Lições de um unicórnio
Às lições de rapidez e agilidade de crescimento, a Remote traz à luz aquilo que, para muitos, é apenas um período temporário de mudança. O mercado de trabalho é global e isso tem de nos fazer pensar.
É a startup com a ADN português a alcançar mais rapidamente o estatuto de unicórnio. Dois anos depois da sua fundação, em 2019, a Remote anunciou esta semana que, depois de uma ronda de 150 milhões de dólares, passa a ser avaliada em mais de 1.000 milhões de dólares, o que lhe confere o estatuto de animal mágico, lhe aumenta a atratividade — de negócio e de talento — e lhe traz cada vez mais responsabilidades.
Mas, além de um lição de rapidez, flexibilidade e de estrutura de crescimento alucinantes, a Remote traz ainda mais à luz aquilo que, para muitos, é uma consequência temporária da pandemia: o mercado de trabalho mudou, é global e não vai voltar atrás.
Primeiro, porque a equipa da Remote reflete aquilo que acontece e acontecerá, de forma natural, a muitas empresas fundadas nos últimos anos. São agora 300 pessoas, espalhada por todos os continentes do planeta, a trabalhar de forma assíncrona numa espécie de espetáculo sincronizado cuja marca principal é o respeito pela equipa como um todo, que eleva cada um dos trabalhadores e lhes permite produzir e entregar sem vigilância nem controlo, mas com responsabilidade.
A flexibilidade é apontada, em estudos sobre o tema, como uma bandeira pelas empresas e um desejo profundo dos trabalhadores. E, num cenário pós-pandémico, menos de 30% dos inquiridos dizem que voltarão totalmente às atividades pré-Covid. Um estudo do World Economic Forum, divulgado esta semana, revela que cerca de um terço dos inquiridos quer trabalhar mais a partir de casa e menos a partir do escritório. “Os restantes continuam a querer evitar os congestionamentos no trânsito, os elevadores cheios e os restaurantes em espaços fechados”, referem os autores.
Segundo, porque o negócio da Remote baseia-se na ideia de mercado global. “Estamos numa missão de fazer com que o mercado global de talento funcione para todos: negócios, trabalhadores e países”, aponta a empresa. Isto quer dizer que o modelo assenta numa lógica de facilitar a vida às empresas que queiram, a partir de qualquer parte do mundo, contratar globalmente sem que, para isso, tenham de abrir empresas em todos os países onde contratam. Traz desafios, porque simplificar processos torna outros, tantas vezes burocráticos e financeiramente dispendiosos, desnecessários. E isso põe em causa estruturas que, mais tarde ou mais cedo, terão de repensar a sua atuação. Mas também facilita e traz competitividade ao talento, ao mesmo tempo que 70% dos empregadores em todo o mundo relatam dificuldades na contratação de novos colaboradores. Este valor, o mais elevado desde 2006, evidencia os problemas de escassez de talento que o mercado de trabalho atravessa, aponta o estudo “Talent Shortage 2021”, realizado pela ManpowerGroup, que contou com a participação de mais de 40 mil empregadores a nível global, dos quais mil em Portugal.
Terceiro, porque, apesar do ADN português, a Remote é mais um unicórnio que podia estar sediado em Portugal mas que escolheu ter sede em São Francisco. E isso leva-nos, mais uma vez, a questionar as políticas de atração de talento e de empresas por cá. Chama-se competitividade, não é? É que hoje, mais do que nunca, estamos a concorrer com todos e com cada um. E teríamos de, mais do que nunca, a obrigação de garantir que, tal como a Remote, temos a equipa da casa — o melhor talento –, a jogar em casa.
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