já nos tinham levado a ser pioneiros em Portugal na adesão à Energy Efficient Mortgages Initiative (EEMI) da European Mortgage Federation, disponibilizando soluções de crédito habitação verde a quem quer comprar casa em Portugal.
Estão a planear mais alguma operação de financiamento (semelhante ou outra) na bolsa de Lisboa?
Neste momento, não. Mas quem sabe…
A importância da etiqueta de eficiência energética prende-se com a possibilidade de reunir informação sobre carteiras de empréstimos energeticamente eficientes como ativos a serem incluídos em obrigações verdes, o que facilitará a avaliação e monitorização do seu desempenho financeiro.
Em que é que se concretiza a nova Etiqueta de Eficiência Energética e qual o impacto para a empresa e para clientes?
A UCI foi a primeira entidade financeira ibérica a aderir à Etiqueta de Eficiência Energética da European Mortgage Federation e fizemo-lo porque estamos cientes da urgência de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, num contexto em que os edifícios são responsáveis por 40% do consumo energético da UCI.
Assim, ao aderirmos à Etiqueta de Eficiência Energética da European Mortgage Federation estamos a apostar numa forma clara e transparente de garantir aos nossos clientes que quando estão a realizar uma operação de crédito habitação green connosco, essa operação é de facto verde, estando sujeita ao respeito de exigentes critérios de preservação do ambiente.
E para a empresa?
Em termos mais estratégicos, a importância da Etiqueta de Eficiência Energética prende-se com a possibilidade de reunir informação sobre carteiras de empréstimos energeticamente eficientes como ativos a serem incluídos em obrigações verdes, o que facilitará a avaliação e monitorização do seu desempenho financeiro em relação a alternativas e proporcionará maior transparência no que diz respeito aos riscos climáticos e à resiliência.
Adicionalmente, está-se a promover a identificação, intercâmbio e implementação das melhores práticas de mercado e legislativas a nível europeu e internacional, o que dará corpo à chamada Taxonomia da UE, que mais não é do que a interpretação, classificação e definição comum de atividades económicas ditas verdes.
Um dos nossos objetivos é que o cliente veja para lá dessa bonificação e perceba que adquirir imóveis com elevada eficiência energética ou estar disposto a investir na melhoria energética de um imóvel tem outras duas vantagens fundamentais.
A certificação de hipotecas verdes e soluções de financiamento sustentável vai trazer taxas bonificadas para os clientes?
O crédito habitação green tem neste momento em Portugal duas variantes. A primeira é a aquisição de imóveis com elevada eficiência energética, e nesses casos falo de compra de imóveis novos com certificação energética A+, A e B, ou nos imóveis usados com certificação energética A+ e A. A segunda diz respeito à aquisição de imóveis com classificação energética mais baixa, em que se vão realizar obras que vão resultar numa melhoria de pelo menos 30% da eficiência energética do imóvel, de acordo com os dados do certificado energético. Em ambas as situações há lugar a uma bonificação na taxa de juro.
Mas um dos nossos objetivos é que o cliente veja para lá dessa bonificação e perceba que adquirir imóveis com elevada eficiência energética, ou estar disposto a investir na melhoria energética de um imóvel, tem outras duas vantagens fundamentais: antes de mais, valorização da propriedade, porque um imóvel com esse perfil energético vale mais no mercado; mas também, a poupança nas faturas mensais de energia, que é uma mais-valia de que se beneficiará a longo prazo. Esses são os principais argumentos para os clientes aderirem ao crédito habitação green da UCI, para além de estarem a contribuir para uma redução das emissões de CO2 e a proteger o ambiente.
Como tem evoluído a concessão de crédito em Portugal de forma alargada? E o segmento ligado à sustentabilidade?
Os valores do crédito habitação concedidos em Portugal em 2020 foram bastante positivos, chegando aos 11.389 milhões de euros em 2020, o que significa que ocorreu um aumento de 7% em relação a 2019 e 16% em relação a 2018. Portanto, mensalmente, em média, foram concedidos cerca de 950 milhões de euros em novas operações de crédito habitação, o que tendo em conta a conjuntura é ainda mais digno de nota.
Falando especificamente do crédito habitação green, não há propriamente dados de mercado, e só podemos falar dos números da UCI. Nesse caso, podemos dizer que na globalidade dos imóveis que financiámos em 2020 mais de 15% tinham elevada eficiência energética (classificação energética A e B), com particular incidência em Lisboa, Porto e Almada.
Relativamente à adesão ao crédito habitação green por parte dos clientes portugueses, os valores têm sido muito bons. Estamos a falar de, em cada 10 imóveis, 1,5 ter classe energética A ou B, um valor superior ao que se regista em Espanha e que se deve muito ao perfil do parque habitacional de ambos os países.
Como se caracterizam os clientes da UCI em Portugal? São mais particulares ou empresariais? Como avalia a adesão a financiamento sustentável em comparação com outras geografias?
A UCI é especialista em crédito habitação, portanto os nossos clientes são particulares e têm perfis muito diversos, o que também reflete a diversidade da oferta que temos, que vai desde a aquisição simples, soluções de troca de casa, construção de casa e crédito habitação para não residentes, por exemplo. Um facto curioso que podemos referir relativamente 2020 é que o valor médio de crédito habitação concedido se situa perto dos 163 mil euros, e em 2019 não chegava aos 151 mil euros, o que representa um aumento de 8%.
Relativamente à adesão ao crédito habitação green por parte dos clientes portugueses, os valores têm sido muito bons. Em cada 10 imóveis, 1,5 tem classe energética A ou B, um valor superior ao que se regista em Espanha e que se deve muito ao perfil do parque habitacional de ambos os países. Em Espanha os imóveis são tendencialmente mais antigos, logo é mais difícil encontrar imóveis com elevada eficiência energética.
Olhando para o futuro, quais os planos e prioridades para a nova direção de sustentabilidade e responsabilidade corporativa? De que forma tenciona impulsionar este segmento?
A criação desta direção foi o resultado de uma preocupação crescente da UCI com questões ligadas à responsabilidade corporativa, e que se refletiu por exemplo, para além da aposta no crédito habitação green, num compromisso com 9 dos 16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Saúde de Qualidade; Igualdade de Género; Energias Renováveis e Acessíveis; Trabalho Digno e Crescimento Económico; Redução das Desigualdades; Cidades e Comunidades Sustentáveis; Produção e Consumo Sustentáveis; Ação Climática; e Justiça e Instituições Eficazes.
A grande prioridade desta nova direção é desenvolver a transformação sustentável como linha estratégica da empresa e tornar os critérios ESG (environmental, social e governance) transversais a toda a empresa. Desenvolvemos por isso a ação desta direção em três departamentos. No Green, o apoio ao negócio green e melhoria do processo de venda; na taxonomia green, o controlo e reporting a entidades supranacionais, melhoria de bases de dados em termos de integridade, informação e critérios de elegibilidade; e na responsabilidade corporativa e ESG, future finance, finance intelligence, novo contexto empresarial e crescimento sustentável e inclusivo.
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Há “bonificação” nos juros do crédito verde para a casa, diz diretora de sustentabilidade da UCI
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