Os turistas britânicos poderão permitir ao Algarve chegar aos níveis pré-pandemia, mas a hotelaria está preocupada com o resto do país, "designadamente as cidades".
Vieram de malas feitas e prontos para dar um boost no turismo algarvio. Os turistas britânicos regressaram esta semana a Portugal e o setor hoteleiro está pronto para os receber. As expectativas são elevadas e a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) admite que talvez seja possível chegar perto dos números de 2019 nesta região. Contudo, a CEO da associação, Cristina Siza Vieira, não deixa de ressalvar a “grande preocupação” quanto ao resto do país, nomeadamente os destinos cidade. “Vamos estar longíssimo dos resultados de 2019”, diz.
Qual é a situação atual do setor hoteleiro?
Tivemos um primeiro quadrimestre lamentável, com quebras de mais de 90%, sobretudo em Albufeira. Já se esperava, não há muitas novidades, nem boas notícias. É evidente que depois de um ano com os resultados que conhecemos, isto ainda agravou mais a situação das empresas e do país, dado o peso específico que o turismo tem no PIB e nos rendimentos das famílias. Houve quebras profundas nas receitas, nas dormidas, no emprego. Houve uma destruição muito grande de emprego.
As expectativas eram que o plano de vacinação, a par com o plano de desconfinamento, permitisse que chegássemos um pouco onde estamos agora. A abertura já começou no país e agora sinalizamos que estamos disponíveis para receber turistas internacionais. E temos a boa notícia de Portugal estar na “lista verde” do Reino Unido, são apenas 12 países. Isso são boas notícias e um sinal importantíssimo de esperança. Portanto, olhar para o retrovisor é lamentar tudo o que passou e olhar para a frente é perceber que podemos vir a ter um verão razoável se as coisas se mantiverem como estão.
Como estão as reservas para o verão?
Temos uma procura muito grande — como esperávamos –, que se notou assim que Portugal fez um novo despacho a suspender os constrangimentos que havia. Houve esta boa notícia de que já se estava à espera. E isso provocou um crescimento da procura e imensas reservas na hotelaria, particularmente no Algarve e na Madeira. Só teremos números concretos no início do verão, em junho, mas sabemos que alguns grandes grupos hoteleiros sinalizaram rapidamente um aumento muito grande de reservas.
Ainda assim, há uma grande preocupação quanto ao resto do território nacional, designadamente as cidades. Alguns que trabalham com o mercado interno continuam a considerar que o verão vai ser positivo, com números próximos de 2018. Mas depois falta o resto do ano.
No balanço do final do ano, contabilizando todo o território nacional, vamos estar longíssimo dos resultados de 2019. Se fizermos um zoom mais regional, se virmos a região do Algarve, provavelmente já estaremos mais perto dos números de 2019.
Referiu “números próximos de 2018”. É por aí que o verão deste ano vai ficar? Ficaremos longe de 2019?
Ficaremos muito longe dos níveis de 2019, porque temos o resto do território nacional. O turismo nas cidades é muito mais… Obviamente temos o short-break, mas o short-break é fora da época alta. E depois tem o turismo de negócios, de congressos, de feiras, etc., e isso não vai acontecer agora. No balanço do final do ano, contabilizando todo o ano e todo o território nacional vamos estar longíssimo dos resultados de 2019. Se fizermos um zoom mais regional, se virmos a região do Algarve, provavelmente já estaremos mais perto dos números de 2019, mas ainda não os atingimos porque ainda não sabemos o que se vai passar com outros mercados. Há alguma imprevisibilidade.
Quais são os mercados onde depositam mais esperanças?
Depois temos outra parte que seria muito interessante, e para a qual lutamos, digamos assim, que é o mercado americano. O mercado americano gasta mais, fica fora de época e fica em cidades também. Mas também teve quebras brutalíssimas. Seria um mercado importante, como o brasileiro. Mas não sabemos o que vai acontecer.
Portanto, como já se esperava, este verão vai ser mais de mercado intraeuropeu e dentro desse mercado, o mercado britânico é aquele que vai puxar muito pelo Turismo do Algarve, a par do mercado interno. Espero que outros se sigam e há expectativas interessantes também aí, nomeadamente para os mercados alemão, francês, espanhol e holandês. Se bem que o mercado holandês não pode voar neste momento para Portugal.
Há receios de um novo confinamento? O setor vai aguentar?
Embora possa acontecer algo inusitado relativamente à situação pandémica, a verdade é que os últimos dados de caráter mais científico mostram que, mesmo relativamente à nova variante, as vacinas protegem no que toca às consequências graves dessa variante. Aquilo que se conhece é que o grau de vacinação e a imunidade de grupo permitem prever uma muito maior tranquilidade no mundo das viagens e do turismo. Por isso não me parece que, à partida, deve ser essa a preocupação da indústria.
Qual é, então, a principal preocupação?
A preocupação é que há vários tipos de turismo, como referi, por exemplo, o turismo de negócios, que é fundamental. E esse demorará mais tempo a recuperar. A nossa convicção é que recuperará, mas não aos níveis pré-pandemia tão cedo. E esse é, de facto, um segmento muito importante para as cidades. Diria, portanto, que a principal preocupação é a recuperação de alguns fluxos e segmentos, mas também o estado em que se encontram as companhias aéreas e os apoios de que carecem.
Concretamente sobre Portugal, o ponto crítico é mesmo esse: terem os apoios suficientes para se aguentarem até haver uma recuperação do ritmo do turismo que permita atingir o breakheaven, isto é, um ponto de equilíbrio.
A nossa proposta é precisamente intensificar a vacinação na população do Algarve. É uma forma de dar uma maior tranquilidade para a população que está a ser vacinada e é seguramente uma maior tranquilidade para quem nos procura.
Uma das medidas propostas pela AHP é a vacinação da população do Algarve. Porquê?
A nossa proposta é precisamente intensificar a vacinação na população do Algarve. Consideramos que não deve haver vacinação por grupos específicos no Algarve, porque toda a população contacta com o turismo. Isto é uma forma de dar uma maior tranquilidade para a população que está a ser vacinada e é seguramente uma maior tranquilidade para quem nos procura. O objetivo é, no futuro, sermos um destino mesmo com selo de destino seguro porque temos a população vacinada.
Ainda por cima somos um país em que o índice de vacinação — particularmente no Algarve — é superior aos outros países e aos outros destinos concorrentes. Portanto, é um fator de tranquilidade para quem nos visita e para a população. A nossa convicção é que, com este impulso na vacinação, a população do Algarve — que são pouco mais de 400 mil pessoas — possa atingir rapidamente a imunidade de grupo. E foi essa a nossa proposta ao coordenador da task-force.
Já receberam alguma resposta?
Ontem recebemos uma resposta, que vem exatamente ao encontro do que defendíamos. Ou seja, mais do que vacinar grupos específicos, a população do Algarve — que ainda por cima é de uma faixa etária mais jovem –, precisamente a intenção é intensificar a vacinação no Algarve em razão da população mais jovem e de se poder atingir o maior grupo de vacinados naquela região.
“Conscientes da existência de uma estrutura etária mais jovem no Algarve, existe a intenção de iniciar o reforço da vacinação dessas faixas, acelerando, desta forma, e no curto prazo, a respetiva taxa de população vacinada“. Foi esta a resposta que recebemos e estamos todos muito contentes pelo facto de a nossa proposta ter sido atendida, porque é um alinhamento de interesses. Foi muito bem recebida e tem um triplo efeito: tranquila a população, tranquila quem nos visita e demarca-nos da concorrência perante quem nos procura.
Além disso, fizemos acordos com dois laboratórios e temos condições muito mais facilitadas para que a testagem possa ser feita em pontos de recolha, nos próprios hotéis e com marcação. Portanto, temos uma cobertura do território muito interessante no Algarve e está tudo a trabalhar para que possamos, de facto, ter um ano e um verão com um turismo muito tranquilo. Só faltam chegar turistas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Britânicos vão puxar muito pelo Algarve. Mas há uma grande preocupação quanto ao resto do país”, diz AHP
{{ noCommentsLabel }}