Vieira vendeu Imosteps ao “Rei dos frangos” por 1 euro e libertou-se de dívida de 54 milhões
Por um euro o presidente do Benfica libertou os avales pessoais e da mulher que tinha dado para uma dívida de 54 milhões de euros da Imosteps, comprada pelo Rei dos frangos a um fundo internacional.
Luís Filipe Vieira vendeu as ações da Imosteps ao amigo e empresário José António dos Santos por um euro no final do ano passado. Esta operação permitiu ao presidente do Benfica libertar os avales pessoais e da sua mulher, Vanda Vieira, que tinham sido dados sobre a dívida de 54 milhões de euros que aquela sociedade chegou a ter no Novo Banco.
A Imosteps, uma promotora imobiliária com ativos no Brasil, incluindo cemitérios, será um dos fios da investigação que levou à detenção do presidente do Benfica e do chamado “Rei dos frangos”, entre outros, na passada quarta-feira.
Em 2012, Luís Filipe Vieira assumiu a Imosteps a pedido do ex-presidente do BES Ricardo Salgado, ficando responsável por uma dívida de 54 milhões de euros que passou depois para Novo Banco e sobre a qual havia dado avales pessoais e da sua mulher, conforme explicou há dois meses na audição no Parlamento no âmbito da comissão de inquérito ao Novo Banco.
Aos deputados, o presidente do Benfica chegou mesmo a dizer que não pode ouvir falar da Imosteps. É um tema que lhe provoca “calafrios”. Confessou ainda o seu arrependimento por ter entrado neste negócio pois responsabilizou-se por uma dívida que não foi ele que criou. “Nunca devia ter feito aquilo que fiz”.
Em agosto do ano passado, esta dívida de 54 milhões de euros (já em incumprimento) foi comprada por José António dos Santos a um fundo internacional – a Davidson Kempner, que havia adquirido o crédito ao Novo Banco três meses antes na carteira Nata II — por oito milhões através do fundo Portugal Restructuring Fund, FCR, gerido pela Iberis Semper, do “Rei dos frangos”, depois de ter sido incentivado por Vieira para fazer o negócio. Mas a operação não ficou por aqui.
O presidente do Benfica pretendia mesmo livrar-se das suas responsabilidades e da mulher em relação àquela dívida. E em dezembro do ano passado vendeu as ações que tinha na Imosteps ao fundo da Iberis Semper, “no pressuposto que os respetivos ativos se encontravam livres de ónus ou encargos e por um euro, um preço que teve em atenção a circunstância do financiamento se encontrar em incumprimento, tendo, em contrapartida, a Portugal Restructuring Fund, FCR, aceite libertar os avales supra mencionados”, segundo se lê no prospeto do empréstimo obrigacionista que a SAD do Benfica tem em curso, e num ponto em se escrutina as relações e eventuais conflitos de interesse entre o presidente encarnado e aquele que é o maior acionista individual da SAD.
Após esta alienação, o Portugal Restructuring Fund, no qual o acionista José António do Santos tinha uma participação relevante, tornou-se titular da totalidade do ativo e passivo da Imosteps, sendo que Vieira ficou desonerado de qualquer responsabilidade associada à sociedade.
Segundo um relatório interno do Banco de Portugal, a Imosteps era detida a 90% por Luís Filipe Vieira, enquanto os restantes 10% estavam nas mãos do filho Tiago Vieira (5%) e de Almerindo Duarte (5%). O principal ativo da Imosteps era uma participação de 50% na sociedade brasileira OATA SGPS, com negócios de imobiliário e de cemitérios. A OATA era também detida por Almerindo Duarte (25%), Novo Banco (12,5%) e BCP (12,5%). A posição do Novo Banco foi obtida via dação da Construtora do Tâmega.
Fundo abutre faz três milhões em três meses
É conhecida a estratégia dos fundos abutres que compram o malparado à banca: adquirem os créditos com descontos elevados para depois fazerem mais-valias rapidamente. No caso da Davidson Kempner, não foi preciso esperar muito tempo para ganhar dinheiro com a Imosteps.
Este fundo adquiriu o crédito por cinco milhões ao Novo Banco em maio do ano passado, quando comprou a carteira de malparado Nata II. Rapidamente foi bater à porta de Luís Filipe Vieira e em agosto já tinha revendido a dívida por oito milhões ao Rei dos Frangos, num negócio que rendeu uma mais-valia de três milhões em… três meses.
Foi o presidente do Benfica a recomendar este negócio a José António dos Santos, como revelou no Parlamento em maio. “Apareceu aquele fundo americano a falar com o José Gouveia [diretor financeiro da Promovalor], que me contou o que se estava a passar. Quando [o fundo] fez a oferta de oito milhões, eu disse ao Zé [António dos Santos] que estava aqui um bom negócio e disse-lhe que só queria as garantias para este lado. Queria libertar os avales”, afirmou Luís Filipe Vieira.
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