Portugal vai aos mercados. E vai pagar (bem) mais
IGCP espera obter mais 1.250 milhões de euros em obrigações a cinco e sete anos. E deverá pagar bem mais por este financiamento. Consequências da instabilidade no mercado secundário.
Os custos de financiamento de Portugal deverão subir consideravelmente nos dois leilões de obrigações do Tesouro a cinco e sete anos que o IGCP realiza esta quarta-feira, refletindo a turbulência que tem afetado de forma particular o mercado de dívida nacional desde o início do ano.
A agência que gere a dívida pública conta obter esta manhã até 1.250 milhões de euros em títulos a cinco e sete anos, devendo pagar juros em torno de 2,8% e 3,7%, respetivamente, em linha com as taxas praticadas em mercado secundário mas bastante acima das registadas nas últimas operações de financiamento semelhantes — realizadas há pouco mais de dois meses.
Esta será a segunda emissão de longo prazo do ano de Portugal, depois da emissão sindicada a dez anos realizada no dia 11 de janeiro em que o país pagou um juro de 4,3% — o mais elevado desde a saída da troika — para angariar três mil milhões de euros. Em 2017, o recurso do IGCP ao mercado de longo prazo situa-se entre os 14 mil milhões e os 16 mil milhões.
“É natural que possa assistir-se a um aumento das taxas exigidas pelos investidores”, refere Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial. “As yields poderão manter-se em torno do que está a fazer o mercado secundário, em torno dos 2,8% e 3,7% a cinco e a sete anos, respetivamente”, precisa a gestora.
Em 23 de novembro de 2016, o IGCP financiou-se em 700 milhões de euros em obrigações a cinco anos, tendo pago um juro de 2,1%. Ou seja, no espaço de pouco mais de dois meses, Portugal deverá ver os juros cobrados pelos investidores para absorver dívida nacional subirem 70 pontos base.
Já o último leilão de dívida a sete anos, realizado em setembro, permitiu à entidade liderada por Cristina Casalinho financiar-se em 500 milhões de euros com um juro de 2,817%. E também aqui os custos de financiamento deverão registar uma subida significativa em face da perspetiva de uma taxa de 3,7% — um agravamento de quase mais 100 pontos em cinco meses.
"É natural que possa assistir-se a um aumento das taxas exigidas pelos investidores. As yields poderão manter-se em torno do que está a fazer o mercado secundário, em torno dos 2,8% e 3,7% a cinco e a sete anos, respetivamente.”
Para Marisa Cabrita, “a subida generalizada das yields, incluindo na Europa” acontece por “via de algum contágio do aumento de taxas de juro nos EUA”. “Adicionalmente, à medida que se aproximam na Europa eventos que poderão ser acompanhados de elevado risco, nomeadamente político, o prémio de risco europeu tenderá a subir“, salienta ainda a responsável.
Os juros da dívida portuguesa registaram esta terça-feira algumas tréguas da parte dos investidores, depois da taxa associada às obrigações a dez anos, a referência no mercado, ter atingido máximos desde março de 2014 no início da semana.
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