Lesado do BES confronta defesa de Salgado. Proença de Carvalho responde
Um lesado do BES, que estava no Campus da Justiça, disse ter a confirmação do advogado do banqueiro de haver uma provisão para o dinheiro perdido pelos antigos clientes.
No momento em que os advogados de defesa de Ricardo Salgado entravam no edifício do Tribunal Criminal de Lisboa, para o inicio do julgamento do ex-banqueiro, um lesado do BES confrontou-os: “podia perguntar ao senhor Ricardo Salgado se na verdade deixou a provisão. É só a confirmação da provisão!”.
“O senhor Ricardo Salgado está a defender-se em todos os processos e também para defender os factos que demonstram que podia não haver lesados“, respondeu de forma sucinta Francisco Proença de Carvalho, um dos advogados de defesa.
Aos jornalistas, Jorge Novo mostrou-se satisfeito com as declarações do advogado: “Esta declaração agradou-me porque confirma que deixou uma provisão no BES que transitou para o Novo Banco”.
No caso de Jorge Novo, de 64 anos, estão em causa “mais de cem mil euros” de uma poupança feita ao longo da vida, contou aos jornalistas o homem de Oliveira de Azeméis que participou numa manifestação de apenas cinco pessoas, do outro lado da rua do tribunal.
Jorge Novo foi interpelado pela polícia por estar na porta principal do tribunal com uma máscara de proteção onde se lia “ROUBADO BES”. Os agentes explicaram que a manifestação era do outro lado da rua e para permanecer naquele local teria de usar uma máscara descaracterizada.
“Todos os emigrantes e lesados no papel comercial pedem responsabilidades ao Novo Banco, Banco de Portugal e ao Governo”, afirmou em declarações aos jornalistas, acrescentando que gostaria que Ricardo Salgado estivesse hoje presente para “confirmar novamente que deixou uma provisão no BES”.
O ex-banqueiro de 77 anos voltou a não comparecer no Campus da Justiça, onde pela terceira vez estava marcado o início do julgamento, em que responde por três crimes de abuso de confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros no âmbito do processo Operação Marquês.
O início do julgamento esteve previsto para 7 de junho, mas foi adiado devido ao prazo para a defesa apresentar a contestação à acusação do Ministério Público (MP), que não havia ainda terminado nessa data.
Uma semana mais tarde, no dia 14, o julgamento voltou a sofrer novo adiamento depois de o MP ter pedido prazo para analisar documentos. O procurador Vítor Pinto explicou que era “humanamente impossível” analisar toda a documentação da contestação do arguido, composta por 191 páginas e 173 documentos, e iniciar então o julgamento.
A defesa de Salgado concordou com o adiamento e fez referência à contestação apresentada e ao facto de ter alegado nulidades e irregularidades, por discordar que o julgamento, nomeadamente a audição de testemunhas, se realize sem a presença do arguido, ausência que disse estar justificada pela lei em tempo de pandemia de covid-19. Porém, o juiz já expressou um entendimento distinto.
Além da sessão desta terça-feira, o juiz Francisco Henriques já agendou sessões até finais de setembro. O antigo presidente do BES foi pronunciado pelo juiz de instrução da Operação Marquês, Ivo Rosa, por três crimes de abuso de confiança, em processo conexo e separado da Operação Marquês.
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